P O S I T A N O

P R Ó L O G O

M E L

— Eu tenho certeza de que esqueci alguma coisa, Rafa. Estou com um aperto aqui dentro e eu sei que você vai dizer que toda vez que vou viajar isso acontece só que dessa vez nada me tira da cabeça que tem alguma coisa errada e só pode ser porque deixei alguma coisa para trás e eu não consigo parar de pensar nisso desde que saímos do meu apartamento, eu tenho que fazer alguma coisa sobre isso, o que nós vamos fazer sobre isso?

Melissa reclamou sobre aquilo pela milésima vez desde que Rafael a pegou em seu agora antigo apartamento e não parou de falar sobre aquela sensação mesmo enquanto os dois chegavam apressados ao aeroporto de Guarulhos e se encaminhavam aos trancos carregando dois carrinhos cheios de malas em direção ao check in.

— Acho que não tem nada que podemos fazer sobre isso agora, linda. Seu apartamento já estava quase vazio quando fui te buscar, eu tenho certeza de que você não deixou nada para trás e você tem razão, eu ia mesmo dizer que você sempre pira quando viaja de avião e não tem porque você pirar, Mel, quando piscar já estaremos na Itália.

E Rafael também repetiu aquilo pela milésima vez sem se importar, sabia que a noiva só estava ansiosa, muito ansiosa.

— Tenta pensar em outra coisa. Estamos indo para a terra das pizzas. Pense em todas as pizzas italianas que nos aguardam quando chegarmos em Positano.

— Acho que deve ter mais peixes do que pizzas em Positano.

— Olha só, está funcionando. Agora você está aí focada em me corrigir ao invés de surtar pensando no que acha que esqueceu no apartamento.

— Ótimo, agora estou pensando nisso de novo, obrigada.

Melissa nunca gostou de voar e ainda tinha o fato de que aquela era uma viagem rumo a uma vida nova em um país diferente, Rafael achava natural que ela se sentisse daquele jeito porque de certa forma ele também se sentia assim.

Os dois estavam a caminho da Itália, onde iam morar, trabalhar e muito em breve se casar.

Graziella, uma amiga de Melissa dos tempos da faculdade que morava em Positano era dona de uma empresa de eventos e morava em Sorrento, uma cidade ao lado de Positano, mas eles haviam decidido morar lá porque achavam um lugar mais atraente. Quando Graziella precisou de alguém para cuidar da parte visual e da fotografia em sua empresa a primeira pessoa em quem pensou foi Melissa. O único problema era que Melissa morava no Brasil.

Graziella achou que seria uma missão impossível convencer a amiga a largar tudo no Brasil e aceitar morar e trabalhar em outro país, porém, ela jogou com a sorte e fez o convite mesmo assim.

Ao ouvir a proposta de Graziella, Melissa ficou um tempo muda ao telefone. Aceitar significaria embarcar em uma grande loucura. Deixar tudo para trás e começar tudo do zero.

— É claro que sim! Eu vou. — Respondeu Melissa.

Melissa riu ao escutar a amiga dar um grito de vitória do outro lado da linha.

— Sim? Você disse mesmo um sim? Quer dizer, não que eu quisesse que você dissesse um não, mas... meu Deus, eu nem acredito que você está dizendo sim. Você, você acha que Rafael vai aceitar um namoro à distância?

— Namoro à distância, está maluca? É claro que não. Ele vai comigo.

E Melissa estava certa. Não teve trabalho algum para convencer Rafael. Ele embarcou prontamente naquela loucura. Disse a ela que eram dois jovens, ela tinha apenas vinte e três e ele só vinte e cinco e que aquela era a hora de fazerem coisas que provavelmente não teriam coragem de fazer depois dos trinta. Ele achou divertido embarcar naquela aventura com Melissa. Rafael era empregado em uma empresa multinacional de tecnologia da informação e poderia trabalhar de onde quisesse, literalmente de qualquer lugar do planeta, então, um mês depois que ele e a noiva colocaram seus apartamentos para alugar, depois de vender quase todos os móveis e depois de dezenas de despedidas da família e dos amigos, os dois estavam embarcando em um sonho que havia caído de bandeja no colo deles e fariam de tudo pra que fosse perfeito.