Mãe

593 46 7
                                    

Elisabeth dormiu rapidamente depois que sentiu que o pai não estava mais raivoso. Seu sono foi tranquilo, o que a marcou, foi seu sonho. Pela primeira vez, desde que se conhecia por gente, sonhara com a figura de uma mulher cuidando dela. Dando afeto, carinho e gentileza. Coisas que Hannibal raramente fazia.

Ao abrir os olhos, a menina sentiu os raios de sol passando pela cortina. O pai não estava mais em seu quarto, mas seu uniforme estava organizado na beirada da cama, pronto para ser vestido. Elisabeth tentou se levantar e sentiu o traseiro doer, não como na madrugada, mas ainda estava incomodando se o movimento fosse muito apressado.

Lentamente se levanta e veste seu uniforme, logo depois de passar no banheiro. As olheiras por causa do choro estavam um pouco visíveis, mas não fez esforço em esconder. A menina desce as escadas arrumada, com sua mochila nas costas.

O pai já estava na cozinha. Ver apenas a figura masculina ali, a fez lembrar do sonho e suspirar. Nunca tinha pensado no assunto, mas nesse momento a casa parecia tão grande apenas para pai e filha.

A menina não sabia explicar se tinha tido um sonho ou um pesadelo, ela havia sonhando com algo que fazia tempo que não sonhava, algo que ela sabia que deixaria o pai instável e provavelmente com raiva... sua mãe.

  Elizabeth não sabia muito sobre a mãe, o pai a criou desde que ela era um mísero bebê, ela tinha apenas memórias embaçadas de uma mulher, que não se formavam completamente em sua mente, mas despertavam sua curiosidade.

  Hannibal não falava sobre ela, não parecia querer contar nada para a filha, desde que ela era pequena, o pai sempre evitava em falar nela, sempre que tinha alguma comemoração na escola ou coisa parecida, ele evitava de deixar a filha entrar em contato.

  Agora ela não sabia se era porque falar sobre isso realmente machucava ele, ou se era porque ele somente não queria se aborrecer falando em algo que já se fora a muito tempo, que não fazia mais parte da vida dele, era complicado falar com o pai sobre qualquer coisa.

  —Papai? —Chamou Elizabeth em um tom bem baixinho, ela sabia que ele tinha ouvidos muito bons, ele sabia que ela tinha entrado na cozinha mesmo antes dela falar qualquer coisa.

  Elizabeth em um geral evitava fazer qualquer barulho, até mesmo quando andava, apesar de Hannibal não gostar disso, o barulho anunciava sua presença, ele odiava ser pego de surpresa ou não ouvir as coisas ao seu redor.

  Hannibal não se virou para encarar a filha, continuo preparando o café da manhã do dois, mas ainda sim fez um movimento de leve com a cabeça para mostrar que estava prestando atenção no que ela fosse falar.

  —Eu gostaria de perguntar sobre... quer dizer, eu sonhei com...—As palavras pareciam estar tragadas em sua garganta enquanto ela se esforçava para tentar as cuspir de uma vez, mas não era fácil uma coisa dessas.

  Naquele momento, Hannibal se virou para encarar a filha, ela estava enrolando e gaguejando, ele não era burro de não saber que era algo que provavelmente ele tinha dito não ou algo que ele não quisesse conversar com ela.

—Eu queria saber... eu queria saber sobre a mamãe... Quer dizer eu sonhei com ela ontem e eu...—Elizabeth cuspiu de uma vez o que queria falar e sua voz saiu falha nas últimas palavras ao ver o rosto que seu pai estava fazendo.

  O rosto de Hannibal se contorceu um pouquinho de maneira raivosa, ele já tinha dito que não queria conversar sobre aquele assunto, mas a filha era insistente e não sabia o momento de parar de ser teimosa sobre algo.

  —Quando pensamos de mais, acabamos sonhando com essas coisas, meu conselho? Pare de pensar em determinadas coisas. —Ele falou seco e voltou a cozinhar como se ela não tivesse falado algo importante.

  Elizabeth suspiro fundo, aquilo era um sinal vermelho de que ele não queria conversar sobre o assunto e seria melhor ela parar de tentar insistir em algo do tipo, mas ela queria saber mais sobre a mãe, queria que ele conversasse com ela...

  —Mas, você nunca fala dela... Parece que ela nunca existiu, não tem nenhum papel ou foto dela, eu somente gostaria de saber qualquer coisa sobre ela.—A menina continuou tentando, mas sem elevar o tom.

   —Pare de pensar nisso, não fale de coisas do qual só vão ser irritantes e trazerem mais pensamentos desnecessários. —Ele falou ríspido não querendo mais tocar no assunto com a filha.

  —Mas papai, não é justo, eu deveria ter o direito de poder saber mínima coisa sobre a minha mãe e eu... —A menina começou a tentar falar novamente e rapidamente para o pai não ter tempo de reagir.

  Mas sua ideia de colocar o pai contra a parede foi para o ralo, quando Hannibal ficou uma faca contra a taboa de madeira que ele estava utilizando para cortar cebolas e tomates, fazendo a menina pular no lugar.

  —Acredito, que eu não tenha sido muito claro em relação a isso tudo, não quero precisar recorrer a meu segundo método de persuasão. —Hannibal falou com certa raiva no tom de voz.

  Elizabeth se calou, mas sentiu raiava dentro de si, tinha que ter algo sobre a mãe que Hannibal escondia, e ela iria descobrir o que era, mas não agora, não enquanto ela não se recuperasse totalmente.

  Hannibal serviu o café da manhã assim que a menina abaixou a cabeça, ovos e bacon, era ótimo para começar o dia e ele sabia que Elizabeth poderia estar de mau humor, mas ela adorava aquilo e não iria resistir.

  Ele sabia bem que a filha amava sua comida, não iria recusar um prato deliciosa em sua frente, ela estava com fome, dormiu de forma bem pesada, agora precisaria se alimentar a cima de tudo, ele iria deixar passar aquela discussão sobre mães, ele não iria se estressar pelo menos não agora, depois ele iria lidar com aquilo.

A filha de Hannibal LecterOnde histórias criam vida. Descubra agora