Capítulo 4

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MALUMA


A vida deveria ser privilegiada, viver deveria significar mais que um amanhecer e um entardecer escuro, mais do que lutar e permanecer de pé, mais do tentar seguir adiante quando o passado ainda não se saiu inteiramente com o seu. Os dias passaram rápidos com Amanda em minha casa e lentamente as coisas começaram a mudar.

Um vaso de flores na entrada, uma toalha colorida na mesa, um tapete no corredor e agora – encaro meu closet mais uma vez – gravatas coloridas em vez da escala preta e cinza em que eu vivia. Suspirando caminho novamente pelo mesmo corredor, eu já havia caminhado por ele muitas vezes, mas naquele dia, o sentimento era verdadeiramente diferente. Como se estivesse preso e enfeitiçado, segui a voz pelo labirinto de paredes e me vi parado na porta do quarto de Amanda.

Teimosa – minha mente ainda estava levemente irritado com ela – após varias tentativas – nenhuma por minha parte – Amanda tinha saído da suíte que eu tinha separado para ela, para pegar um minúsculo quarto próximo da cozinha, um quarto de empregada. O que ela queria provar com isso? Eu apenas queria saber.

_That you are not alone, I am here with you, Though you're far away, I am here to stay - a voz de Amanda começou a penetrar lentamente dentro de minha alma, encostei-me a parede sentindo o peso sobre meus ombros e mais uma vez fui obrigado a encarar meus pés e enxergar o caminho que escolhi, um caminho sem ela – You are not alone, I am here with you, Though we're far apart, You're always in my heart, You are not alone...

Você não está sozinho, eu estou aqui com você, mesmo que você esteja longe, eu vim para ficar. Você não está sozinho, eu estou aqui com você, mesmo nós estando separados, você está sempre no meu coração, você não está sozinho.

Impulsionado por suas palavras abri sua porta e fiquei parado estático observando a cena em minha frente. Bryan estava sem camisa deitado em sua cama, enquanto ela – a cena torna-se lenta como em um filme ruim em minha cabeça, difícil de lembrar, difícil de repassar – acariciava seu cabelo e cantarolava para ele dormir, há lágrimas em seus olhos e fiquei cegado pela raiva.

Quando sua voz para e seus olhos foram atraídos para os meus, senti a raiva dissipar por um mero momento ao ver como seus lábios tremiam, milhares de motivos foram á minha cabeça mas nenhum deles tinha percebido o sangue no pescoço de Bryan, não até que ela disse as palavras "Fomos atacados". Tudo tornou-se vermelho, as vozes se calaram e eu não sabia mais o que estava fazendo, mas a ânsia, a opressão. Chaves soaram. Uma porta se fechou. Um motor roncou. E eu estava perdido para o mundo.

Naquele dia, o mundo perdeu algumas almas, eu estava imparável, manchado, sedento. Alguém tinha levantado a mão para minha família e ninguém iria sair impune da situação. Busquei nomes no menor entre eles, ladrões, traficantes imundos, bêbados cujo as almas fediam. Ainda estaria parado com as mãos sangrando se o celular não houvesse tocado. Amanda. Meus dedos grudam na tela deixando-a borrada de vermelho.

_Você está desparecido há 36 horas! – grita ela, sua voz um misto de raiva e tristeza – Estou... estão preocupados com você!

_Se tomaram o tempo para se preocuparem comigo, são idiotas – murmuro sem vida, meus olhos focados no último homem que sucumbiu por minhas mãos.

_Onde você está? – grita ela a plenos pulmões – Por quê? Por que?...

Sua voz se perde entre soluços e os fantasmas afastam-se um pouco aprofundando a consciência – a consciência é um fardo, concordo mentalmente – ouço algo cair o que altera a batida do meu coração.

_O que aconteceu? – pergunto em meio ao caos que se instala em minha mente.

_Estou... com...medo – sussurra ela e posso praticamente vê-la, sentada em sua cama, embrulhada em uma bola, com as janelas fechadas, choramingando no telefone.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora