Capítulo XXIII

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Precisava ver Arthur, ir até a senhora Nicholls e descobrir se ela já estava ciente de tudo aquilo, garantir que todos almoçassem e, é claro, enfrentar a conversa com o patrão... Decidiu que, definitivamente, a prioridade absoluta era Arthur. Seu coração não estava se aguentando de preocupação enquanto se dirigia até o quarto do menino.

Bateu na porta delicadamente, mas não teve resposta. No entanto, ouvia claramente os soluços vindo do interior do quarto. Pensou por um minuto e decidiu entrar. A cena que viu fez seu coração se partir mais ainda. Arthur estava encolhido no canto da cama, tremendo de tanto chorar. No chão, para o susto de Katherine, havia vários vidros quebrados e vários insetos esmagados. O que tinha acontecido ali?

Apesar da curiosidade, a princípio não falou nada. Sentou perto do garoto e afagou suas costas enquanto ele continuava se derramando em lágrimas. Passaram pelo menos dez minutos assim até o momento que o menino se acalmou um pouco para pelo menos tentar dizer alguma coisa.

-E..ele... Ele destruiu tudo! Não fui eu que fiz isso, senhorita Ellis. Não era meu o escorpião que machucou a Helô...

E a explicação de Arthur foi interrompida por mais uma torrente de lágrimas.

-Eu... Eu estudo muito todos os insetos. Não mexo com os perigosos... e agora não tenho mais nenhum. Ele destruiu tudo...

Katherine deu uma olhada no quarto. A prateleira em que Arthur colocava os insetos vivos que observava e cuidava antes de devolver para a natureza estava vazia e todos os potes estavam quebrados no chão. Katherine não conseguia acreditar que o senhor Nicholls tinha feito algo assim... e o pior é que até a prateleira onde ele guardava os insetos que já tinha encontrado mortos e que usava para estudar estava vazia e com tudo destruído ao redor. Katherine sabia como tudo aquilo era importante para o seu garotinho e sentiu uma lágrima rolar por sua bochecha antes que pudesse controlar. Tentando se recompor, abraçou Arthur e ouviu o menino falar por mais alguns minutos. Depois tentou tranquilizá-lo.

-Tudo bem, meu querido. Eu sei que não foi por sua causa que nada disso aconteceu. Você ficou tão assustado com o escorpião quanto todos nós. Não se culpe e não se preocupe, a Heloise está bem. Ela está descansando agora, mas logo estará pronta para brincar com você.

O menino tentava parar de chorar, mas era nitidamente difícil para ele. Katherine chegou à conclusão que a melhor coisa a ser feita no momento era tirá-lo daquele ambiente. Ele precisava almoçar, de qualquer forma, e aquela bagunça precisava ser limpa. A única questão é que não tinha certeza de para onde deveria levar o menino. Não queria nenhum lugar da casa que ele pudesse esbarrar com o pai. Resolveu levá-lo para almoçar na cozinha, era o mais seguro. Os dois desceram e Katherine preparou pessoalmente um prato para o garoto, enquanto solicitava que o quarto fosse organizado e que tudo de doloroso para Arthur fosse retirado.

Enquanto Arthur mexia no prato, sem de fato conseguir comer nada, Katherine foi em direção ao local em que a patroa estava. Como imaginava, estando em seu quarto privativo, ela não tinha tido conhecimento de nada que havia acontecido. Tentou contar sobre Heloise, evitando qualquer alarme desnecessário e achou por bem não contar nada a respeito da situação com Arthur, mas não podia esconder dela que o marido havia retornado. Todas as informações pareceram perturbar muito a mulher, que instantaneamente empalideceu.

-Obrigada, senhorita Ellis. Logo vou subir para ver Heloise e encontrar Theodor. Obrigada pelo seu bom trabalho.

Katherine fez uma reverência pensando que não receberia o mesmo tipo de avaliação a respeito de seu trabalho de seu patrão e não demorou muito para confirmar suas suspeitas. Estava indo em direção à cozinha ver como estava Arthur quando um dos empregados veio avisá-la que o Senhor Nicholls a aguardava no escritório. Não conseguiu evitar uma pequena expressão audível de desânimo, mas respirou fundo e se encaminhou para acabar logo com aquilo. Ao passar pela sala deu de cara com Charles se encaminhado para a área de jantar, provavelmente indo almoçar. Katherine tinha deixado tudo pronto para que o almoço fosse servido e não tinha vontade de falar qualquer coisa com o rapaz, então apenas fez uma reverência ao passar por ele e seguiu em frente. No entanto, por alguma razão, teve a sensação que depois de passar por ela o rapaz tinha olhado rapidamente para trás.

As crônicas de Bethton: Katherine EllisOnde histórias criam vida. Descubra agora