33 - Turbilhão de sentimentos

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   Boa leitura, e espero que gostem :)
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— Andem! Vocês acabaram de voltar do treinamento nas montanhas! É só isso que sabem fazer?! — gritando em plenos pulmões, o professor Mario Nam não parecia muito contente em nos observar correr tão desleixados ao redor da quadra escolar, nitidamente impaciente perante nossa enrolação. Lhe direcionei um olhar tedioso e respirei fundo antes de impor mais força em minhas panturrilhas, aumentando a velocidade da corrida e, consequentemente, sentindo-as latejar quanto a pressão.

Não é como se eu tivesse mantido as práticas da montanha ativas, afinal. Fiz pior do que isso e deixei de treinar por vários dias, o que agora dificulta minha coordenação motora. Olhar para Dom com um pneu amarrado nas costas me fez pensar que eu fiz isso comigo mesma, eu mesma me desmotivo e deixo de fazer aquilo que me mantém sã, que me mantém ativa. Não deveria ter descontado toda essa frustração acumulada em meus amigos ou em qualquer um que ousasse aparecer na minha frente, mas achei mais fácil culpar as coisas e as pessoas ao meu redor do que a mim mesma. Para nós, sempre teremos razão, não é?

   — Quantas voltas... a gente já correu? — transpirando suor até mesmo por partes que jamais pensei serem possíveis, respirei com certa dificuldade e reservei um tempo para observar o careca ao meu lado, que corria no mesmo ritmo e na mesma intensidade. A diferença é que ele carregava um pneu para lá de pesado. Balancei a cabeça para lhe demonstrar minha incerteza e engoli a saliva que se acumulara em minha boca, sonhando e ansiando por um bocado de água.

   — Sei lá! Quero vomitar! — June, que corria um pouco mais atrás, respondeu ao amigo com a voz falha e estridente, demonstrando, embora indiretamente, o quão rápido suas forças estavam se esvaindo. Eu sentia meu corpo latejar em diversas áreas, mas tinha consciência do quanto ainda poderia correr. Para quem está acostumado a passar horas sobre uma bicicleta, isso não é nada.

    — Pausa de três minutos! — me mantinha tão inerte e tão focada no caminho em que percorria, que mal ouvira o aviso relutante do rosado, percebendo apenas quando notei que meus demais companheiros vinham parando aos poucos.

Sem parar de correr, me direcionei ao banco em que deixara meus pertences e busquei pela minha garrafinha dentro da bolsa escolar, pouco me importando com a bagunça na qual deixei meus cadernos e estojos, desta vez. Tomei diversos goles consecutivos e soltei um arfar impaciente quando notei que a água havia acabado, atirando a garrafa de plástico para dentro da bolsa. Não havia bebedouro por perto para que eu pudesse enchê-la novamente, infelizmente.

— Poxa... não me deixou nem um 'golinho...! — eu não soube dizer se Dom se lamentava ou se me repreendia, talvez ou dois, já que suas feições se tornaram uma mistura de descrença com melancolia. Limpei os cantos da minha boca e apoiei as mãos sobre as laterais do quadril, observando meu amigo se aproximar com passos trêmulos, talvez pela falta de força nas pernas.

— Não vou nem te falar com quem você se parece. — ignorei suas lamentações propositalmente e enxuguei parte do suor que escorria pela minha têmpora, além de secar a umidade em meu buço. Estreitei meus olhos sob o sol escaldante e encarei os alunos que nos observavam de longe, curiosos sobre o que estaríamos treinando fora das aulas de educação física. Eu também me fazia essa pergunta, vez que outra.

— Certo! Acabaram os três minutos... — tão impaciente quanto estava antes, o professor acabou com nosso tempo de descanso, me surpreendendo pela rapidez com a qual o ponteiro do relógio se movimentou. Não pensei duas vezes antes de resmungar quanto ao curto tempo que nos foi concebido, alegando que permanecia com a garganta seca. Contudo, não houve tempo para que o rosado pudesse me responder antes de um suposto ruivo lhe interromper.

𝗛𝗢𝗟𝗘 𝗜𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗧𝗥𝗔𝗖𝗞ᅠᵂᴵᴺᴰ ᴮᴿᴱᴬᴷᴱᴿOnde histórias criam vida. Descubra agora