23 - Capacidade

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   Perdoem-me pela demora, amores, para variar...
Boa leitura pra vocês <3
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    O dia de aula estava lento e entediante, fazendo-me quase cochilar na aula de Mario Nam, que nos ensinava algo sobre a estrutura do músculo ao invés de deixar-nos ir para o pátio. Com o cotovelo apoiado sobre a mesa e a cabeça sobre a mão, observei o quadro negro com a melhor feição de tédio que eu poderia ter, sem nem ao menos perceber. Um bocejo sonolento escapou por meus lábios e eu virei meu rosto para checar o lado de fora através das enormes janelas, soltando um choramingo quando percebi que alguns alunos corriam pela quadra de esportes. Poderia ser nossa turma, lá.

   — Hã? Senhora! — direcionei meus olhos cansados para a porta da sala e franzi minhas sobrancelhas quando uma mulher adentrou a sala, interrompendo a aula do rosado e tampouco dando satisfação — Estamos em aula agora. O que a traz aqui-...

   O professor se auto-interrompeu quando notou que a mulher se direcionava até um dos alunos, parando logo em frente a carteira de Jay, que parecia tão surpreso quanto o restante da turma. Eu troquei os olhos dentre o garoto e a mais velha em sua frente, percebendo uma certa semelhança em suas fisionomias, deduzindo que seria sua mãe. Engoli a seco quando me dei de conta da situação.

   — Venha comigo um minuto. — eu, por estar sentada próxima ao garoto de óculos, ouvi sua mãe ordenar em um tom rotineiro, embora manter uma certa firmeza na voz.

   — Eu... estou em aula, então aguarde um pouco... — Jay, por outro lado, falou baixo, sustentando o olhar fulminante da progenitora.

   — Continua sem me obedecer, é? — agora, em um tom de voz mais elevado, a mulher assustou o filho, que se recostou nas costas da cadeira. Eu, silenciosamente, afastei um pouco minha cadeira da mesa e fiquei atenta aos gestos da mais velha, que logo prosseguiu — Quando eu digo 'pra vir comigo, é melhor que você venha! Seu merdinha!

   Ao perceber que a mulher ergueu sua mão para acertar o rosto de Jay, rapidamente – e sem pensar muito – me levantei do lugar e me posicionei ao lado do garoto, segurando firmemente no pulso da mais velha e impedindo-a de bater no filho. Seus olhos, irradiando fúria, me encararam desacreditados.

   — O que você pensa que está fazendo em uma escola? — notando o tom enfurecido de Mario Nam, larguei o braço da mulher e permaneci no lugar, sentindo os olhos de Jay em mim e ignorando totalmente. Sustentei a encarada da mulher e cruzei os meus braços, demonstrando que não me baixaria para ela.

   — Quem essa garota pensa que é para se intrometer...? — ela ignorou o questionamento do professor e continuou a me encarar, não diminuindo seu tom.

   — Desculpe, senhora, mas esse comportamento é inadequado. — expliquei educadamente, não desviando meus olhos dos seus por nem sequer um segundo antes de esticar minimamente os cantos da minha boca. O rosado interrompeu nosso contato visual e fez com que a mulher lhe desse atenção, agora.

   — Não faça isso na frente das crianças. Vá para a secretaria e converse lá. — Mário Nam apontou para a porta da sala e convenceu a mulher de ir, fazendo um sinal para que Jay acompanhasse a mãe.

   O garoto se pôs de pé ao meu lado e pareceu não ter coragem para me olhar nos olhos, visto que passou por mim e caminhou para fora da sala de cabeça baixa. Eu retornei ao meu lugar, totalmente chatiada com a situação. A sala ficou em uma total baderna quando o professor acompanhou Jay e sua mãe até a direção, aproveitando aquela brecha para saírem de seus lugares e conversarem dentre si. Eu permaneci quieta sobre minha cadeira, batucando a ponta dos dedos sobre a mesa e pensando se havia agido certo quando impedi a mulher de fazer o que ela pretendia. Tá certo que Jay é meu amigo e eu irei defendê-lo, mas a partir do momento que eu desafiei a autoridade de sua mãe, ele pode desgostar do meu ato e ficar do lado dela.

𝗛𝗢𝗟𝗘 𝗜𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗧𝗥𝗔𝗖𝗞ᅠᵂᴵᴺᴰ ᴮᴿᴱᴬᴷᴱᴿOnde histórias criam vida. Descubra agora