Capítulo II

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Demorou uma semana para que os dois irmãos voltassem a falar do assunto. No dia posterior ao jantar com os Blankford, Thomas precisou viajar com urgência até o centro de Eithtwon para resolver alguns negócios e por conta de uma tempestade de neve, que bloqueou todas as estradas, não pôde retornar para casa até o primeiro dia da semana seguinte.

Katherine não pôde evitar sentir uma pontada de desânimo após receber um recado do irmão dizendo que ele estava bem, mas que não retornaria por alguns dias. Se o tempo estivesse bom, poderia fazer longas caminhadas pelo campo, visitar algumas famílias amigas que viviam nos arredores ou receber ela mesma alguma de amigas para um chá. Considerou a ideia de ficar trancada sozinha em casa por tanto tempo e chegando a conclusão de que não havia outra opção, buscou rapidamente espantar os sentimentos de melancolia. Não era de sua personalidade dar muito espaço para tristeza a não ser que isso fosse algo realmente necessário. Resolveu guardar a grande dose de desanimo que poderia gastar naquele momento para uma ocasião em que ela fosse mais útil e começou a pensar em tudo que poderia fazer para ocupar o seu tempo e não se sentir tão solitária. Diariamente, realizou sua série de rotineiras tarefas: costurou, bordou um lindo lenço que pretendia presentear a Sr. Wood que acabara de ter um bebê, praticou desenho e se deliciou em longas horas ao piano.

No entanto, foi na companhia de algumas pessoas que ela encontrou grande deleite para aqueles dias de confinamento. Primeiro, das suas queridas Eleanor e Marianne, personagens de seu livro favorito, o qual ela já lera tantas vezes que era fácil considerar as personagens do romance como quase reais e como companheiras de aventuras. Katie tinha recebido sua edição daquele livro de uma tia que morava na Inglaterra, já que no pequeno e reservado Bethton não era tão fácil encontrar obras de autores estrangeiros. A outra companhia que tornou aqueles dias não apenas possíveis, como também agradáveis foi a da srt.Ward, cozinheira da família.

Cozinhar era uma das grandes paixões da vida de Katherine. Ainda muito pequena, gostava de observar e ajudar a srt.Ward, que cozinhava para sua família desde que ela se lembrava, a preparar tortas e doces. No período em que estudou no Internato em Eithtwon, além das incontáveis aulas de etiqueta, eloqüência, literatura e idioma moderno, participou de várias aulas de culinária e podia facilmente preparar diferentes tipos de pratos deliciosos. Assim dividiu, ao longo daquela semana, por diversas vezes, a cozinha com a srt. Ward. A cozinheira devia ter aproximadamente 40 anos, tinha uma altura mediana e o rosto, embora já apresentasse algumas marcas da idade, guardava traços muito bonitos e distintos. A mulher não falava muito embora fosse sempre solicita e não demonstrasse qualquer traço de irritação por Katherine se intrometer em sua cozinha.

Katherine pensava que tanto silêncio se devesse à timidez da senhora Ward ou que talvez fosse apenas uma maneira de preservar a distinção senhora, empregada. Elas dividiam a mesma cozinha, mas não eram amigas, algo assim podia passar em sua mente. No quinto dia após Thomas ter partido, Katherine não se importava mais com as razões da Srt. Ward. Ela queria conversar, queria saber mais sobre aquela mulher que estava a tanto tempo na sua vida, mas de quem conhecia muito pouco.

Enquanto Katherine preparava uma massa de biscoito e a srt. Ward terminava uma sopa para o jantar a jovem arriscou uma conversa. E se ela soubesse o resultado que aquela ação teria, provavelmente, arriscado com bem menos receio.

- O cheiro dessa sopa está delicioso.

A empregada levantou os olhos da grande panela e disse um discreto "obrigada" para Katerine.

-Srt. Ward, posso lhe perguntar algo?

-Claro srt. Ellis. Fique a vontade.

-Há quanto tempo a senhorita trabalha para nossa família?

As crônicas de Bethton: Katherine EllisOnde histórias criam vida. Descubra agora