A pressão começou a diminuir e o inimigo se dispersou, fugindo para o interior da cidade, pois a torrente de homens que entrava pelo portão não podia ser contida. Cambaleei até uma parede e me apoiei, exausta. Fiquei ali, encostada junto com meus homens. Gash'nak, que estava ao meu lado na batalha, buscava troféus entre os mortos. Knut permanecia ao meu lado. Olhei ao redor e os guerreiros me cumprimentaram com gestos de cabeça ou sorrisos.
— Senhora! — disse Helder meu escudeiro — Está ferida?
— Não... me ajude a levantar! — respondi quando percebi que não conseguia sozinha.
— Somos homens ricos agora, senhora? — perguntou Louis com um largo sorriso
— Sim... — respondi e o abracei — São livres para ir, para ficar, e para tomar terras nesse reino. Tudo que oferecerem a mim, eu darei a vocês.
Eles sorriram e se curvaram em gratidão. Já havia anoitecido, a batalha pelo portão levara a maior parte da tarde, mas já estava encerrada com homens entrando em formação para ocupar as construções dentro dos muros e esperar o amanhecer para tomar o restante da cidade.
— Como estamos? — perguntei. — Earl Bjorn conseguiu organizar o avanço, e fortaleceu as principais vias com barricadas, entulho e móveis que conseguimos retirar das casas... A escuridão é tão densa que não podemos continuar. No entanto, parece que há inimigos em cada casa, eles nos atacam na linha de frente e fogem na escuridão... Perdemos bons homens, antes de Bjorn parar o avanço.
— Onde estão Knut e Karl? — perguntei a Helder
— Eles estão naquela direção... Ocupamos uma casa e estamos vigiando as barricadas... Bjorn separou as tripulações para tentar formar um perímetro de defesa, mas existem várias brechas, varias ruas que não estão sendo vigiadas e por onde eles entram e nos atacam antes de fugir novamente... Controlamos as áreas das Colinas do Ladrem e das Docas do Rio. O Jarl Loki está fortificando o Distrito Leste, e sei que as coisas estão muito ruins lá, na área do mercado. Estamos todos misturados com os inimigos... muitos homens estão desaparecidos por entrarem demais na cidade — respondeu Helder — Karl mandou leva-la assim que nossa posição foi fortificada.
Nós havíamos nos infiltrado na cidade de forma desorganizada, e agora o inimigo estava misturado em nossas linhas. Essa situação poderia ser facilmente resolvida com a queima inteira da cidade, mas não era o caso. Jarl Loki iria se estabelecer ali e Rutemburgo não seria destruída e sim ocupada. Helder me ajudou a levantar e caminhar. Aproximei-me de Lagertha e tentei oferecer ajuda a ela, no entanto, ela recusou minha oferta e se ergueu sozinha. Ao nosso redor, havia diversos homens mortos. As crianças e as mulheres Ultras da nossa frota estavam lá, auxiliando os feridos e levando-os em direção aos navios, onde os curandeiros e Nastya preparavam ervas para aliviar a dor ou remédios para aqueles que ainda podiam ser salvos. Homens de Bjorn guardavam o portão, enquanto diversas mulheres traziam suprimentos dos navios para a cidade. Lagertha pegou uma lança e apunhalou um homem caído moribundo. Ouvi o homem implorar, mas ela não demonstrou piedade. Eu e meu escudeiro percorremos as ruas da cidade, onde podíamos ouvir gritos e o choro de crianças.
— Senhora! — disse a voz de Knut, que surgiu por uma das ruas. — O inimigo recuou para o castelo da colina, eles colocaram um monstro no caminho e estão guarnecidos lá!
— E o distrito Sete Praças? Já foi tomado? — perguntei.
— Jarl Loki e Sigtryggr estão lutando para conter os saques e reunir suas tropas para avançar até lá... Observamos que o portão norte ficou aberto a noite toda e dezenas de refugiados estão fugindo a cada momento em que perdemos.
Enquanto os Ultras pilhavam uma parte da cidade, o precioso tesouro escapava suavemente através de uma das outras portas, levando consigo joias, ouro e prata em bolsas e bolsos. Rollo tentava contornar a cidade pelos muros, com o objetivo de bloquear a rota de fuga, no entanto, sabíamos que ele enfrentava uma grande resistência Rurguêsa no campo e estava pagando um preço alto por isso. Claramente, o restante do exército apenas ganhava tempo para que suas famílias pudessem escapar. Haviam incêndios esporádicos pela cidade, mas não era uma ofensiva de destruição, e sim uma ocupação. Após ser pacificada, Rutemburgo se tornaria o lar de Jarl Loki.
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Canções de Ultramar, Livro 1
FantasiaA nove anos, uma frota de navios Drakkar foi vista chegando pelo Mar Ocidental, em direção à Mar-Krag. Pouco se sabia daquele povo, mas logo soube-se que haviam chegado para ficar. Anos se passaram, e as guerras entre os Ultras e os Continentais, ch...