Duas semanas depois, Arthur estava deitado em sua cama e Heloise estava, confortavelmente, aninhada no colo de Katie. A governanta contava uma história doce, em um tom baixo e tranquilo, como fazia em quase todas as noites em que os pequenos pareciam muito cansados das atividades do dia. Quando percebeu que as duas crianças tinham caído no sono, colocou Heloise no colo e a levou até o seu quarto, depois de cobrir a menina e passar mais uma vez pelo quarto de Arthur, para ver se ele estava realmente bem, desceu para verificar se o chá da Sra. Nicholls tinha sido servido no horário certo. Katie estava cansada e não via a hora de poder ir para o seu quarto e dormir um pouco, mas, depois que as crianças dormiam, ainda havia muito trabalho para fazer preparando a casa e dando instruções aos funcionários para o dia seguinte.
Quando, finalmente, todas as demandas do dia pareciam ter acabado, Katherine deu um suspiro de alívio. Antes de ir para o seu quarto, resolveu passar na "sala da governanta" para pegar o seu diário, porque queria escrever um pouco na manhã seguinte, quando acordasse. Assim que entrou na sala, percebeu que em sua mesa haviam sido deixados dois envelopes: o primeiro tinha a letra do patrão. Ela não precisava nem abrir para saber que, infelizmente, era um comunicado do seu retorno a Cristhall e ela estava certa. O sr. Nicholls estaria de volta em dois dias e deveria ser esperado para o jantar.
O outro envelope tinha uma caligrafia desconhecida, ela leu o nome: Charles Nicholls. O herdeiro dos Nicholls tinha sido poucas vezes mencionado desde que Katherine tinha chegado em Christhall. Ela não sabia muito sobre o rapaz, mas sabia que ele tinha se mudado para a capital logo após completar a maior idade e que não tinha um bom relacionamento com pai, o que não causava nenhuma estranheza. Quando abriu o envelope viu que o rapaz também era esperado para dalí à dois dias e que chegaria para o almoço. Aparentemente, em breve, Christhall ficaria movimentada, mas isso era algo que Katie poderia se preocupar só no dia seguinte, porque naquele momento seus olhos estavam muito pesados e ela só queria dormir.
Depois de descansar, a moça estava pronta para preparar Christhall para receber os Nicholls que chegariam no dia seguinte. No entanto, o trabalho só ficaria para o período da tarde, já que era domingo e ela, a senhora Nicholls e as crianças saíram cedo para o culto matinal. Katie amava começar a semana assim: na pequena igreja branca que tinha ganhado seu coração logo quando chegara a Missford. Lá, sentada, com as duas crianças que tanto amava ao seu lado, ela ouvia com atenção o sermão pregado pelo dedicado pastor da cidade. Naquela manhã, sentiu o seu coração ser animado e encorajado pelas palavras de João 15. Foi muito bom lembrar que ela era um ramo da árvore que é Cristo e que só permanecendo nele, poderia frutificar.
A moça ainda estava pensando sobre isso, quando foi até o gramado cumprimentar alguns vizinhos que também tinham estado no culto matinal e, qual não foi a sua surpresa ao ver Daniel ali.
- Katherine! Já estava indo falar com você.
- Daniel... Olá! Você me disse que sempre participava dos cultos da tarde, com sua família. Não esperava vê-lo.
O rapaz sorriu.
-Sim, mas a senhorita disse que sempre vinha de manhã com os Nicholls e eu queria vê-la.
Katherine passou instintivamente a mão pela saia do vestido, desamassando-a, gesto típico de quando estava nervosa. Ela não sabia como interpretar aquela resposta extremamente direta de Daniel, mas as palavras dele tiveram impacto sobre seu coração, como sempre acontece quando já inclinados a afeição, ouvimos palavras que nos encorajam.
Ela não teve tempo de responder e ele não teve tempo de falar mais nada, porque no minuto seguinte a sra. Nicholls a chamou e alguém veio falar com Daniel sobre o jardim da igreja. Eles inclinaram a cabeça e se despediram com um sorriso. Uma parte de Katherine queria ficar ali e conversar mais com o rapaz, a outra parte estava realmente grata por não ter que ter encontrado uma resposta para o que o ele tinha dito.
Ao chegar em Cristhall, Katherine desceu Heloise da carruagem e os dois saíram logo correndo em direção ao interior da casa. Katie esperou a patroa e caminhou ao seu lado, acompanhando seus os pequenos e delicados passos, quando uma das empregadas veio na direção das duas caminhando tão apressadamente que quase parecia que ela corria. Depois de fazer uma rápida reverência para a sra. Nicholls, virou-se para Katherine e disse em um tom levemente alarmado:
-O sr. Charles Nicholls chegou antes do previsto. Ele está na sala.
Katie entendia o tom da srta. Fall. Christhall não estava pronta para receber Charles Nicholls, mas já que ele estava lá, não havia o que fazer e não era um grande problema, na verdade. Katherine, esperou a sra. Nicholls entrar na casa, em passos bem mais rápidos do que normalmente eram o seus, o que demonstrava a alegria que ela sentia por ter o filho em casa, e deu algumas instruções rápidas para a moça a sua frente.
- Srta. Fall, certifique-se que o quarto do sr. Charles Nicholls seja arejado e, em seguida, que sua bagagem seja acomodada. Eu vou verificar como estão os preparativos para o almoço.
A srta. Fall acenou e saiu, parecendo mais tranquila. Katherine, deu a volta na residência e foi logo até a cozinha dar algumas instruções a respeito do almoço, só depois se dirigiu até a sala, onde encontrou a sra. Nicholls sentada ao lado do filho, segurando suas mãos e ouvindo algo que ele dizia. No outro sofá, estavam Heloise e Arthur, olhando para o irmão e parecendo meio tímidos, o que era normal para Arthur, mas bem incomum para Heloise.
Charles Nicholls estava de costas para a cozinha, assim, só quem percebeu a chegada de Katherine foi a sra. Nicholls, que imediatamente fez as apresentações:
-Filho, essa é a srta. Ellis, a nova governanta.
O rapaz virou e olhou para Katherine. O cabelo dele era loiro como o de Heloise, mas em um tom mais escuro, que dependendo da luz poderia parecer quase ruivo, como o de Arthur. Mesmo sem estar em pé, era perceptível que era um rapaz alto e com uma presença marcante, que se destacava ainda mais pelo seu olhar profundo. Mas não foi nada disso que Katherine reparou naquele primeiro contato. Ela esperava que por ele conhecer Thomas e ter sido, inclusive, responsável por sua indicação ao cargo de governanta, o cumprimento do rapaz seria um pouco mais amistoso, mas não foi. Ele apenas levantou-se, fez uma reverência educada e sem nenhum vestígio de um sorriso, sequer disse:
- Prazer em conhecê-la, senhorita.
Katherine retribuiu a reverência e informou que em breve o quarto dele estaria preparado e o almoço seria servido. Em seguida perguntou à patroa se poderia levar as crianças para o banho.
-Claro. E depois eles devem descer. Vamos almoçar todos juntos hoje.
Era bom ver aquele tom de empolgação, que quase nunca existia, na voz da sra. Nicholls. Ela parecia muito contente por o filho estar em casa e Katie esperava que realmente fosse algo bom, mas precisava confessar que a sua primeira impressão do rapaz não havia sido das melhores. Ele tinha um jeito frio que a deixava desconfortável e parecia que o mesmo acontecia com os dois irmãos caçulas, já que Heloise e Arthur a seguiram até o andar de cima sem dizer uma palavra e só quando saíram do campo de visão do irmão começaram a parecer menos envergonhados.
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Oi, meus amores!
Tiveram a mesma primeira impressão que a Katie sobre o herdeiro dos Nicholls? Me contem o que estão achando da história e, se tiverem gostado, não esqueçam de deixar o voto no capítulo! Muito obrigada pelo apoio de sempre. Até semana que vem!! <3
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As crônicas de Bethton: Katherine Ellis
EspiritualBethton é um pequeno e desconhecido país, com os invernos mais frios e as primaveras mais floridas. Um lugar que como todo os outros é cheio do maior tesouro: histórias! Histórias de todos os tipos e para todos os gostos. Nessa primeira crônica de...