14. Concessões

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Hermione acordou com a sensação formigante de estar sendo observada, e levantou a cabeça para ver o mestre de Poções pairando sobre ela, onde ela havia dormido em uma de suas poltronas.

— Pensei ter dito para você ir embora — disse ele em voz baixa. A imagem dele parado sobre ela era um pouco menos intimidante do que o normal, pois ele vestia apenas uma camisa – preta, desta vez – e calças, que estavam amarrotadas como se ele tivesse dormido com elas. Olhando mais de perto, Hermione pensou que ele provavelmente tinha dormido com eles, a sujeira nos joelhos indicando que eram os mesmos que ele usava na noite anterior.

— Eu... você está bem, senhor?

— Não tente mudar de assunto, Srta. Granger — ele cuspiu. — Por que você ainda está aqui?

— Achei que alguém deveria estar por perto caso você tivesse algum efeito colateral recorrente da poção. — Era a verdade, mas obviamente não era o que Snape queria ouvir.

— Você achou — ele zombou. — E suponho que não importava o que eu pensava ou o que eu queria, já que estes são meus aposentos.

Ele se virou e foi até as janelas, olhando para a paisagem envolta em branco. Hermione levantou-se da cadeira rigidamente, seus músculos protestando por ter ficado com cãibras a noite toda. Ela notou que a máscara não estava mais na lareira. Ele deve ter guardado antes que ela acordasse.

Importa o que você quer — disse ela, caminhando para ficar ao lado dele. Ele bufou. — Mas você não estava... em seu perfeito juízo ontem à noite.

— Eu era perfeitamente capaz de cuidar de mim mesmo — ele retrucou. — Sua intrusão foi inadequada e indesejada, e se eu estivesse em meu juízo perfeito, você teria saído daqui mais rápido do que uma Firebolt.

Hermione deu um passo para trás, magoada... mas então ela se lembrou das palavras de Dumbledore, e viu que Snape estava fazendo exatamente o que o Diretor havia imaginado: afastando-a.

Ela observou seu perfil, notando as olheiras sob seus olhos e a forma como sua mandíbula estava definida enquanto ele revivia os acontecimentos da noite anterior em sua mente. Como ela poderia chegar até ele quando ele continuava se fechando assim? Tentar falar com ele não ajudou, e compaixão foi confundida com pena, e ele não aceitaria nenhuma das duas. Ela suspirou. Talvez ela estivesse se esforçando demais... ou não estava se esforçando o suficiente? Talvez ela ainda não o tivesse convencido de sua sinceridade.

Sem dizer nada, ela colocou a mão levemente no antebraço dele, cruzado sobre o peito, sentindo o calor de sua pele através do tecido macio de sua camisa.

Ele se afastou como se o toque dela o tivesse queimado, sibilando: — Não presuma tanta familiaridade comigo, Srta. Granger. Você ultrapassou seus limites.

— Oh, besteira — ela zombou. — Que limites? Você mesmo disse: isto é uma guerra; regras normais não se aplicam.

— A guerra não está nestas salas — ele fervia de raiva. — Eu ainda sou seu professor e você é minha aluna. Você faria bem em lembrar que isso é tudo que existe entre nós.

— Não seja ridículo — ela respondeu, imaginando vagamente quantos pontos na Casa a Grifinória poderia se dar ao luxo de perder. — Independentemente de quem ou o que nos trouxe a esta situação, estamos juntos nisso e não estou disposta a desistir.

— Não há nada do que desistir, Srta. Granger — ele respondeu, sua voz ficando mais alta. — Nada disso é da sua conta, nada disso. Você não tem o direito de estar aqui.

— Que se danem os direitos! — ela gritou.

— Dumbledore já fez isso quando lhe contou minha maldita história de vida! — ele gritou de volta, seu rosto se contorcendo de raiva antes de reprimi-lo novamente, escondendo toda emoção por trás de uma mandíbula firmemente cerrada.

Before the Dawn | SevmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora