35 - Ferida exposta

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Esse capítulo tem uma importância enorme para o desenvolvimento da história, então espero que vocês gostem tanto quanto eu. Boa leitura :)
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Não houve sequer um minuto em que eu me senti bem depois de ter feito o que fiz, e por mais que me arrependesse nos minutos seguintes, hoje, agora, depois de ter pensado e repensado o mesmo momento centenas de vezes, tinha a certeza de que não conseguiria ter feito algo de diferente. A raiva, a tristeza, ambas unidas e demasiadamente acumuladas, só estavam retardando algo que viria a acontecer uma hora ou outra, então eu não estava muito surpresa, apenas decepcionada; decepcionada comigo e, acima de tudo, com Minu.

Nenhum dos nossos amigos sequer ousou tocar no assunto no dia seguinte, medrosos demais sobre a minha reação, talvez. Eu ainda insisto em dizer que as pessoas têm uma visão muito ruim sobre mim, mas não é esse o ponto. O ponto é que ninguém queria conversar sobre a ousadia de Minu, sobre o quanto ele havia conseguido ser o babaca que muitos acreditam que ele seja; e talvez ele realmente seja. Não queria pensar coisas tão ruins de um amigo, tampouco queria que coisas assim se passassem em minha cabeça, mas não consigo evitar. Eu estava triste, desapontada demais para não culpar alguém. E se tiver que ser alguém, que seja ele.

— Que dia... — com os braços cruzados atrás da cabeça, ergui meu queixo e observei o céu cinzento, inteiramente revestido pela cor muito sem vida de um cinza pouco brilhoso, que imediatamente me desanimou consideravelmente. Não é como se eu pudesse me dar ao luxo de culpar o clima pela minha falta de humor, mas gosto de fingir que sim, então convenhamos.

Meus companheiros de equipe não pareciam lá muito mais animados do que eu, mesmo rodeados com tantas câmeras e pessoas, que pareciam entusiasmadas demais para um dia como esse. Eu precisava me lembrar que nem todo mundo estava tendo um dia ruim, afinal. O torneio veio em um mal momento, se eu pudesse escolher, ninguém da HummingBird parecia ter cabeça para correr por um prêmio depois das atrocidades que tivemos que ouvir na noite passada. Duvido que Minu não esteja se atormentando por isso.
Contudo, tínhamos com o que nos preocupar, no final das contas.

— Ele não atendeu? June? — um pouco mais exasperado do que qualquer um de nós, Dom roeu o canto de uma das suas unhas e batucou de forma inquieta o seu pé no asfalto do chão, aguardando ansiosamente o retorno de um certo ruivo de 1,90. A verdade era que estávamos esperando um retorno a um bom tempo.

— Não... acho que aconteceu algo. — já era a quinta para a sexta vez que tentávamos ligar e nada do Vinny atender, o que nos deu motivos para começarmos a nos preocupar; tanto com seu paradeiro quanto com a competição. Para ser sincera, o torneio era a última das minhas preocupações, mas é claro que não diria isso em voz alta. Eu estava mais inquieta pelo paradeiro de Vinny, tinha medo do que o levaria a perder uma corrida.

— Qual é o problema desse cara? A gente vai correr ou não? — Shelly, por outro lado, estava mais impaciente do que preocupada, o que me incomodou, de certa forma. Tudo bem que estamos aqui para vencer, da mesma forma como estávamos no início, diferente do que Minu nos disse ontem, mas ainda sim precisamos priorizar uns aos outros. Eu abriria mão da corrida e da merda toda, se fosse possível, mas querendo ou não, estávamos aqui pela mãe de Vinny.

   Eu estava prestes a dizer o que enfatizei em meus pensamentos, quando um certo ruivo se aproximou cuidadosamente; o errado dos ruivos, infelizmente. Minu parecia indiferente quanto ao clima desconfortável que instantaneamente se instalou assim que ele se aproximou o suficiente, e como eu queria que fosse eu a avisá-lo. Contudo, me contentei a respirar fundo e me direcionar ao restante dos meus reais companheiros, não suportando toda aquela situação.

𝗛𝗢𝗟𝗘 𝗜𝗡 𝗧𝗛𝗘 𝗧𝗥𝗔𝗖𝗞ᅠᵂᴵᴺᴰ ᴮᴿᴱᴬᴷᴱᴿOnde histórias criam vida. Descubra agora