Capítulo X

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O sr. Nicholls abriu a porta e a encarou, parada e com uma expressão que não escondia todo o choque que estava sentindo. O homem se aproximou da escada com o rosto implacável e falou em um tom de raiva controlada.

-Srta. Ellis? O que faz aqui?

Tirando forças de algum lugar Katherine conseguiu responder, embora o tremor da voz deixasse bem claro que ela havia presenciado tudo:

-Estava terminando de colocar Arthur e Heloise para dormir, mas já estava indo para o meu quarto.

O homem a encarou de maneira ainda mais firme.

-Ouça, senhorita Ellis, sua vida nessa casa pode ser bem simples, se a senhorita não se intrometer em nada que não é da sua conta! Tudo bem?

Katherine apenas assentiu, incapaz de dizer qualquer coisa.

-E não comente nada do que venha a ver ou ouvir com ninguém. Ninguém.

Ao dizer isso o homem desceu a escada, como uma rajada de vento gelada, mas ao chegar lá embaixo lembrou-se de algo e virando abruptamente, apontou para Katherine.

-E uma última coisa: tente não tornar aquelas duas crianças estúpidas, mais idiotas do que o que elas já são. Faça apenas o que é paga para fazer e não incentive a inutilidade deles.

***

Naquela noite, Katherine não dormiu. Ela apenas orava e chorava e quando achava que as lágrimas finalmente tinham acabado, descobria que ainda tinha um estoque cheio delas. Em um determinado momento da madrugada, não sabia sequer qual o motivo principal do choro. Chorava de raiva do patrão. Chorava de compaixão pela patroa, chorava se sentindo impotente, chorava pensando nas crianças e chorava pensando em sua própria história. Por que ela estava passando por aquilo novamente? Ela já havia passado tantas madrugadas daquele jeito. Encharcando o travesseiro e se perguntando se aquela dor nunca teria fim. Katherine lembrava como se sentia desconsolada em meio às noites frias do internato e as noites geladas em sua própria casa. Por muito tempo, durante aquelas madrugadas, ela só teve suas lágrimas, até que um dia, através de Thomas, Katherine conheceu de verdade a Deus e suas madrugadas continuaram banhadas de lágrimas, mas, a partir daquele momento, além das lágrimas ela tinha suas orações e a certeza de que era ouvida. Naquela noite, em Cristhall, Katherine mais uma vez abriu longamente seu coração para o seu pai celeste.

Quando o dia finalmente clareou, ela se sentia cansada, mas ao mesmo tempo sentia uma paz constante pairando em seu coração, era a paz que a encontrava quando ela entregava suas dores e confiava na soberana sabedoria do dono da sua vida. Naquela manhã ela não sabia o que viria, nem se seria forte o suficiente para continuar alí, mas sabia que podia seguir em frente, mesmo sem ver claramente o caminho, e seguiu, porque havia muito trabalho a ser feito.

Nos dois dias seguintes, Katherine não viu os patrões. O senhor Nicholls passava o dia trancado no escritório e, em grande medida, ela se sentia grata por isso, em compensação a ausência da Senhora Nicholls deixava Katherine apreensiva. A patroa não havia saído do quarto alegando indisposição, uma empregada havia sido designada para levar suas refeições, mas todos os pratos voltavam praticamente intactos. Katherine cuidava do seu trabalho na residência e dedicava toda a atenção que podia as duas crianças, tentando diminuir, pelo menos um pouco, o ar de solidão que pairava sobre Cristhall. No entanto, no final daquela semana o ar na residência dos Nicholls passou a ser não apenas de solidão, mas também de preocupação. Arthur adoeceu. Em uma manhã o menino acordou ardendo em febre, Katherine tentou o que pôde, mas a febre não cedia e antes do horário do almoço o menino já parecia incrivelmente pálido e fraco. Tentando manter a calma Katherine ordenou que um dos criados fossem imediatamente ao centro da cidade chamar o médico. Enquanto a ajuda não vinha ela resolveu avisar a mãe de Arthur o que estava acontecendo. Não demorou muito e a Sra. Nicholls chegou ao quarto do filho transbordando de desespero e perguntas:

As crônicas de Bethton: Katherine EllisOnde histórias criam vida. Descubra agora