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O impacto de centenas de homens colidindo contra centenas de homens é ensurdecedor. Nossa parede de escudos estava sólida, com uma coluna com cinco homens de profundidade.

— Fiquem firmes! — gritei.

Gash'nak estava a minha frente, seu tamanho de goblin era perfeito para me proteger das laminas quem vem por baixo, e sua força era enorme. Knut estava ao meu lado esquerdo com seu machado e Louis estava atrás de mim com uma lança. Olhei para os rostos dos homens ao redor, fechados pelas proteções dos seus elmos. Eram olhos de medo, então senti um alívio por não ser a única. Fale o que quiser, não existe um homem nesse mundo que não tema a morte; fingíamos bem. Eu apoiei meu escudo com às duas mãos e cravei meu pé na areia o mais firme que eu consegui.

Naquele momento, fiquei em silêncio, o ultimo folego antes do mergulho, assistindo à parede de escudos Rurguêsa avançando contra a nossa. No último momento, fechei a fresta e retesei todos os músculos. Então, a eternidade... Quando se está na primeira fila de uma parede de escudos e vê o inimigo atacando, você se protege, encolhe-se atrás de uma pequena e circular parede de madeira, esperando que ela possa te manter viva, te manter nesse mundo. Na parede de escudos, não há deuses, preces ou magia que possa te ajudar... Só há os homens ao seu redor e a vontade coletiva de se manterem vivos. Seu escudo pode se partir, você pode ser furada por uma lâmina que vem por baixo, ou ter sua cabeça rachada por um machado que vem de cima. Pode ser esviscerada e agonizar com o ferimento, enquanto suas tripas se derramam, sendo pisoteada até a morte entre centenas de homens. No entanto, fica ali esperando que possa sobreviver. O ataque da infantaria Rurguêsa foi forte. Eles vieram direto contra nossos escudos e tinham a vantagem de estar em terreno mais alto da praia, investindo com força. Fui empurrada contra meus homens e temi que a nossa parede se rompesse.

— Firmes! — supliquei.

O ataque inimigo foi perdendo força. Posicionei-me, levantei meu sax e golpeei por baixo do escudo na altura da virilha. Senti carne sendo cortada e ouvi um grito. Torci a lâmina, puxei de volta e repeti o movimento. Senti a pressão sobre meu escudo ser aliviada. Abaixei o escudo e golpeei por cima. Desta vez, senti a lâmina atingir malha de aço, golpeei novamente às cegas e, então, senti a resistência cedendo e a carne macia envolveu minha lâmina em um suave abraço. Ouvi o grito, torci a lâmina e um líquido quente expirou no meu braço, deixando o cabo do sax escorregadio.

— Firmes, homens, matem! — gritei.

Knut usava seu machado para enroscar e puxar os escudos inimigos, e Louis, atrás de mim, usava sua lança nas frestas da parede inimiga, e vi que ele era obstinado e corajoso. Gash'nak golpeava por baixo com sua adaga curvada, cortando tornozelos e furando virilhas. Nós quatro estávamos infligindo grandes danos ao inimigo. Os Rurguêses perceberam que deveriam nos evitar. A luta prosseguiu por muito tempo. A primeira fila estava cansada, e meus braços queimavam, não havia ar para respirar. Peguei em meu alforje um frasco do meu elixir e bebi o líquido quente. Senti minha energias retornando. Absorvi mais um pouco de Seithr armazenada no punho de marfim do meu sax e fortaleci minha proteção.

— Não estamos progredindo... — disse Knut ao meu ouvido — Os homens estão exaustos.

— Precisamos romper a parede deles — disse Louis — Ou então vamos ter de recuar para os navios com os arqueiros acertando nossas costas... Esse não é o nosso dia.

— Vamos flanquear! — respondi — Isso já durou muito tempo... Venha Gash'nak, vamos acabar com a raça deles.

Abri caminho pelo meio da parede de escudos até a retaguarda. Knut e Louis me seguiram, e outros homens assumiram nossa posição.

— Venham comigo! — gritei e corri para a ala direita com os homens da retaguarda.

As flancos são a região mais suscetível de uma muralha de escudos, então contornamos e atacamos o lado oposto na batalha contra Rurguêsa individualmente. Éramos apenas quatro. Indivíduos se desgarraram da formação e se prepararam para confrontar-nos. Guardei meu sax e puxei minha Grinfrost da bainha. Tomei fôlego e recitei as palavras de encantamento arcano Rime-thorn! "Nevasca". Minha espada assumiu um tom frio e azulado. O primeiro oponente que avançou desferiu um golpe forte, defendi com meu escudo, aproximei-me e ataquei seu elmo, mas ele bloqueou, recuei e esquivei uma outra lâmina que vinha em direção ao meu rosto. Dando um salto para trás, deslizei a espada na perna de um terceiro e cravei a lâmina em seu peito.

Canções de Ultramar, Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora