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O acampamento de Bjorn ficava em uma enseada na costa sul de Ponta Tempestade, próxima à fronteira com as terras Rurguêsas de Rutemburgo. A enseada tinha uma entrada estreita, com um bolsão de água no interior onde os navios eram encalhados na praia. O dia estava nublado e cinzento. Os primeiros sinais das monções haviam chegado, e o ar úmido encharcava a roupa. Nós aproximávamos da praia. O drakkar fora habilmente conduzido e rumou a uma área vazia da praia, repleta de navios. Nos aproximamos, até que os homens curiosos na praia estivessem perto o suficiente para ver quem eram os recém chegados e a quem serviam.

— Vamos encalhar ali! — disse Karl, apontando para uma parte da praia vazia.

— Não precisa escutar esse bode velho! — gritou Bjorn da praia.

Eu fui até a lateral do navio e olhei para ele. Um gigante loiro, com um tapa-olho e uma barba e presa por anéis de ferro, usava uma capa de pele de urso polar nos ombros. Os pelos da capa, soprados pelo vento, tampavam parcialmente seus rostos e orelhas. Seu cabelo estava solto. Eu sorri ao vê-lo. A visão de Bjorn naquele dia ficou gravada nitidamente em minha memória até hoje em dia.

— Eu esperava que não fosse mais ver a sua cara, estava torcendo para o Karl ter trazido de volta o meu drakkar — disse ele — Espero que tenha cuidado bem dele.

— Cuidei como cuida-se de um filho, e ele está melhor agora, servindo a um Senhor de coragem! — respondi — Não um caolho medroso.

O drakkar encalhou na areia, e eu pulei a amurada e fui até ele. Ele deixou escapar um sorriso do meu insulto e depois soltou uma gargalhada, me agarrou e estralou minhas costas com um abraço forte.

— Bom te ver, irmãzinha! — disse Bjorn.

Bjorn me soltou e apertou a mão de Karl.

— Prazer em te ver, velho... Pelo menos serviu para cuidar da minha irmãzinha! — disse Bjorn.

— Cuidado... Se falar assim comigo, eu arranco esse seu outro olho, garoto! — respondeu Karl.

— Claro... Vai arrancar com a sua mão esquerda! — provocou Bjorn.

Karl havia perdido a mão do escudo para um machado Rurguês. Então os dois riram.

— Tem muitos navios por aqui — disse Karl.

Bjorn ficou sério e me encarou.

— O pai está aqui! — disse ele — Fomos convocados! — e fez sinal para que o seguisse.

Segui Bjorn pelo acampamento.

— O que o pai faz aqui? — perguntei.

— Guerra... — Bjorn respondeu e passou a mão ao redor do meu pescoço — Uma guerra está vindo.

Passamos por tendas a navios encalhados. Havia fogueiras e guerreiros martelando bigornas. Parecia tudo calmo, mas havia uma tensão no ar.

— Fique em silêncio agora... Estão em reunião! — disse Bjorn.

Na tenda estavam meu pai e outros senhores Ultras, suas roupas e joias de ouro que ostentavam. Cotas de malha brilhantes e espadas ornadas com joias em punhos de prata e ouro. Na tenda também havia anões, dois deles em pé e dois sentados em almofadas purpúreas. Senhores anões, tão bem vestidos quanto os Senhores Ultras. Segui pela lateral da tenda até alcançar meu pai e ficar às suas costas. No círculo de senhores estavam o Jarl Erik Machado de Sangue, de Torre Dourada. A Jarl Freydis Haralddottir, de A Fornalha. Jarl Sigurd Gunnarson, de Castelo Nedence. E o Jarl Beowulf, o Morde-Escudos, meu pai de Chifreprata, e por fim, Jarl Loki Torkinson. Este último, recém-chegado de ultramar com nada menos que sessenta navios... três mil guerreiros Ultras e suas famílias. Os cinco Jarls Ultras em Mar-Krag.

Canções de Ultramar, Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora