Capítulo 12

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AMANDA


O ar entra lentamente em meus pulmões e por mais que eu tente inspirar rapidamente meu corpo não da conta de manter o oxigênio dentro e saindo de meu peito de forma constante e uniforme. Algumas lágrimas estão escorrendo em minha face e não sei exatamente por qual motivo eu estou chorando, ou por qual motivo eu deveria não chorar, as emoções que me percorrem eram tantas, que eu não saberia enumera-las mesmo que eu quisesse.

O grito de uma mulher parece tão distante. Eu queria dizer "calma não estou ficando inconsciente, eu sou forte vai com tudo e arranca esse bebê de mim". Mas meu corpo não reagia exatamente como eu queria, cada movimento era pesado demais, difícil demais, era mais fácil eu tornar-me refém de minha própria mente. Estou com medo, isso sim eu poderia dizer, nunca estive com tanto medo em minha vida. Maluma deveria estar comigo, ele deveria estar aqui, ele não podia ter me deixado sozinha. Uma parte racional em minha mente dizia que ele não estava aqui porque foi impedido por policiais, mas a outra. A sim. A outra parte já o culpava. Ninguém é martirizado de graça. Pisco os olhos novamente e encaro a janela da sala de cirurgia, há um homem ali. Quem era aquele homem?

Tenho tanto medo que tento ao máximo não imaginar o que está acontecendo do outro lado da cortina azul. O fato de não sentir nada da barriga para baixo era assustador e estava deixando-me um pouco maluca, mas a pequena parte da minha mente quer acreditar que o processo será rápido.

Aquilo estava acontecendo muito cedo, mais cedo do que eu esperava. Cesariana. Eu gostaria de engolir em seco se eu apenas pudesse controlar minha garganta que está muito dolorida e deve ser pelo fato deu estar gritando, uma e outra vez, coisas irracionais.

Alguém diz "A pressão dela está caindo" e aquilo até poderia ser verdade, já que o teto branco que me pus a encarar parece um pouco embaçado e esta perdendo o foco devagar. A luz forte sobre meus olhos me dá um pouco de vertigem o que só aumenta minha sensação de estar sendo aberta. Não havia dor, não havia nada do que uma cortina azul em minha frente se eu abaixasse os olhos, se eu apenas abaixasse os olhos eu veria a cortina, a cortina azul.

Sinto o exato momento em que minha garganta trava quando um respirador é posto em minha boca. Ar é forçado para meus pulmões e perco a consciência por alguns minutos. Meu peito está exposto e queima violentamente, há um médico com um desfibrilador cardíaco em mãos e ele parece aliviado de ver meus olhos abertos.

O médico aproxima uma lanterna em direção a meus olhos forçando-me a fechá-los com força. Aquilo me causou dor. Eu quero realmente dizer "Estou bem, tire a luz dos meus olhos", mas os batimentos cardíacos e o alto som do monitor ao lado está deixando-me ensurdecida.

Minha mente é um turbilhão de imagens chocando-se uma e outra vez, focos de Maluma sendo retirado a força do hospital, mulheres retirando minha roupa as pressas e me colocando uma camisola hospitalar, muito água está saindo por minhas pernas encharcando a maca, um médico gritando algo sobre "salvar a mãe ou o bebê" e eu obviamente chutando sua costela desde que essa foi minha ultima ação até o tranquilizante. O médico da lanterna não se parecia com o médico alvo de meu chute, mas minha mente estava tão confusa.

Forço minha coluna para encarar a cortina azul e fecho minhas mãos no lençol da maca em uma tentativa desesperada de controlar meus movimentos. Era como se eu tivesse me embriagado até um quase "coma alcoólico". O que estava acontecendo ali?

_Ela está tentando levantar Simone, segura ela – grita o médico e não demora muito para Simone segurar meu corpo contra a maca e não tenho mais força para lutar contra Simone ou qualquer pessoa, eu estava desistindo e era a pior sensação para se ter.

O choro que cortou a sala encheu meus olhos instantaneamente de lágrimas. Um choro. Apenas um choro fez-me perder o ar. O alivio que corta por meu corpo trás uma paz assombrosa, que parecia ser mentira. Um choro. O desespero me abate por um momento e eu não consigo entender qual parte parece errada nessa equação. Um choro.

Com a mão trêmula consigo afastar a máscara de meu rosto e esforço-me para segurar o jaleco de Simone.

_Um... choro – esforço-me para dizer as palavras.

_Por favor, acalme-se não retire a máscara de oxigênio – diz Simone ao tentar me colocar a máscara de oxigênio. Movo meu rosto em uma tentativa de manter meu foco.

_Um choro – esforço-me em dizer as palavras.

Minha cabeça cai em ângulo torto no travesseiro e sinto um peso leve ser posto sobre meu peito. Um corpo minúsculo está muito próximo ao meu, uma pequenina mão bate sem querer em minha mascara de oxigênio. Com muito esforço consigo levantar minha mão para segurar a sua. Seus pequeninos olhos me encaram e meu coração enche-se de esperança.

Meu olhar é desviado para um movimento brusco a distância, um bebê aparentemente roxo está sendo chacoalhado por um enfermeiro.

_Simone! – grita o médico tampando minha vista do outro bebê.

Do outro bebê.

_Meu... Bebê – murmuro entre lágrimas, não reconhecendo minha própria voz.

Simone retira meu bebê de meu peito e vejo meus bebês saírem da sala por caminhos separados. Um sendo carregado por uma enfermeira, enrolado em uma mantinha. O outro, em uma pequena  maca acompanhado de três profissionais, um com máscara de oxigênio, outro fazendo massagem cardíaca e outro empurrando o carrinho.

_Não – tento falar.

Estou sozinha.

Estou vazia.

Estou morrendo.

Meus bebês!

_Hiperventilação – grita Simone ao retornar forçando o ar em meus pulmões.

Meu bebê, era meu bebê, roxo sendo encubado, ele estava morrendo.

_Paciente está entrando em parada cardíaca!

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora