Capitulo 1

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MALUMA

18 horas antes.

O frio é a única coisa que vejo é a única coisa que sinto, é a única coisa que... desejo. O rastro de terra ousa tocar o chão por onde passo conforme o vento frio trás consigo o lampejo das memórias um pouco esquecidas, de um tempo em que o homem em mim chegou a pensar que merecia ser feliz, que poderia ser feliz. Mas ao parecer, o destino sabia mais do que afastar meus sentimentos como também, meu pensamentos. Eu havia sido criado para um único propósito e minha mente não podia mais ser distraída dos deveres que sempre deveriam ter sido meus.

Consigo lembrar vagamente do cheiro da felicidade – cravo e jasmim – e também do toque suave de uma pele contra o meu corpo, cabelos macios e suaves que escondem meu rosto enquanto finjo dormir, mas já fazia tanto tempo – olho o relógio no meu punho – um tempo que eu não poderia me dar o luxo de lembrar. Repasso em minha mente os procedimentos que a Elite estava esperando, era apenas algo muito simples de se fazer, entrar, pegar informações, matar e sair. Absolutamente a vida deveria ser assim, simples, tranquila e rápida, como uma bala mortal em meu inimigo.

Já fazia alguns meses, desde que havíamos destruído Sangre Latina a Colômbia havia caído sobre um inferno de um tempo. Mães não deixavam seus filhos saírem nas ruas, um toque silencioso de recolher era passado de casa em casa fazendo com que, exatamente às nove horas da noite a maioria das pessoas já estavam em suas casas seguros, seguros? Não exatamente, ninguém estaria seguro enquanto a sede de sangue que eu sentia e a vingança amarga não estivessem marcadas nas ruas de Medellín. Eu era agora El Diablo encarnado em gente – sorrio ao ver uma velha senhora fechar suas janelas a me ver passar por sua rua, um terço de oração em suas mãos brancas, um pedido silencioso em seus lábios – eu não tinha dó  - não tinha respeito por ninguém e eu malditamente não tinha um coração.

Desde que ela se foi – você a deixou ir seu bastardo, grita um batimento descompassado em meu coração – eu não era nem se quer um ser humano. Ouço meu casaco escuro molhado pela relva fria que caia naquela cidade infernal, arrastar-se sobre o chão imundo daquela rua. Já tinha dito mais de uma vez a Diogo que eu não gostava daquele tipo de roupa, mas depois de um tempo eu havia parado de me importar com isso também, esse era meu novo eu, esse era meu novo pesadelo infinito.

O terno Armani feito sob medida me dava um ar imponente, um ar que eu absolutamente nunca desejei e que agora se fazia mais do que necessário, meu casaco escuro que chegava até minha panturrilha não era exatamente quente, mas eu tinha uma excêntrica necessidade de sentir o frio atualmente, o frio era a única coisa que eu poderia sentir, a parte da raiva e do ódio intrínseco em meu sangue. Deus – burlo-me ao abrir a porta da recepção de um motel vagabundo – Deus absolutamente era um desgraçado sem escrúpulos, ou séria eu? Por que permitir que um homem como eu seguisse a vagar em seu mundo? Um mundo sem redenção. Um homem como eu jamais seria rendido, não havia salvação para uma alma como a minha - lembro de Amanda - não  mais.

_Oi delícia – uma prostituta seminua agarra meu braço conforme caminho – Procurando uma noite de diversão baby?

Meu olhar encontra o seu e a vejo congelar ligeiramente soltando-me sem nenhuma outra palavra. Fosse pela barba que agora cobria uma boa parte do meu rosto, pelo cabelo grande penteado para trás ou por meus olhos – observo um pequeno relance de sua opacidade no espelho vagabundo do lugar – olhos sem vida, olhos tormentosos de um ódio sem fim. Ou talves pelo meu semblante já marcado pelos rostos das pessoas como aquele que trás a morte, como aquele que é a morte. El que trae la muerte, el que es la própria muerte.

_Hey hermano! Você não pode entrar aqui em cima, esse é um setor privado cara – como o destino é doce, sorrio virando para o objeto número um de meu deslocamento. Junior Santos. Filho mais novo de Santos, o maldito boliviano que eu iria mandar para fora deste país a pedaços – Droga, você.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora