No assalto ao barão Bastien, eu contava com sessenta guerreiros. Deslizamos velozmente pelo rio, rumo ao ponto indicado pela mestiça Nastya.
— Os guerreiros estão prontos, senhora! — declarou Karl ao aproximar-se.
Cedi o leme e dirigi-me ao meu baú. Cada homem a bordo possuía um baú de pertences, também utilizado como assento para remar. O meu ficava à esquerda, da popa à proa. Ao meu lado, estava Hélder, meu escudeiro, e à frente, seu irmão Knut.
— Senhora, a cota de malha. — disse Hélder, erguendo com esforço a peça, passando-a sobre minha cabeça e ajustando as tiras de couro.
— Nastya, mantenha-se próxima a min, na batalha. — ordenei, afivelando a Grinfrost à cintura.
Karl permaneceria no navio; sua mão fora perdida para um machado Rurguês, tornando-o inapto para para aquele tipo de combate, embora sua mente permanecesse aguçada para assuntos bélicos. Não confiava em mais ninguém para tal tarefa, pois liderar exigia inteligência e astúcia, sobretudo astúcia. O vigia do mastro era um pele-verde, que deslizou ágil da trave para o assoalho do navio. Na língua de Ultramar, eram chamados de Urtyr, embora preferissem a autodenominação: Goblin.
— Esses Pele-verde são perspicazes na batalha e serão de grande serventia, jovem senhora... Conhecem as matas como ninguém. Estou vendendo apenas porque não consigo mais alimentá-lo! — explicara o velho — E esses peles-verdes tem fome não só de carne, mas de mulheres também... E isso me causou muito problemas.
De fato, comprovou-se verdadeiro; o Pele-verde foi uma aquisição valiosa, e sinto sua falta hoje. Tornou-se um amigo.
— Escudos... Preparem-se! — bradei.
O Lobo Negro aproximou-se da margem, e Karl ordenou que recolhessem os remos. A embarcação deslizou até a areia, um som arrastado ecoou, o navio estremeceu e cessou o movimento. A proa ergueu-se, e a cabeça de lobo esculpida desafiou a costa. Era nosso momento, e o Lobo esculpido afastava qualquer espirito maligno ou demônio da má sorte. O dilúvio de Sal e Sangue alcançava todos os cantos do mundo.
— Desembarquem! — gritei.
Os homens saltaram do costado do navio para a areia, formando rapidamente uma muralha de escudos na praia. À medida que mais homens chegavam, a parede crescia em largura e altura. Primeiro, os guerreiros trajando cota de malha, seguidos pelos que portavam armaduras de couro. Ficamos ali por alguns instantes, observando a densa vegetação à nossa frente. Era um bosque cerrado, e eu imaginava que a qualquer momento poderíamos ser alvejados por flechas, mas o ataque nunca veio. Não estavam à nossa espera, e tínhamos a vantagem da surpresa.
— Gash'nak Arranca-dedos! — gritei, e o Pele-verde veio até mim. — Avance como batedor... Observe as redondezas e retorne se achar algo interessante... Não quero surpresas!
— Sim, Sinhá! — respondeu com seu sotaque arrastado, lançando-se correndo na floresta como uma fera selvagem.
O goblin vestia calças de couro e carregava duas adagas ao cinto. Recusou qualquer tipo de armadura de malha que eu tinha oferecido, preferia lutar com o peito nu, ágil, leve e mortal. Sua pele rapidamente se camuflou entre as folhagens e Gash'nak desapareceu. Eu toquei o cabo de Grinfrost e fiz uma prece a Deus Sob o Mar
— Coluna de marcha! — ordenei. — Olhos abertos, homens.
Nastya mostrou-nos o caminho pela mata até o anoitecer. Gash'nak retornou três vezes durante a noite para informar que os arredores estavam liberados, nada além de animais. Também informou sobre algumas fazendas a leste, mas estavam a léguas de distância e não nos ofereciam riscos. Não havia sinal de alarde na paisagem circundante. Estabelecemos acampamento junto a uma imponente rocha, emergindo do musgo do solo como um iceberg irrompe as águas do mar. Não acendemos fogueira, e comemos comida fria. Com o nascer do sol, nossa marcha prosseguiu em silêncio. Éramos guerreiros silenciosos da floresta. A trilha sinuosa levava-nos através da floresta, e a coluna de homens permanecia atenta e calada. Ao chegarmos a um riacho profundo, deparamo-nos com uma passagem de pedras largas e planas dispostas no leito d'água, permitindo-nos atravessar sem molhar os pés. A área parecia ter sido habitada, mas devido à proximidade da fronteira, com o Domínio Ultra, provavelmente fora abandonada temendo ataques como o que iriamos fazer. Saltamos de pedra em pedra e cruzamos o riacho. A trilha ascendia por uma colina íngreme e escorregadia, culminando num cume que oferecia vasta visão dos arredores.
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Canções de Ultramar, Livro 1
FantasyA nove anos, uma frota de navios Drakkar foi vista chegando pelo Mar Ocidental, em direção à Mar-Krag. Pouco se sabia daquele povo, mas logo soube-se que haviam chegado para ficar. Anos se passaram, e as guerras entre os Ultras e os Continentais, ch...