As crônicas de Bethton: Katherine Ellis

Capítulo XXVI

Por pelo menos quarenta minutos, Katie mal teve tempo de respirar. Todas as meninas vieram diretamente à procura de arranjos de flores para os cabelos, antes de se espalharem para ver as demais atrações. Ela e Daniel trabalharam incansavelmente; é claro que, até pela experiência que tinha, o rapaz era mais ágil e mais habilidoso do que Katherine, mas no final  tudo correu bem e a demanda de coroas de flores diminuiu um pouco.

- Acho que se você tiver outra coisa para checar, já está liberada. Quase todas as crianças já chegaram e creio que dou conta das que ainda estiverem chegando. É claro que se preferir ficar aqui, eu vou achar muito melhor.

Daniel disse essa última parte em um quase sussurro brincalhão, que Katie retribuiu com um sorriso e leve levantar de ombros que demonstrava seu desapontamento por não poder ficar. Ela tinha certeza que amaria passar a manhã apenas naquela barraca, mas sabia que Tine deveria estar precisando de sua ajuda em algum lugar, além de precisar checar Heloise e Arthur também.

- Acho que isso é um não- Daniel respondeu inclinando a cabeça- Então, senhorita Ellis, só me resta expressar minha mais sincera gratidão por toda a sua gentil ajuda, espero vê-la novamente em breve em algum lugar desse belo evento.

Katie riu da performance exagerada de gratidão e sugeriu ao rapaz que quando tivesse um tempinho fosse até a mesa de doces experimentar um pouco do que havia sido preparado.

-Eu fiz alguma das tortas. Tem uma de mirtillos que tenho certeza que  você vai adorar...

Daniel torceu o nariz

-Oh, tinha esquecido que a senhorita tinha esse defeito de não só gostar de tortas de mirtilos, mas também prepará-las, compartilhando, assim, esse mal com o mundo.

-Pois eu não esqueci que o senhor tinha esse defeito gravíssimo de desprezar o melhor sabor de torta já criado, mas ainda tenho a suspeita de que só pensa assim, porque não abriu o coração para experimentar. Acho que deveria tentar hoje...

- Só a minha afeição pela senhorita poderia me fazer prometer fazer algo assim.

Katherine sorriu mais uma vez sinalizando, assim, que estava finalizando a brincadeira, fez uma rápida reverência e saiu a procura de Tine. Alguma em sua mente disparou sobre o fato de Daniel nunca perder uma oportunidade de reafirmar seu afeto. Ela gostava, é claro, mas precisava concordar com Tine de que na situação em que estavam, sem nada firmado, era meio perigoso. Gostaria que pudessem conversar de vez em quando como era antes dele se declarar: como dois bons amigos, que era o que ela esperava que continuassem sendo mesmo se viessem a casar e compartilhar a vida para sempre um com outro.

Enquanto procurava Tine, Parou no meio do jardim e deu uma olhada ao seu redor. Era incrível o que estava acontecendo. Havia crianças das mais variadas faixas etárias espalhadas por todos os lugares. Algumas pintavam, outras corriam, algumas se acomodavam ao redor do piano para ver a srta. Yonge, uma jovem promissora pianista que havia sido convida pela srta. Harris, tocar canções alegres e ritmadas no piano. Era um ambiente cheio de vida e durante o dia, enquanto ia de uma lado para outro, exercendo as mais diversas funções, Katherine sentiu cada vez mais o coração aquecer. Como era incrível ver tantas crianças se divertindo e desfrutando, juntas, de algo tão precioso!

Em determinado momento da manhã, avistou a chegada de um grupo composto por uma mulher e cinco crianças de variadas idades, eram os Jones. Katie ainda não tinha tido a oportunidade de vê-los depois da visita que fez com Tine até a casa deles. Que alegria eles estarem ali naquele momento! As meninas mais velhas chegaram ao lado da mãe, mas logo se soltaram e saíram em direção às atividades do jardim, enquanto Katherine se aproximava para dar as boas-vindas à senhora de aparência cansada, mas pacifica: