As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Rafaella encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?
Serenava devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Rafaella fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Madalena e Gizelly.
Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Gizelly.
Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto, Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.
– Olá. – Ela disse docemente. – Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e...
– Não se preocupe, criança. Entre. – Madalena disse, vendo Rafaella (Agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Gizelly.
– Olá, Gizelly. Como está? – Rafaella disse, vendo Madalena voltar a se sentar em sua cadeira. – Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!
– Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada – Madalena disse sorrindo fraco e Rafaella agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Rafaella resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.
– Oh! – Rafaella disse. A menor analisou a expressão da mãe de Gizelly. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. – Viu só, Gizelly? Sua mãe ainda se lembra seus gostos. – Madalena riu baixinho e assentiu.
– Você é muito especial, Rafaella – Madalena disse, causando um sorriso no rosto da menor.
– Obrigada, senhora. – Ela disse sentindo-se lisonjeada. Gizelly, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? – Rafaella perguntou sorrindo. – Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. – Falou rindo.
– Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?
– Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Gizelly? Gostei de conhecer vocês duas. – A porta foi aberta de supetão, roubando atenção do momento para o doutor que entrava na sala.
– Boa noite, moças. Como estamos por aqui? – O homem que aparentava seus quarenta e poucos anos era ligeiramente grisalho, mas incrivelmente lindo e simpático. Temos visita nova para você, Gizelly? – O homem disse em um tom alegre e empolgado.
– Rafaella é nossa nova amiga, Doutor Lucas. – Madalena disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.
– Vamos lá. – Ele disse, abrindo um dos olhos de Gizelly e jogando luz nele. Rafaella pôde ver que os olhos eram castanhos também, uma tonalidade incrível, se fosse ser honesta.
– Você não se incomoda com isso, Gizelly? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. – Rafaella l disse rindo. -- Sou meio explosiva na TPM.
– Como disse que se chamava? – O médico perguntou, se virando para Rafaella.
– Bem, eu não disse. Madalena que me apresentou. Sou Rafaella.
– Certo. Rafaella...
– Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! – Ela disse rindo um pouco envergonhada.
– Muito pelo contrário. Continue falando. – Rafaella arqueou uma sobrancelha.
– Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? – Ela perguntou, vendo Madalena rir.
– Não, querida. – A mulher respondeu gentilmente.
– Rafaella, ande até a porta, por favor. – O homem pediu e Rafa assentiu confusa. – Vá falando. – Que espécie de louco aquele médico era? Rafaella resolveu acatar seu pedido mesmo assim.
– Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente de Gizelly.
– Repita o nome dela. –O homem pediu com veemência.
– Está tudo bem, doutor? – Madalena perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado daquela família.
– Sim. Só preciso que Rafaella repita o nome da Gizelly.
– Claro. Gizelly, eu não sei porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Gizelly". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.
O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Madalena visivelmente comovido. Ele havia se apegado a garota e dizia que naqueles quatorze anos Gizelly lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.
– Senhora Madalena, podemos trocar uma palavra? – Ele perguntou e Madalena olhou confusa e assustada para ele.
– Eu prefiro que Rafaella esteja comigo. – Ela confessou. Você sabe que eu não tenho... mais ninguém, doutor. – Os olhos negros do homem se direcionaram para Rafaella antes de ele assentir.
– Tudo bem. – Ele disse. – Senhora Bicalho, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...
– Oh meu Deus. – Madalena disse levando sua mão à própria boca. – Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha... – A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.
– Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. – Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Madalena sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Rafaella.
– Prossiga, Doutor.
– Bem, o mais estranho de tudo é que, bem... Gizelly só responde à voz de Rafaella. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Rafaella falou e seus olhos a seguiram. Quando Rafaella proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.
- Está dizendo... - Madalena foi cortada pelo Doutor.
– A voz de Rafaella é o estímulo que procuramos todos esses anos para Gizelly, Madalena – Rafaella piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar. Como raios seu dia se tornara tão louco?
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Sobre a mãe da Gizelly, acho que Vó Madá combina mais com a personagem, então a imaginem alguns anos mais nova. hahaha
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Em um piscar de Olhos (Girafa)
FanfictionGizelly Bicalho tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o ca...