Capítulo 18

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DANIELA


_O que você pensa que está fazendo? – pergunto com medo de ouvir a resposta, certamente ele estava tentando brincar com a minha mente – Maluma, esse é o meu sofá.

_E ? – sua voz provoca um intenso arrepio que parece nascer da raiz do meu cabelo e estender-se até a unha do meu dedão – Hum?

Meus olhos piscam incrédulos, seria uma miragem do deserto? Um oásis, meu senhor? Ou a visão do inferno? Pisco novamente mas ele continua ali, jogado no meu sofá, apenas de calça laranja de presidiário, sem camiseta, uma nova tatuagem em seu braço. Deveria ter um músculo em seu músculo, ou era apenas a gota de suor escorrendo por sobre seu corpo, uma armadilha para minha mente. O que ele tinha feito esse tempo na cadeia? Tomando bomba?

Maluma vira seus olhos em minha direção e parece pensar sobre algo muito importante, já era o tempo em que eu poderia ir até esse olhar, passar a mão sobre seu cabelo e perguntar, o que aconteceu? Conte para mim, estou aqui por você. Mas não, aquele tempo já havia passado, mas eu e ele continuávamos ali, tão próximos como permitia minha carteira de trabalho, tão longe quanto permitiria meu juízo.

_Para de olhar assim pra mim – resmunga ele retirando a botina da prisão – Não é como se eu quisesse passar tempo de qualidade com você.

_Oi? Você me colocou nisso aqui, o que diabos você disse para o capitão? – grito, talvez eu esteja um pouco histérica, só um pouco histérica, não, totalmente histérica.

_Eu não disse nada Daniela – afirma ele com a maior tranquilidade.

E lá se vai o Deus grego dos meus pecados mais sombrios, caminhando pela minha casa como se fosse um Rei. Infelizmente minhas pernas estão paradas na porta de entrada, incapaz de assumir o controle do meu território. Pense infeliz! Vá lá por ordem que a casa é sua.

Respiro profundamente e ameaço um passo para dentro do campo minado. Maluma morando comigo, absolutamente tinha algo errado ai. Uma trama de uma autora sem coração, alguém vá lá e diga para a ensandecida mulher que ela precisa de tratamento. O som de algo se estilhaçando em minha cozinha me faz fechar a porta correndo e ir em direção ao meu pequeno móvel. Que não seja minhas xícaras, ele sabe como eu sou com xícaras, ele não faria isso... bastardo, filho de uma puta!

_Foi sem querer – diz ele e percebo por um momento que eu realmente o xinguei oralmente – Você precisa de um armário de cozinha.

_Sai daqui Maluma! – grito apontando para a porta de saída.

_Não foi intencional...

_Fora – rosno a palavra e ele apenas dá de ombros. Ele apenas dá de ombros. Miserável!

_Miserável – balbucia ele, indo em direção a saída da cozinha. Oh, eu estava fazendo aquilo de novo, pensamento e murmurando ao mesmo tempo. Deus me defenderai! – Querida, não sou um demônio que você precisa orar para se defender.

_Chega! – grito pegando uma colher de pau – Ou você sai dessa cozinha, ou, ou...

_Ou o que Daniela? – diz ele de costas parado no marco da porta. Havia uma linha tensa no músculo de suas costas, seus ombros estavam parados e eu podia jurar que a batida de seu coração pulsava dentro da minha mente – Você arruinou tudo pra mim.

_Eu o que? Eu não fiz na...

O olhar pesado de Maluma sobre o meu, me fizeram parar no meio da frase. Eu nunca tinha visto um olhar como aquele. Em meus anos de carreira eu conheci, viúvas, mães, namoradas histéricas, bandidos, inocentes, assassinos, traficantes, manipuladores. Eu poderia reconhecer cada um apenas pela sua forma de olhar, mas eu nunca vi um olhar como aquele. Profundos olhos sombrios, tão silenciosos e frios como as profundezas de um oceano não inexplorado. Eu poderia me afogar neles, sucumbir a eles, temer a eles.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora