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Então, movi-me rapidamente em direção à confusão.

Ao alcançar o grupo, desferi um soco no rosto de um dos garotos com toda a força. O impacto teve seu preço imediato em meu punho; senti na hora que havia quebrado algum osso. Com minha bota de cano alto, desferi um chute na virilha de outro e acertei o terceiro com uma cotovelada no nariz. Meu ataque repentino proporcionou tempo suficiente para Knut se levantar e entrar na briga. Trocamos alguns socos e, assustados, os garotos fugiram para o salão, nos deixando ofegantes sob o manto noturno.

— De todas as pessoas... Nunca imaginei que seria você a me ajudar! — exclamou Knut, batendo a terra e lama de suas roupas. — Por que me ajudou?

— Temos nossas diferenças, mas todos somos de Beowulf — respondi, limpando o sangue que escorria do meu nariz com a manga da camisa de linho.

Ele me encarou por um momento e, em seguida, sorriu.

— Claro! — disse ele. — Servimos ao mesmo senhor Beowulf... Mesmo assim, devo agradecer.

Assenti com a cabeça, e a hostilidade entre nós desapareceu depois daquilo. Acabamos passando tempo juntos, especialmente por causa de Helder, o irmão mais novo de Knut, que sempre me seguia como um filhote de cachorro. Knut também começou a participar dos treinamentos que fazíamos com espadas de treino na floresta. Ele era dois anos mais velho do que eu, tinha quinze anos, desajeitado e descoordenado, mas forte, assim como seu pai, Helvec. E alto, tão alto quanto Beowulf, mas muito mais magro. Nossos combates de treino geralmente terminavam comigo caída no chão ou desarmada.

— Na noite da briga, eles queriam meu bracelete de Pedramar... Foi esculpido por minha mãe — explicou Knut, exibindo a joia encrustada de runas em seu pulso direito. — Quando um garoto atinge a maioridade, é presenteado com um bracelete de Pedramar... Simboliza que não é mais um garoto, mas sim um homem.

— Sei que teria feito o mesmo por mim! — retruquei, enquanto me levantava

— Não, não teria! — insistiu ele. — Por isso... Eu juro que lutarei ao seu lado! — declarou, estendendo-me a mão.

Confesso que nunca imaginei que ele falasse com seriedade, e que seu juramento de juventude seria cumprido. Aceitei sua mão com um sorriso genuíno, e retornamos ao treino.

— Astrid, seu problema é que tenta lutar como um homem... Você não é e nunca será um! — ponderou Knut. — Não pode medir forças comigo... Sou mais forte que você. Precisa ser mais esperta se quiser vencer.

Entendi a mensagem. Jamais conseguiria igualar-me em força a um homem, especialmente a um guerreiro endurecido em batalhas. Precisava ser mais astuta, desenvolver uma técnica para contra-atacar a força bruta. Até mesmo Helder, mais jovem, leve e menos experiente, lutava comigo como um igual. Comecei a observar os movimentos de Knut e, em vez de bloquear seus golpes, comecei a desviá-los ou esquivar-me. Tornou-se como uma dança, uma série de passos leves. Isso começou a surtir efeito; Knut se cansava e perdia a força e a velocidade. Gradualmente, comecei a vencer algumas lutas.

— Qual deus é venerado pelo seu povo? — questionou Helder. — Quero dizer, o Deus dos Rurguêses?

— No norte, adoram o Fogo Eterno... — respondi, num tom mal-humorado. — No sul, cultuam a antiga deusa Mãe Raia.

Eu odiava quando minha origem Rurguêsa era mencionada.

— Acho que você deveria ser Afogada! — sugeriu Helder. — Nosso Deus é mais poderoso, por isso estamos ganhando a guerra.

— Deus Sob o Mar... é o único e verdadeiro deus! — declarou Knut enquanto pescava. — Se quiser se tornar uma guerreira, terá que se afogar e aceitar o Deus verdadeiro.

Canções de Ultramar, Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora