28 - De volta ao jogo

292 52 15
                                    

Boa leitura e espero que gostem!
________________________________
Ponto de vista da Hayan

O clima hospitalar nem sempre foi tão desagradável quanto está sendo agora. A dor espalhada por diversas regiões do meu corpo não fez a visita ser mais agradável, tampouco teria necessidade de vir a um hospital caso ela não estivesse me incomodando. Eu sequer teria vindo consultar se não fosse pela insistência abrupta dos meus companheiros de equipe, e a recomendação médica do enfermeiro da competição, também. Com a adrenalina do momento eu nem havia dado oportunidade para que a dor chegasse a ser insuportável, mas conforme o susto e o suor foram deixando meu corpo, as consequências da queda começaram a surgir mais fortes do que o imaginado. Eu não tinha noção da gravidade das minhas ações, e por isso, mal sabia o que havia feito com meu corpo.

Com o intenso baque nas minhas costas, a falta de ar me desencadeou um desmaio automático, que me apagou antes mesmo que eu tivesse a chance de espernear deitada sobre o asfalto da pista. Fui encaminhada ao posto médico e eles não estavam errados quando disseram que não poderiam fazer muita coisa, já que não tinham acessibilidade a um eletrocardiograma e não sabiam a gravidade do meu acidente. Me deram alguns remédios que me ajudaram com a dor e me encaminharam ao hospital, local onde pude ser examinada devidamente. Não havia dado tempo ao tempo para que ele me envergonhasse com algum flashback da imensa vergonha que passei naquela pista de corrida, desmaiada no chão porque havia resolvido priorizar um cachorro que nem sequer veria novamente. No entanto, meu arrependimento não é por ter salvado o pobre animal, mas sim por não ter pensando em uma estratégia melhor do que me lançar para fora da bicicleta. Não consigo parar de pensar que poderia ter vencido.

— Vocês não precisavam ter vindo. — tão monótona quanto o clima hospitalar, dedilhei delicadamente a luva ortopédica ao redor do meu pulso lesionado e permaneci com a cabeça baixa e os olhos no chão, envergonhada demais para sequer pensar em encarar meus amigos nesse momento. Eu não precisava examina-los para sentir a pena que eles tentavam reprimir, transbordar no ar.

— Se não fosse pela carona do tiozinho eu não teria vindo, mesmo. — o mais baixo dos ruivos esticou seus lábios em um sorriso pequeno e ergueu o braço para acariciar o topo da minha cabeça, demonstrando afetivamente que suas palavras não passavam de uma brincadeira. Seus dedos bagunçaram meus fios mais do que já estavam desorganizados e eu não pude repreendê-lo por isso, relembrando-me de que havia sido ele o primeiro a se desesperar pelo meu estado — Gente boa ele, inclusive.

— Agora que a Hayan 'tá bem, eu já vou indo, pessoal. Bom trabalho, todo mundo. — após ultrapassarmos as portas do hospital e pararmos sobre a calçada da rua, Dom coçou sua nuca e tentou esboçar um meio sorriso, varrendo seus olhos por cada canto que pôde, evitando nossos olhos. O cabeludo não esperou com que dissemos alguma coisa e rapidamente saiu apressado ao lado da sua bicicleta, mantendo sua cabeça baixa enquanto se afastava.

— Ele deve estar mesmo em choque... — June observou as costas do amigo até que não fosse mais possível distingui-lo dentre a circulação de pessoas, expressando sua preocupação pelas feições do seu rosto. Meus olhos desceram para meus pés e eu senti uma pontada de culpa por vê-lo desta maneira, tão cabisbaixo enquanto normalmente é energético e extrovertido. Não podia negar que acabei ficando com raiva assim que fiquei sabendo da nossa derrota, mas toda direcionada à minha fatídica queda, nunca à Dom. Estava ciente de que ele havia feito tudo que estava em seu alcance, então jamais poderia culpá-lo. No entanto, o cabeludo pôs uma enorme pressão sobre si mesmo, e acreditou que havia me desapontado.

— Ele vai superar. — Minu assegurou em um tom mais baixo do que costumava usar, parecendo querer convencer a si mesmo sobre suas próprias palavras. Eu sabia que o certo seria correr atrás do meu amigo e reconforta-lo de alguma maneira, mas minhas pernas cederiam antes mesmo de terem a chance de exercerem uma força maior, embora essa não ser a única razão pela qual não faço tal coisa. A verdade era que eu tinha medo de pressiona-lo demais.

𝗛𝗢𝗟𝗘 𝗜𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗧𝗥𝗔𝗖𝗞ᅠᵂᴵᴺᴰ ᴮᴿᴱᴬᴷᴱᴿOnde histórias criam vida. Descubra agora