Capítulo XVI

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" Querida Katherine,

Precisei me ausentar de Missford por algumas semanas, para um trabalho. Gostaria de ter me despedido adequadamente; como não foi possível, deixo esse bilhete para dizer que sentirei sua falta e pedir que me reserve sua primeira dança no último baile da primavera. Estarei de volta até lá..."

Daniel."

Katherine leu o bilhete mais uma vez. Na verdade, ao longo dos dias que se seguiram, ela leu cada uma daquelas palavras tantas vezes que facilmente havia decorado a ordem, os pontos, as vírgulas e até o tom que imaginava que deveria acompanhar cada palavra.

Receber aquele bilhete foi, para ela, como ter um espaço do coração irremediavelmente aberto. Pensamentos e impressões que havia guardado apenas para si, pareciam se confirmar e a moça não conseguia mais afastar a esperança de que Daniel sentisse por ela a mesma afeição que ela sentia por ele. Katie não chegou a essa conclusão sem nenhum motivo, ela era muito racional para isso. O fato era que um rapaz escrever para uma moça não era algo comum em Bethton. Não era algo que se fazia entre conhecidos, ou mesmo amigos. Era um gesto que sempre indicava algo mais.

E tratando-se de um bilhete que dava informações sobre a ausência de Daniel e ainda continha o pedido de uma primeira dança, não havia, em nenhuma circunstância, a possibilidade de ser algo insignificante. Katherine vislumbrou a possibilidade real de viver a felicidade de um amor correspondido e, sem ao menos perceber totalmente, se entregou completamente a essas esperanças.

É bem verdade que se ela tivesse refletido um pouco mais sobre as implicações de tudo isso toda aquela alegria teria sido, em parte, refreada. O simples fato de que os sentimentos de um pelo o outro era os mesmos, não resolvia tudo. Katherine tinha começado o trabalho como governanta a menos de um ano, a situação financeira da família continuava muito ruim e mesmo que jardineiros ganhassem bem em Bethton, talvez não fosse o suficiente para um casamento naquele momento, uma vez que Daniel era o responsável pelo sustento de sua mãe e de seus irmãos e irmãs mais novos. Mesmo que se confirmasse que os dois corações estavam no mesmo compasso, o futuro dos dois era incerto. No entanto, Katherine não pensou em todas essas coisas, ela vivia a emoção de um amor novo, aliás, seu primeiro amor. Seu temperamento sempre sensato, agora sentia o impacto de todas aquelas novas emoções e por semanas tudo o que realmente tomou seus pensamentos a respeito de Daniel, dizia respeito ao momento em que dançariam juntos no baile.

Se por dentro tudo isso ocupava a vida de Katherine, por fora ela continuava a mesma, talvez ainda mais sorridente e gentil, dada a alegria de seu coração. Ela cuidava das crianças e do andamento da casa que infelizmente agora contava com a presença do patrão. Theodor Nicholls finalmente tinha voltado da longa viagem que fizera, essa não era a notícia mais animadora para Katie, mas era um fato que não podia ser alterado, então ela só seguia fazendo seu trabalho. No entanto, os primeiros dias após a chegada do sr. Nicholls não trouxeram grandes alterações à rotina da casa, exceto por alguns almoços e jantares desconfortáveis em que a família Nicholls comia tão silenciosamente que era possível ouvir o barulho da respiração de cada um. O encontro entre o Sr. Nicholls e o filho havia sido completamente frio e algo havia ficado bastante claro: um apenas tolerava a presença do outro, mas não havia qualquer sinal de afeto entre eles. Katherine se perguntava se na infância do rapaz, ele tinha vivido o mesmo que os seus irmãos viviam. Claro que sim! Por isso ele tinha ido embora na primeira oportunidade e cada volta a Christhall parecia uma tortura.

Com exceção dessas refeições, nem um pouco aconchegantes, o contato entre os Nicholls era mínimo. O Sr. Nicholls passava o dia no escritório, a sra. Nicholls, voltou a se sentir indisposta e ficar no quarto a maior parte do tempo e Charles Nicholls passava todas as manhãs caçando nos arredores da propriedade ou lendo em seu quarto. Heloise e Arthur seguiam sendo os únicos elementos que davam um pouco de vida aquele ambiente melancólico. As coisas continuaram assim, até ser decidido que, já que Charles estava em casa, deveria ser oferecido um grande jantar em Christhall, antes do baile de final de primavera. Era hora dos Nicholls manterem as aparências. Pelo menos quinze famílias estariam presentes, haveria música, dança, charadas e Katherine foi até convidada a permanecer por perto, depois que as crianças dormissem e assim poder participar um pouco da diversão.

As crônicas de Bethton: Katherine EllisOnde histórias criam vida. Descubra agora