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Voltei para a fortaleza de Beowulf, e as ruas da cidade estavam enfeitadas com ramos de flores que forravam o chão. As pessoas encheram as ruas para me receber, e todos me conheciam, mas agora era diferente. Eu era a filha de Beowulf, e fui recebida como se fosse uma princesa que regressa ao lar. Ao chegarmos ao salão, os capitães de Beowulf estavam reunidos, segurando chifres curvados de hidromel. Beowulf estava de pé no meio do salão com um embrulho nas mãos. Eu me aproximei e fiquei de frente para ele.

— Filha... Neste dia, receba uma parte de sua herança, para seus filhos e os filhos deles. — disse meu pai.

Sobre a mesa de carvalho, um embrulho cuidadosamente disposto chamava a atenção, destacando-se pela sua simplicidade e mistério. Beowulf estendeu a mão com confiança e pegou o embrulho, trazendo-o em direção a mim com um gesto seguro e determinado. Seus olhos brilhavam com uma expectativa contida, como se soubesse que algo especial estava prestes a ser revelado. Com cuidado, minhas mãos curiosas desfizeram o nó do tecido e deslizaram a tira de couro que o envolvia. Um leve frêmito percorreu meu ser quando a revelação se desdobrou diante dos meus olhos. Ali, delicadamente protegida pelas camadas de tecido, repousava uma cota de malha de uma beleza inigualável.

Era uma peça deslumbrante, feita de um material que reluzia com um brilho celestial. A malha, fina e perfeitamente trabalhada, emanava uma tonalidade dourada que parecia capturar os raios de luz e refleti-los de volta ao mundo. Era como se a própria aurora tivesse sido tecida em cada elo, conferindo à armadura um esplendor incomparável. Mas o que verdadeiramente surpreendia não era apenas a sua beleza, mas sim a origem do material de que era feita. Pedra da Lua, um metal precioso e lendário, conhecido apenas pelos Altos Elfos em sua ilha distante. Um segredo guardado com tanto zelo que poucos fora de suas fronteiras haviam sequer ouvido falar.

— Uma malha de Pedra da Lua! — exclamou Beowulf, e o salão ressoou com murmúrios e cochichos.

Beowulf proclamou:

— Astrid Beowulfdottir... Este é o nome dela, e qualquer um que disser o contrário será enterrado de cabeça para baixo!

Ele me abraçou com entusiasmo.

— Quero ser uma Valquíria! — sussurrei em seu ouvido.

— Eu sabia que diria isso! — respondeu Beowulf — Em breve, iremos para a guerra, filha, e você irá comigo... Mas uma guerreira não pode ir a guerra sem sua espada.

Ele se virou e os escravos trouxeram outro embrulho. Um menor e mais longo. Eu desenrolei o tecido e era uma espada Ultra, forjada de aço de varias camadas. Eu o abracei e fizemos um banquete. Os dias de inverno profundo passaram. A guerra de Beowulf finalmente começou, e eu, com dezesseis anos, estava no estabulo cuidando dos cavalos, quando Beowulf se aproximou.

— Filha! — chamou ele enquanto eu escovava o cavalo — Vamos caçar hoje!

— Sim, senhor! — respondi.

— Vá ao canil chamar Eorluf e traga os lobos! — ordenou ele.

Eu fui chamar Eorluf, o guarda-caça de Beowulf. Beowulf estava ocupado com os preparativos para a guerra na primavera. Era uma guerra de retaliação, já que bandos de Rurguêses haviam invadido nossas terras e roubado armazéns, gado e assaltado a casa de um dos homens de Beowulf e levado suas três filhas. A intenção era marchar para o território Rurguês, para retaliar o ataque, roubar gado, mulheres e prata, além de construir alguns fortes fronteiriços para proteger nossas terras. Empurrar os Rurguêses mais para longe.

— Vamos criar uma terra militarizada entre nós e eles — disse Karl — Estão muito próximo de nós e isso facilita seus ataques a nossas terras.

— Não vai ser fácil! — disse Helvec — Eles conhecem o território melhor que que nós, e estarão em maior numero caso venham homens do sul de Rutemburgo.

Canções de Ultramar, Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora