Capítulo 23

518 72 9
                                    

De todas as coisas que Rafaella já havia feito em sua vida, essa definitivamente era uma das mais corretas, julgada por ela. Seu dedo voltou a pressionar a campainha e no segundo seguinte Madalena abriu a porta.

– Olá! – Madalena recepcionou com um enorme sorriso. – Por favor, entrem. – Ela disse para Rafaella e seus amigos. Todos haviam sido convidados para o Natal, afinal quanto mais gente melhor para Madalena. Este seria o primeiro natal que passaria em sua casa desde que se acidentaram anos atrás. O primeiro natal que passaria longe do hospital.

– Eu gostaria de agradecer por ter convidado meus amigos. – Rafaella disse, entrando na casa. Rafa apresentou Mari à Madalena e todos retiraram seus casacos, dando uma boa olhada pela casa. Os olhos de Rafaella se prenderam em Gizelly, mas ela os desviou rapidamente. Primeiro tinha algo que fazer. – Podemos conversar um minuto a sós, Madalena?

– Bem... – Madalena disse arqueando uma sobrancelha. – Claro, me acompanhe até a cozinha. – Pediu. – Vocês fiquem à vontade. Já voltamos.

Rafaella acompanhou Madalena até o cômodo, sentindo o delicioso cheiro de algumas coisas que já estavam sendo preparadas. A empregada estava cozinhando, porém Rafa não se importou com sua presença, afinal a mulher usava fones de ouvido e dançava feito louca enquanto cortava algumas batatas.

– Pois não? – Madalena perguntou e Rafaella suspirou, vendo a mais velha se debruçar sobre o balcão.

– É sobre Gizelly. – Disse, vendo Madalena piscar ainda calada, esperando por algo a mais.

– O que tem ela? – Perguntou naturalmente.

– Hm, ontem ela... Digo, isso já veio de antes, desde o assunto das flores. – Madalena franziu o cenho, segurando o riso pelo aparente nervosismo de Rafaella. – A massagem também foi um sinal, mas talvez ela nem saiba o que esteja passando.

– Compreendo. – Madalena disse, balançando a cabeça, fazendo Rafaella gargalhar no momento seguinte.

– Desculpe. Não falei nada coerente, é que estou muito nervosa. – Disse, enxugando o suor das mãos na calça jeans.

– Tudo bem, querida. Não se preocupe. – Madalena disse com gentileza.

– Eu não sei bem como isso aconteceu, mas eu gosto da sua filha de um jeito mais intenso do que eu creio que deveria. Eu peço perdão por isso, eu realmente não sei como controlar e eu não quero que a senhora pense que eu estou me aproveitando dela, porque eu não estou.

– Gosta dela romanticamente, você quer dizer? – Madalena perguntou e Rafaella assentiu um pouco hesitante.

– Ontem ela meio que, hm, me beijou. – Confessou temerosa. – Não foi um beijão, foi um simples esbarrar de lábios, mas eu definitivamente não queria te esconder isso. Se a senhora achar que devo me afastar eu entenderei, apesar de realmente querer ficar por perto.

– Eu já sabia sobre o beijo. – Madalena disse, vendo Rafaella a olhar surpresa. – E não quero que se afaste de Gizelly, Rafaella. De onde tirou isso?

– Não sei. Só entendo que ela tem coisas para lidar: A fisioterapia, as aulas, a readaptação com tudo.

– E você faz tudo isso ser mais fácil para ela. – Madalena disse. – Olhe, criança, se você for paciente e não for machucar a minha menina, estou mais do que de acordo com isso. – Confessou. – Conversei com Gizelly ontem, ela está confusa e acha que você está brava com ela. – Compartilhou. – Isso não será fácil, ela ainda é, na maioria das vezes, a Gizelly ingênua.

– Eu sei. – Rafaella disse, ligeiramente mais aliviada. – Eu não pretendo acelerar as coisas. Eu sequer sei como agir, para ser sincera. – Confessou envergonhada.

