Capítulo 48

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AMANDA

_Esta acordada?

Deixo a voz de Enzo entrar na minha mente cansada aos poucos. É como um eco que chega aos meus ouvidos e fazem tremer as pestanas dos meus olhos. Tenho medo de abrir os olhos e tenho medo de ficar na completa escuridão. Eu não sabia mais qual eram as noites em que eu dormia e em quais eu me mantinha em estado de alerta. Minha mente não desligava como um eterno cronômetro contando os segundos. Seria novamente um pesadelo em que eu não conseguiria me livrar por infindáveis dias?

Com minha cara esmagada no travesseiro só conseguia discernir que a luz fraca já entrava pelas persianas. A casa estaria acordando aos poucos, com os empregados - vestidos como moradores de rua cheios de terra - andando pelos corredores e os guardas - com as suas armas grandes carregadas de bala, com seus rostos cobertos com máscara de jogo - trocando o plantão com a próxima "equipe", se é que eles eram assim tão organizados.

_Vamos mamãe em apuros não temos muito tempo, capisque? Será que você morreu? - ele parece ansioso enquanto seu pé fica batendo sem parar no chão.

_Ainda não... posso. - desistir de tudo era o que eu mais queria, mas quem além de mim cuidaria dos meus filhos? - Cadê o... outro?

_Privada mom - mesmo sem vê-lo, consigo notar pela voz que ele está sorrindo, o que ele tinha feito agora? - Se prepare e tente ir dormir o mais cedo possível nesse inferno, será essa noite.

_Estarei pronta.

Mas dormir? Não estava vendo isso acontecendo.

Sinto os pequenos braços de Miguel me envolvendo e sua respiração compassada e suave me acalmava um pouco. Ouço o exato momento em que a porta abre e o outro guarda se junta a Enzo.

Miguel me segura forte e tira o cabelo do meu rosto, abro meus olhos e o encontro olhando pra mim, um meio sorriso em seus lábios. Ele é a cara do pai dele. Sua testa está com um pequeno corte, onde ele disse que havia caído ao correr pelos corredores da casa recentemente mas, algo em mim me diz que não parece ser inteiramente verdade.

Sei que cada um de nós está passando por uma luta diferente. Eu, Miguel, Isabella, Maluma e tantos outros, cada um com seu desafio diário e eu só não sei se é certo, não querer saber do problema dos outros, mesmo sendo dos meus próprios filhos. O sentimento de culpa me deixa nauseada e trás lágrimas aos meus olhos. Eu só não sei se posso lidar mais do que já estou lidando.

Eu só não aguento mais isso. Tanto é que, se me pego sozinha nesse inferno que estou vivendo penso mais de uma vez se tudo não se resolveria se eu não estivesse mais aqui. Sinto que é errado, mas eu estou tão cansada. Sei que é só um momento de fraqueza, mas eu estou por um fio de romper. E o medo do que eu encontraria do outro lado se eu rompesse é algo que me obrigada a manter minha sanidade acima de todos os meus medos.

_Já deu certo mamãe - Miguel sorri, me ajudando a levantar - estou aqui com você.

Minha mente estava ficando a cada dia mais perturbada. Eu desconfiava de tudo, da minha comida, do sono, da minha fragilidade ao tomar banho. Sentia que a todo e qualquer momento tinham olhos me vigiando, escutando tudo o que eu falava, lendo até meus próprios pensamentos.

_Certo - suspiro segurando a mão de Miguel - Café da manhã.

Sabe aquele dia em que você quer que as coisas fluam rapidamente e ele não passa? É hoje.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora