Capítulo I

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Katherine estava na familiar "sala do Piano" da bela residência dos Ellis, seus dedos se moviam suavemente e o resultado disso era uma doce melodia que também soava familiar. Lá fora, a neve caia cada vez mais forte e todo o caminho até a curva que levava para a área Urbana da Imponente Eithtwon, capital de Bethton, estava completamente branco. O que se dizia por aí era que aquele era o inverno mais frio do país em vinte anos. Katerine sentiu um leve tremor apenas por pensar em estar lá fora. Dentro de casa, tudo parecia quente e confortável. As lareiras estavam sempre bem acesas e com farta provisão de lenha. Olhando superficialmente para todo o conforto que a propriedade dispunha ninguém nem ao menos suporia qualquer tipo de dificuldade, mas elas, definitivamente, existiam.

Thomas Ellis entrou na sala, sentou-se na poltrona próxima a janela e, aproveitando cada nota, ouviu irmã tocar. Os dois permaneceram naquele doce exercício por pelo menos meia hora sem dizer palavra, até que, ao final de uma canção de ritmo mais animado, que era a favorita de Thomas, Katerine se deteve e virou-se para o irmão que protestou:

- Katie, por que parou? Continue tocando.

Katie deu-lhe um sorriso afetuoso

- Ah, Thomas, tocar para você é realmente um desafio! Você nunca cansa!

- Como alguém cansaria de ouvi-la? Você é, sem dúvidas, a jovem mais talentosa de toda Bethton, mas eu provavelmente já lhe disse isso.

-Fico realmente grata pelo elogio, mas se você não cansa, sinto lhe informar que meus dedos sim. Além disso, a jovem talentosa aqui está sentindo, realmente, muita fome. Quanto falta para o jantar?

- Não muito e posso lhe dar uma informação um pouco tardia?

Katherine já imaginava o que viria.

- Esqueci de informá-la que teremos companhia para o jantar. Convidei o Sr. e Sra. Blankford para estarem conosco.

- Por mim, tudo bem. Eu sempre aprecio ter companhia, principalmente se eles trouxerem o adorável filinho deles.

- Creio que trarão, sim. Será um tempo muito agradável, tenho completa certeza.

Em momentos como esse, Katerine sempre se sentia grata por ter o mesmo espírito sociável que o irmão. Se não fosse assim, ela não tinha dúvidas de que viveria em constantes problemas, já que fazer amigos parecia ser a atividade favorita de Thomas.

Katerine notou que o irmão parecia confortável e relaxado naquela noite, não que de maneira geral ele fosse alguém estressado e tenso. Longe disso! Thomas era provavelmente uma das pessoas mais amáveis e com o coração mais disposto à felicidade que Katie conhecia, mas, como naquela noite ele lhe parecia ainda melhor, ela chegou à conclusão que seria um bom momento para abordar O assunto. Aquele assunto que durante semanas Thomas vinha propositalmente evitando.

-Thomas?

-Sim.

-Antes de irmos para sala esperar os Blankfords, quero lhe perguntar algo e dessa vez responda-me e não tente desviar o assunto. Por favor.

Ela esperou alguns segundos. Como o irmão permaneceu calado, arriscou a pergunta que arranhava sua garganta há dias.

- Você já pensou?

Thomas olhou pela janela, para imensidão branca do lado de fora. Seus ombros se mostraram instantaneamente mais tensos. Katie sabia que o pedido que fizera não agradava o irmão nenhum pouco. Ele levantou-se e caminhou até o piano, passando a mão pelo cabelo cor de areia que estava um pouco maior que o de costume. Thomas naquele momento não estampava o sorriso que era sua principal característica, isso porque, como Katie uma vez havia observado Thomas sempre estava sorrindo. Ele sorria enquanto andava, enquanto falava e em qualquer outra situação. Era como se seu rosto tivesse congelado para sempre no meio de um sorriso discreto e sua expressão fosse constantemente de alguém que está de bom humor, mas não nesse momento. Naquele momento, parecia mais com alguém cansado e que tinha muito com o que se preocupar.

As crônicas de Bethton: Katherine EllisOnde histórias criam vida. Descubra agora