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Louis veio até mim, ao leme. Vestia um gibão gasto de tom verde, botas de cano alto e calças marrons. Não possuía joias e usava um cinto desgastado de couro, de onde pendia um punhal. Tinha braços fortes, cabelo curto e preto, como todos os Rurguêses, mas exibia grossas cicatrizes no peito e nas costas, sinal de que sempre fora um encrenqueiro.

— Passamos pela parte mais difícil... — disse ele — E agora? Vai cortar minha garganta e me atirar ao mar?

— Conheces bem a região e as feras deste lugar, tenho que admitir... — respondi — Sabe usar uma espada?

— Nunca fui ensinado... Sei usar arco e sei pescar! — respondeu.

— O que achas, Karl? — perguntei — Devemos levá-lo conosco ou jogá-lo ao mar?

— Será que ele consegue lutar contra seu povo? — perguntou o velho — Onde reside sua lealdade?

— Minha lealdade reside em mim mesmo, e nas cicatrizes dos açoites nas minhas costas — respondeu ele — Me pague justo e lhe servirei, senhora.

— Eu o aceitarei a meu serviço, é livre para partir quando quiser, mas se me trair vou fazer com que essas cicatrizes em suas costas seja como um castigo de uma mamãe amorosa, quando eu acabar com você — respondi — Veremos onde reside sua lealdade.

Continuamos a viagem, e ao meio-dia uma forte chuva e neblina cobriram o horizonte. A frota virou buscando a aproximação da costa, o que acabou por nos salvar. Entendi por que os Frouxos chamavam aquele lugar de Ponta Tempestade quando uma chuva torrencial nos atingiu. Nunca havia visto uma chuva como aquela. A frota lutava para se manter unida. Quatro dias se passaram sob chuva intensa até que o navio de Bjorn sinalizou ter encontrado a boca do rio.

— É o Ladrem? — perguntei a Louis.

— Sim, é o primeiro ramo do delta. Existem mais dois menores seguindo a costa, mas são mais rasos — respondeu ele — Esse é o melhor para subir o rio.

— Luzes na costa! — Gritou Gash'nak no topo do mastro.

Virei na direção que ele apontava, mas não consegui ver nada. Nastya se aproximou.

— O que está vendo? — perguntei à mestiça.

— Há uma fortaleza ali! — ela apontou.

— Louis! — chamei o Rurguês — Que lugar é aquele? — perguntei.

— Não sei, senhora — respondeu — Não estava ali antes.

— É a fortaleza nova que Rutemburgo construiu para bloquear o rio! — respondeu Knut.

O navio de Bjorn se aproximou, assim como o navio de Jarl Loki. Cordas foram lançadas, e eu pulei para o Rompe Tormentas, o navio do Jarl.

— É ali... — disse o Jarl, usando as mãos para proteger os olhos da chuva — Parece fácil Bjorn, tem uma corrente bloqueando o rio... Você e Astrid, vão atacar a margem direita. Eu e meu filho Sigtryggr vamos atacar a fortaleza maior à esquerda. O resto da frota vai esperar liberarmos a passagem para subir o rio.

Nós nos separamos, mas Bjorn tinha suas próprias opiniões.

— Desembarque na vila com os meus homens, irmãzinha — disse Bjorn — Vou desembarcar mais para baixo da costa, com o restante dos navios, vou atacar eles por trás! — disse ele.

— Tem certeza? — perguntei — Acha bom separar nossa força?

— Temos que nos preparar para qualquer coisa... Se nós surpreendermos o inimigo, ele logo estará acabado! — respondeu — Que o Deus Sob As Ondas a possua de coragem!

Canções de Ultramar, Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora