Prólogo

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AMANDA

Meu novo apartamento – que não podia ser chamado de apartamento – era minúsculo assim como eu. Em meu quarto só coube minha cama e guarda roupa de solteira, a cozinha era de um metro de largura por dois de comprimento, quase – quase mesmo – não consegui colocar um fogão e geladeira. O banheiro, como eu poderia descrever? Utilizável era uma boa palavra. Uma privada, uma pia, chuveiro e um espelho minúsculo na parede.

Com um único suspiro pude englobar todas as divagações que eu ando tendo desde "a mensagem". Como eu ia criar um bebe naquele lugar? Sento em minha cama um pouco passada - um pacote de batatas chip's está aberto a meu lado - mas desde que nada para em meu estomago a quatro horas, eu havia meio que desistido de fazê-las descer ao meu estomago.

_Você está comendo demais – reclamo com o bebe – Eu não posso continuar a comer coisas que você quer e joga-las na privada, a mamãe não é rica.

A mamãe. Realmente ser mãe já estava bem para mim de certa maneira. Eu podia lidar com aquilo.

Era assustador imaginar que em quatro meses eu estaria pondo um anjinho – ou capeta se puxar ao pai, sussurra meu cérebro – no mundo. "Chego em doze horas" quase posso ouvir sua voz dizer as palavras. Ele poderia até chegar ao Brasil – decido-me – mas era bem difícil achar o lugar a onde eu estava.

Agora eu estava em uma universidade federal, meu sufoco – como eu chamava atualmente o lugar – ficava uma quadra do campus e em cima de uma padaria.

Olho para meus pés inchados e movo meus dedos devagar, minhas sapatilhas estavam deixando-me maluca. Eu precisava economizar e comprar um par de tênis, urgente.

_Ou a mamãe vai terminar por ter pés de elefante – ouço um barulho em meu estomago e corro para o banheiro jogando na privada a terceira tentativa de comer batata chip's.

Dou descarga sentindo o chão frio congelar minha bunda. Por um momento encaro uma barata gigante no teto e tento não demonstrar que estou com medo dela. Em que lugar eu havia me enfiado?

Batidas aparecem em minha porta e meu coração para de bater por um momento. A sensação era aterrorizante, deixo minha mente chegar à porta enquanto meu corpo se levanta devagar do chão do banheiro. Eu já tinha me acostumado a sentir um pouco de tontura após vomitar.

Mas  essa falta de ar consumindo meus pulmões é uma novidade.

_Esta tudo bem – sussurro para mim mesma mais do que para o bebe – Não pode ser Ma... ele.

Nas ultimas semanas "Maluma" estava quase como o bruxo maquiavélico de Harry Potter, "aquele que não pode ser nombrado". Paro de frente com a porta na cozinha e ouço a batida mais insistente. Seguro minha mão na maçaneta da porta e respiro profundamente antes de gira-la de olhos fechados.

O silêncio embargador faz-me abrir os olhos após um largo segundo e então eu o vejo e a dor, a dor é forte demais para impedir que às lágrimas não caiam. Às lágrimas escorrem por minha face enquanto encaro o homem na porta que levou minha vida perfeitamente organizada e tranquila à uma tempestade sem fim.

_Precisamos conversar – diz Maluma sério ao encarar-me.

_Não temos nada que dizer – identifico um rancor em minha voz que nunca escutei antes. Tamanha amargura me surpreendeu e deixou-me ainda mais enjoada.

Deixando-o parado na porta corro para o banheiro com a mão segurando minha boca, o jato de vomito quente quase não  me esperou chegar na privada, estou assustada e nauseada, eu estou com medo. Escuto o exato momento em que a porta na cozinha se fecha. Passos firmes vêm em minha direção e me vejo sentada no chão dando descarga na privada a encarar um Maluma de olhar frio que eu não conhecia mais.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora