Capitulo 51

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AMANDA

Aquele sentimento de evasão  de pensamentos e choro reprimido era a única coisa em minha mente cansada. Tudo estava doendo, eu não conseguia mover meu pé com medo de gritar. Alguma parte em minha blusa estava molhada e o cheiro de ferro e palha estremecia meus ossos.

Cada vez o meu espaço parecia menor e mais sufocante. Cada vez mais era consciente de tudo ao meu redor. Da palha, das munições e do corpo quente de Miguel contra mim. O barulho de caixas rangendo era estremecedor. E então; luz entrou pelas frestas da palha e um peso foi sendo tirado de cima de mim. Eu quis gritar, mas minha voz não saia. Eu quis chorar, mas o choro não saia. Esse seria o estado de choque?

Enzo estava com aquela máscara medonha, desesperado ele tirou Miguel dos meus braços flácidos. Apoio-me quase sem jeito e ele me coloca em uma posição sentada enquanto eu não era nada mais que uma massa de carboidratos e nervos a flor da pele encarando a parede do caminhão. Ainda estamos em movimento, faz calor  e frio e eu não consigo distanciar meus olhos do sangue em meu pé.

Enzo se aproximou de mim receoso, como alguém que se aproxima de um cão  abandonado no meio da rua sem saber se o cão  irá morde-lo ou se iria se jogar ao seu encontro. Instintivamente eu recuaria de qualquer toque - relembro-me de Bryan - mas estou muito paralisada para ter uma reação  agora. Sinto como se ao menor sinal eu fosse desfalecer e sumir no vento.

Só  percebo o momento em que meu maxilar esta travado quando ele retira da minha boca um cartucho de munição. Quando eu havia feito aquilo? Eu não conseguia me mexer. Reconheço que estou respondendo coisas incoerentes e posso sentir a irritação  emanando daquele homem.

O que estou dizendo? Sou tão  irracional quanto me sinto? Quando Enzo parece decidir se me afaga ou se sacode o mundo ao redor de mim vejo-o amarrar o melhor que pode meus ferimentos, ainda assim eu sentia, eu conseguia sentir a bala se mexendo em algum lugar no meu abdômen. Eu iria morrer. Era um fato. Ou, eu gostaria de morrer? Não sei, será  que eu podia se quer suportar mais alguma coisa nesse momento? Eu não saberia, seria tão mais fácil... desistir.

Uma bomba - meu cérebro  foca por um momento - eu podia ajudar com isso?

Fico presa em várias  imagens mentais de coisas explodindo em desenhos animados quando me fixo por um momento no toque de mãos  masculinas ao meu redor. Enzo. Um momento após  o clique  mental, sou arremessada junto a Miguel de um caminhão em movimento.

Se eu estivesse  sã poderia tê-lo xingado.

Senti os arranhões em minha pele antes de conseguir enxergar ao longe Enzo ficar pendurado entre uma porta e outra, ele ia colocar fogo naquela coisa? Um suspiro preso sai por entro meus lábios e sinto a dor vinda dos meus dentes. Encaro o céu azul enquanto  a  explosão jogava fagulhas para todos os lados. Como mil fogos de artifícios, foi bonito  de uma forma horrorosa.

Eu precisava tanto dormir. O sono é  pesado e frio. Tanto frio. Como pode haver tanta paz em tanto sofrimento? É  palpável e aquecedor. É  infinitamente tranquilizante como respirar em meio a um oásis. Seria tão mais fácil desistir...

_Amanda? - escuto Enzo se aproximar de mim e sua mão acaricia meu rosto lentamente - Como você esta?

Abro a boca e fecho ao mesmo instante. Como eu estou? Quebrada, em frangalhos, desestruturada, cansada... eu não sabia.

_Droga - ele resmunga verificando novamente meus sangramentos - Por favor me diga que você não está ficando inconsciente, porra. Amanda!

Claro que não, eu ainda não na minha mente. Era tão  fácil se perder aqui, seria por que é  bem mais confortável o coma que a realidade? Eu já tinha ido para esse canto uma vez era irresistível  não permanecer aqui.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora