Torr partiu na manhã seguinte, enquanto eu estava desmaiada no meu quarto, não se despediu. Quando desci para o almoço, fui avisada que ele havia partido. Acredito que ele deva ter interpretado meu amor por Beowulf como algo mais do que o amor de uma filha por seu pai. Ele estava errado, pois sei que amava Beowulf com todo o meu coração, mas nunca o enxerguei de outra maneira senão como um pai. Eu chorei por ele ter ido com ele, mas fiquei feliz por ter ficado. Não queria partir e deixar Beowulf. Fiquei dias emburrada, descontei minha raiva no treinamento. A cada dia que passava, via minha evolução tanto na arte da espada quanto na magia. Os meses de Orion e do Corvo chegaram ao vale. A colheita foi feita, os animais abatidos e sua carne salgada. Por fim, o mês de Horne trouxe seus ventos gélidos. Após o inverno, uma bela primavera desabrochou no vale, trazendo alívio a todos nós ao vermos as primeiras flores.
— Grinfrost! — gritei
— O que? — perguntou Beowulf
— Minha espada! — declarei e a saquei na bainha — O nome dela é Grinfrost!
— Geada Sombria!? — falou Beowulf — É um nome poderoso, filha... Torr a encantou para você?
A menção do nome dele me causou uma tristeza súbita. Beowulf riu disso.
— Acontece, filha... As vezes não queremos, mas o coração tem vontade própria. Ele quer o que ele quer, só somos felizes, quando fazemos sua vontade — disse
— O que fazer quando o coração está dividido? — perguntei
— Bom, nesse caso..., só nos resta sofrer! — respondeu ele, tocou no meu ombro me puxando para um abraço
Foi então que seis cavaleiros Ultras, montados em garanhões de guerra, chegaram à fortaleza de Beowulf, rompendo a letargia que nos envolvia na serena paz do vale. Bjorn fora convidado a levar sua frota para as terras além de Mar-Krag, a leste, onde os homens que chamávamos de Orientais estavam contratando mercenários. O Earl Harald havia lutado ao lado de Beowulf na Primeira Batalha de Siegen. Quando os exércitos do ducado de Targoviste foram derrotados nos arredores da vila de Siegen pelo Rei Siegrifield. O duque de Targoviste estava por um fio, quando Brokilon ameaçou entrar na guerra. Brokilon viria com todos seus senhores e cavaleiros, assim como os cavaleiros da Aquilônia, um reino ao leste. O rei Siegrifield aceitou a paz com Targoviste, que então pagou somas consideráveis prata, ouro e gado para manter seu titulo. Assim como toda a faixa de terra a oeste das Montanhas Nebulosas já era domínio Ultra. Após muita insistência da minha parte, Beowulf permitiu que eu fosse com Bjorn para o Oriente, desde que levasse Knut como guarda-costas. Eu e Knut havíamos nos afastado, por minha culpa, e ciúmes da parte dele pelo relacionamento que tive com Torr, que era mais velho. Tinha uns vinte e cinco e eu dezesseis.
— Cuide bem dela! — disse Beowulf a Knut.
Beowulf havia presenteado Knut com um linda cota de malha de aço novinha. O jovem assentiu e tomou seu escudo das mãos de seu pai Helvec, abraçou Helder e subimos em uma das carroças que nos levaria ao estaleiro construído às margens do rio Prata, onde os navios de Bjorn estavam encalhados. Helder, o irmão mais novo de Knut, não recebeu permissão para ir, pois era muito jovem, tendo apenas treze anos. Partimos pela estrada que ligava o vale de Beowulf ao estaleiro do rio. Bjorn possuía doze navios ancorados ao longo do estaleiro, onde carpinteiros Ultras e escravos Rurguêses realizavam manutenção, limpeza de cracas do casco e construíam navios drakkar com carvalho retirado dos bosques ao redor. Levou dois dias para que todos os homens de Bjorn fossem convocados das terras de Beowulf e viajassem até o estaleiro. Os navios foram carregados com suprimentos, em menos de uma semana do convite de Earl Harold, a frota de Bjorn descia o rio.
— Astrid... A guerra e a gloria nos chama, e você está pronta para se juntar a nós como uma guerreira. — disse Bjorn ao leme do drakkar
— Eu estou pronta, Bjorn. Estou ansiosa para provar meu valor e lutar ao seu lado. — respondi — Eu não conheço a dor ou o medo, sou Renascida Ultra! Grinfrost minha espada está ansiosa para tomar vidas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Canções de Ultramar, Livro 1
FantasyA nove anos, uma frota de navios Drakkar foi vista chegando pelo Mar Ocidental, em direção à Mar-Krag. Pouco se sabia daquele povo, mas logo soube-se que haviam chegado para ficar. Anos se passaram, e as guerras entre os Ultras e os Continentais, ch...