Cápitulo XI

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Querido Thomas,

Como é maravilhoso poder preencher essas linhas apenas com notícias boas. Na última carta que lhe escrevi, não deixei dúvidas sobre o quanto estava aflita pela saúde de Arthur. Foi muito bom receber sua resposta com palavras de ânimo e com a certeza de que tudo que acontece está no controle do nosso bom Deus! Com a doença de Arthur percebi duas coisas: uma é o quanto perco rápido a confiança e me sinto tentada a ser levada pelo desespero, mesmo que por fora pareça bem. A outra é o quanto estou apegada a essas crianças.

Thommy, sei que sou apenas a governanta, mas os amo como se fossem meus próprios irmãos. Os irmãos mais novos que sempre quis ter. Assim, meu coração está transbordando de alegria e gratidão por ver Arthur completamente saudável novamente. Ele voltou a investigar seus insetos e parece tão animado. Heloise também está bem e ver a rotina da casa voltando ao normal é reconfortante depois de dias de tanta apreensão.

Também estou tão grata pelos novos amigos que fiz até o momento. Daniel, o jardineiro de quem eu falei nas duas últimas cartas, trabalhou aqui durante toda a semana passada e conversamos muito, ele é sempre muito divertido e atencioso, outra companhia muito agradável tem sido a da srta. Webbs, que da ultima vez que me viu pediu que eu a chamasse apenas de Tine! Ela é tão animada e cheia de vida Thommy. Acho que isso acontece com a maioria das pessoas de Missford, todos, ou quase todos, parecem ter dentro de si, um pouco do ar da primavera. E por falar em primavera o baile foi um sucesso. Fiquei em Cristhall com as crianças, mas Tine me disse que foi provavelmente a melhor noite de todas.

Espero poder participar do próximo. Não há como negar, meu querido irmão, essa pequena cidade está ganhando cada vez mais meu coração. No entanto, há uma parte dele que é apenas sua e essa parte está sofrendo de tanta saudade. Venha me visitar, Thommy e me escreva, me escreva sempre.

Com amor, sua Katie

Katherine selou a carta e deixou em cima da escrivaninha, tentaria enviar ainda naquele dia, mas naquele momento precisava encontrar Heloise para a sua aula de matemática. A menina sempre sumia quando sabia que teria lições de algo que não gostava. Antes de ir encontrá-la passou pela biblioteca onde Arthur estava tendo aula de ciências com seu professor particular. Ficou alguns minutos encostada à porta aberta observando a concentração do menino. Era impossível mensurar o quanto ela estava grata por ver Arthur bem e cada dia mais forte. Saiu silenciosamente da biblioteca e estava indo em direção ao segundo andar quando encontrou a sra. Nicholls:

-Srta. Ellis, que bom que a encontrei!

Katherine cumprimentou a patroa com uma breve reverência, ela parecia relativamente mais animada e o machucado ao redor do olho estava com um tom de roxo mais leve. Ainda assim, Katherine não pôde deixar de perceber o quanto a Selina Nicholls parecia sofrida e exausta.

-Em que posso ajudá-la, senhora?

-Fomos convidados por Eleonor Harris para um almoço amanhã em Charityhall. Sairemos às dez e meia. Por favor, se certifique de pedir que duas carruagens abertas sejam preparadas.

-Perfeitamente, senhora.

-Naturalmente, a senhorita está incluída no convite. As crianças estarão lá e precisaremos da sua supervisão. A senhorita realmente ganhou a confiança de Heloise e Arthur e eu não gostaria de tira-los de casa sem a sua companhia.

Ao falar isso, a sra Nicholls deu um sorriso delicado, mas que revelava cumplicidade. Katherine acreditava que por traz de toda aquela reserva e descrição existia algum início de amizade entre as duas.

Heloise ficou encantada com a notícia de que visitaria a sra Harris no dia seguinte, para ela aquela era, sem dúvidas, a senhora mais maravilhosa de todo o mundo, depois da sua amada vozinha, é claro. Foi através dela que Katherine ficou sabendo que em Charityhall havia um quarto, conhecido por todos como o quarto mágico dos brinquedos. A menina garantiu que lá era realmente mágico e não falou de outra coisa pelo resto do dia. Katherine precisava confessar que também estava empolgada em passar algum tempo com sua nova amiga Tine, que era a dama de companhia da senhora da residência. Na manhã seguinte, muito cedo, Heloise estava no quarto de Katherine tentando sem sucesso abrir o armário.

As crônicas de Bethton: Katherine EllisOnde histórias criam vida. Descubra agora