– Que tal agir como sempre, hm? – Madalena propôs. – Isso realmente soa agradável para todos.

Após a conversa com Madalena, ambas voltaram à sala. Todos estavam sentados no sofá devorando algumas jujubas que Gizelly havia oferecido. Os olhos de Rafaella focaram em Gizelly, ela usava um vestido rosa com as bordas pretas rendadas.

– Oi. – Rafa disse docemente assim que se aproximou de Gizelly. A morena estava ao lado da árvore de natal com Lylla sobre as pernas, na cadeira de rodas.

– A Lylla sentiu saudades, Rafinha. – Gizelly disse, vendo Rafaella sorrir e se abaixar diante dela.

– Só a Lylla? – Gizelly olhou para os pisca-piscas da árvore de natal um pouco hesitante.

– A mamãe também. – Rafaella não resistiu em rir.

– Eu também senti saudade deles. – Disse, apesar de ter passado apenas vinte e quatro horas. – E de você mais ainda. – Os olhos castanhos encontraram os esverdeados e Gizelly sentiu seu coração saltar em seu peito.

– Você não ficou brava? – Ela perguntou e Rafaella negou com a cabeça.

– Não fiquei. – Confessou. – Acho que te devo um pedido de desculpas.

– Por quê?

– Por ter saído daquele jeito ontem e, provavelmente, ter te deixado confusa. Não foi a minha intenção. – Gizelly piscou algumas vezes antes de dizer algo.

– Você caiu na neve? – Rafa riu e mordeu seu lábio inferior.

– Sim. – Disse, vendo os olhos de Gizelly percorrerem seu corpo em busca de algum hematoma. – Não se preocupe, a blusa amorteceu a queda.

– Rafinha... – Gizelly chamou com o dedo indicador, fazendo Rafaella se inclinar para que ela pudesse dizer algo em seu ouvido. – Me desculpa?

– Por quê? – Rafa perguntou confusa.

– Por ontem. – Confessou acariciando a girafinha em seu colo. – Por tudo. Eu não quero que você vá embora porque eu sou uma boba.

– Você não é uma boba, Gizelly. Eu que fui. – Rafa disse.

– Você não, Rafa. – Gizelly disse com veemência. – Eu prometo não fazer de novo. – Os olhos de Rafaella foram atraídos pela alta risada de Caon, que comia um cachorro quente que uma das empregadas estava servindo enquanto conversava com Madalena e seus amigos.

– Eu gostei do que você fez, Gizelly. Eu só... Não estava preparada. – Rafa informou, vendo Gizelly começar a acariciar sua mão, que estava sobre sua perna.

– Não ficou brava mesmo? Jura de dedinho?

– Juro, princesinha, mas me diz, por que fez aquilo? – Gizelly pareceu pensar por alguns milésimos de segundos.

– Não sei, parecia certo. – Disse brincando com os dedos da maior. – Eu gostei, mas você foi embora.

– Prometo nunca mais ir embora assim, tudo bem? – Rafa disse, se levantando e deixando um demorado beijo na testa de Gizelly.

– Tudo bem. – Disse, tendo o início de um sorriso nascendo em seus lábios. – Rafinha, adivinha quantos dedos tem aqui? – Disse, tampando os olhos de Rafaella com uma mão e estendendo outra com três dedos esticados.

– Hmm, deixa eu ver... cinco. – Rafa chutou e Gizelly retirou sua mão da frente do olho de Rafaella para que ela pudesse ver.

– Errou! – Disse rindo.

– Não errei não. Tem cinco dedos, dois abaixados e três esticados. Você não especificou. – Gizelly entortou a boca e franziu o cenho, parecendo verdadeiramente pensativa.

– Tem Razão. Não valeu! – disse, repetindo a situação enquanto Rafaella ria. Ah! Como ela adorava estar perto de Gizelly.

—-----------------

Elas são lindas demais 🥹

Em um piscar de Olhos (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora