Capítulo 32

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AMANDA

Uma vez eu li uma reportagem histórica sobre uma mãe que entrou na Guerra para salvar a vida dos filhos. Na época eu pensei que mulher burra com toda a certeza ela vai mais atrapalhar do que ajudar. E como eu estava enganada. Descobri mais tarde que a mulher em questão havia sido a grande heroína.

Poderia eu ser essa mãe?

Não posso dizer uma coisa dessa. Não na posição em que eu me encontrava agora.

Talvez eu esteja sedada com razão. Me vejo ainda em meio a muitas divagações e lembranças. Me pego desejando coisas que não posso ter. Eu não quero voltar para aquelas memórias. Aquelas memórias me trazem dor e eu não posso mais lidar com a dor. A dor me consome e me faz abrir os olhos.

Eu não gosto quando eles abrem, pois me vejo em um lugar que me trás péssimas recordações.

Hoje sinto mais o frio do que ontem e o amargo em meus lábios aumenta com o esforço de mover a minha língua. Mas não se engane eu não estava vegetando como uma vez já estive. Nada parecido com meu período difícil após o parto.
Lembro-me como eles tentaram me tirar tudo, até a memória dos meus filhos. Mas eu ainda me lembrava deles. Das risadas e do abraço caloroso.

Uma mãe nunca se sentiria cansada de seus filhos, mas as vezes cansa ser mãe. A responsabilidade de ensinar, educar, ter empatia, entender, corrigir. Essa parte é muito difícil. Muitas vezes estamos ali divididas entre o cansaço e a permanência. Você não sabe em quem se apoiar. Em que opinião você pode aderir e se você realmente está fazendo o que é certo.

Naquele momento eu pensei que estava fazendo o que era certo. Eu peguei naquela arma e eu fiz aquela escolha. Eu escolhi lutar, eu escolhi decidir o meu próprio caminho.

Algumas escolhas não são tão sábias, eu admito. Mas algumas escolhas precisam ser feitas.

Naquele dia após me sentar extasiada apenas escutando o jorrar de informação que Maluma e Bryan me jogava, eu sorri. Levantei-me do sofá sem dar um pio e deixei a sala. O telefone ainda estava jogado em um canto e na grande sala estavam os guerreiros de ouro. O grupo de resgate. A piada interna. Armados como se fossem assaltar a casa da moeda.
Decidi que valeria a pena perder minha vida se isso significasse trazer meus filhos em segurança para casa. E quando eu digo casa eu digo Brasil. Eu não estaria vivendo e nem respirando oxigênio estrangeiro em todo o resto da minha vida.

Quando eu trabalhei na casa de Maluma, havia um quadro que particularmente eu evitava em seu quarto. Isso porque eu já sabia que ali haveriam coisas que eu não aprovaria.
Como as expectativas mudam com o tempo não é mesmo?

Eu costumava esperar o melhor das pessoas, hoje eu só espero que elas não sejam piores.

Prometi a todos eles que ficaria como uma boa menina, sentada na casa totalmente protegida, esperando eles fazerem por mim o que eles mesmos causaram.

Foram eles que colocaram meus filhos em risco. E agora eles não conseguiam arrumar a bagunça.

Quando todos saíram eu fiquei trancada sendo vigiada por Enzo. E francamente ele era um cretino. Aquele tipo de irmão pervertido babaca que você quer dar um soco na cara mas respira fundo e decide por um instante que não vale a pena.

Espero que quando o pior disso tudo passe que ele também me perdoe.
Naquela noite estava frio, as janelas fechadas zumbiam pela casa de Maluma, fazendo o som da televisão do espaço aberto da escada sair abafado e com eco.

Não pensei muito sobre o que eu iria fazer e nem se iria dar certo. Encostei a porta do meu quarto e suspirei. Se aquilo desse certo não haveria volta.

O estranho de ser uma pessoa que se apega muito a fatos e coisas do passado é que tendemos a não descartar as coisas da nossa vida. Vasculhando os telefones bloqueados de um antigo chip de celular que eu tinha, encontrei o número de Balvin.

E claro que uma pessoa perfeitamente normal diria:

_Mulher tu não vai fazer essa merda vai? Não, tu não é tão palhaça assim.
Mas já não havia mais sentido e se aquela fosse a única forma de ter as minhas crianças de volta, nada iria me impedir de tentar.

Amanda:
Você está com os meus filhos?

Estive caminhando por um longo tempo naquela noite e quando foi exatamente 3:00 da manhã meu celular vibrou. Parei minha caminhada excessiva e encarei o celular jogado do outro lado.
Respirando fundo sentei-me na cama e juntei meu cabelo em um coque vazio antes de desbloquear a minha tela.

Você tem uma nova notificação em WhatsApp.

Ao entrar no aplicativo a primeira coisa que noto foi que ele realmente respondeu. Ele. Ele que vasculhou as entranhas do meu terror noturno por anos.

Balvin: [ Áudio de 3 minutos].

Minha expectativa era que alguma criança louca aparecesse me falando que era engano, que o número tinha passado para outra pessoa mas também havia a esperança de ser ele com os meus filhos.

Apertei o botão e o áudio começou a rolar, com a risada marcante de Balvin.

_Veja, veja como é engraçado - gargalhou ele - Olha quem está me chamando, hum? Você está com os meus filhos? - Balvin pronunciou imitando minha voz - A joder mamacita, as coisas não funcionam assim. Primeiro você diz, oi JB como você está? Estou tão feliz que você está vivo mi amor...

Acelerei o áudio.

_Eu vou te dizer nem que sim nem que não, talvez eu estivesse no início ou talvez eu já os tenha novamente. Veja querida as coisas já não são tão fáceis, los Hermanos não são mais tão confiáveis e inteligentes como antigamente. Broooo - gritou ele chamando alguém - As crianças pendejo! Los Tiene? Hummm... ao parecer sim, sim, simmm, os tenho. Agora diga-me mami, o que você vai fazer com isso? Parece o paraíso não anda bem com teu dueto de macho não é mesmo.

Respirando fundo, digitei:

Amanda: Quero um vídeo deles para comprovar que você não está mentindo.

Como se já estivesse esperando por isso, Balvin enviou um vídeo, onde meus filhos estavam dormindo e ele me mandava um tchau zinco sorrindo. Aquilo fez coisas estranhas acontecerem comigo, um soluço entre cortado ameaçou  sair, mas segurei firme para não atrair a atenção de Enzo.

Ali só me restou duas questões:

1- Como eu iria enganar Enzo para sair dessa casa?

2- Como eu iria enganar Balvin para sair viva com os meus filhos?

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora