Capítulo 20

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Naquele momento Rafaella havia colocado Gizelly deitada, com ambas as pernas em cima da bola suíça. Em movimentos circulares, ela girava as pernas de Gizelly sobre a bola, ensinando-a como deveria fazer posteriormente.

- Me diga se algo te incomodar, tudo bem? – Rafaella pediu e Gizelly assentiu, fascinada em sentir seu corpo se movendo daquele jeito, Era uma brincadeira engraçada. Seus olhos alternavam entre suas pernas e Rafaella, que tinha uma expressão suavizada, porém concentrada em seu rosto. Gizelly suspirou, Rafa ficava muito bonita com aquela roupa branca que costumava usar no hospital.

Seus olhos não deixaram de notar a tira preta do maiô de Rafaella, levemente à mostra, o que a lembrava que elas logo entrariam na piscina. Rafa sorriu para ela e sua mente vagou para algo que ela precisava compartilhar urgentemente com Rafaella, era algo crucial.

– A professora me ensinou um montão de coisas e ainda me deixou escrever de caneta. Pode acreditar? – Gizelly disse, animada demais por aquele simples fato, tendo em vista que quando tinha seus seis anos escrevia apenas de lápis.

– Isso é realmente incrível. – Rafaella disse rindo, segurando com cuidado um pouco abaixo do joelho da garota para continuar a girar seu corpo.

– Tive aula esta manhã também. – Gizelly disse. – E dessa vez foi com três pessoas da idade da mamãe. – Rafaella franziu o cenho e fitou Madalena.

– Eles estão se alfabetizando só agora e achei que seria legal ela se enturmar com pessoas mais velha. – Explicou, vendo Rafaella assentir.

– A senhora Ruldoff disse para eu ver séries adolescentes. – Gizelly disse sorrindo.

– Incrível, mas vamos lá. Acha que pode fazer isso sozinha? – Rafaella perguntou, vendo Gizelly fazer uma careta.

– Assistir séries? – Ela perguntou confusa, ouvindo uma doce risada sair dos lábios de Rafaella.

– Não, Gizelly. Me referia aos movimentos. – Explicou com um sorriso.

– Não sei. Se você está fazendo já me faz sentir dor imagina se eu fizer sozinha?

– Você está com dor? Por que não me disse? – Rafaella perguntou preocupada. – Aonde dói?

– Minha barriga. – Gizelly disse, levando uma mão até a beira de sua camisa e subindo-a. – Bem aqui. – Colocou a mão sobre o ventre, fazendo Rafaella franzir o cenho.

– Essa dor começou quando? – Rafa indagou.

– Quando você começou a me mexer assim. – Explicou, paralisando no mesmo momento. Ela ficou alguns segundos parada, sem dizer nada ou sequer se mover, até que seus cílios começaram o tão famoso show, tocando-se tão rápido quanto podiam - Mamãe! – Disse alto.

– Sim? – Madalena perguntou, surpresa pelo tom desesperado na voz de sua filha.

– Eu... Eu... – Sua respiração começou a se acelerar e então a garota caiu no choro, fazendo ambas lhe fitarem preocupadas.

– O que houve, querida? – Madalena perguntou, se agachando ao lado da filha.

– Eu não queria. Eu juro! – Disse ainda chorando. O que deu nela? Ela estava bem até alguns segundos atrás, pensou Madalena.

– Gizelly, seja lá o que tenha acontecido, está tudo bem. – Rafaella disse brandamente, vendo Gizelly negar freneticamente a cabeça. – O que houve?

– Eu... – Um pequeno soluço foi sufocado. – Acho que eu fiz xixi na roupa. – Madalena arregalou os olhos ante à declaração e automaticamente seus olhos desceram para a região, porém estava seco.

– Querida, você não fez xixi. Está seca. – Ela informou, vendo Gizelly voltar a soluçar e enxugar uma lágrima antes de erguer a cabeça e ver por si própria.

– Mas eu senti. – Ela afirmou, não convencida do que via. Suas mãos foram para o cós do short de lycra, subindo-o junto com sua calcinha, apenas para arregalar os olhos e começar um choro compulsivo.

– Filha, o que...

– Eu vou morrer, mamãe. – Gizelly disse chorando ainda mais, fazendo uma força extra para remover as pernas de cima da bola. – Me ajuda! – Pediu, sentindo a mulher lhe abraçar e trazer seu corpo para seu colo.

– Eu acho que tenho uma ideia do que esteja acontecendo aqui. – Rafaella disse um pouco consternada.

– Tem sangue. – Gizelly disse entre os soluços, fazendo Madalena cair em si. Um pequeno sorriso divertido apareceu nos lábios de Rafaella antes de ela se levantar e ir até sua bolsa.

– Tome. – Ela disse assim que voltou, entregando um absorvente para Madalena. – Está perto de vir para mim e por isso ando prevenida.

– Filha, você não está morrendo, meu amor. – Madalena disse, porém foi em vão, o choro continuava.

– Gizelly, acontece com todas as mulheres quando ficam grandinhas. – Rafa disse se sentando ao seu lado e acariciando suas costas. – Vai acontecer comigo em alguns dias também. É algo que vem todos os meses. – Explicou, vendo Gizelly se virar para ela, focando toda sua atenção em seus olhos.

– Todos... os meses? – Perguntou soltando um soluço involuntariamente. Seus olhos avermelhados fizeram Rafaella sentir urgência em acalmar a garota.

– Sim. – Rafaella disse, segurando sua mão e levando até seus lábios, depositando um beijo sobre a pele.

– Então eu não vou morrer? – Gizelly perguntou, vendo a outra mão de Rafaella enxugar suas lágrimas.

– Todos nós iremos morrer um dia, mas não por isso. – Rafaella disse sorrindo, vendo o olhar assustado de Gizelly se transformar em confuso.

– E o que eu faço agora? – Indagou.

– Eu dei um pacotinho para a sua mãe e ela te ensinará como usar. – Explicou. – Tem chuveiros no banheiro esquerdo.

– Mas e a dor? É normal? – Perguntou.

– Se chamam cólicas e algumas de nós, infelizmente, sofremos com isso. – Disse fazendo uma careta. – Vá com a sua mãe tomar um banho e vestir a roupa que usaria depois da piscina. Eu vou até a outra ala do hospital pegar um remédio para sua dor e você vai ficar bem, tudo bem?

– Rafinha, depois você faz carinho na minha barriga para passar? – Perguntou em uma careta de dor e Rafaella assentiu.

– Faço, anjinho. – Disse, envolvendo seus braços ao redor da garota e ajudando Madalena a colocá-la na cadeira. – Nos vemos em alguns minutos.

– Não demora? Dói muito. – Pediu, sentindo os lábios macios de Rafaella tocarem a pele de seu rosto.

– Eu vou tão rápido que você nem vai perceber que eu fui. – Disse, sentindo Gizelly entrelaçar seus dedos por alguns segundos.

– Tudo bem. – Disse, soltando os dedos de Rafaella quando sua mãe começou a empurrar a cadeira para longe da garota. – Já estou percebendo, Rafa. – Ela gritou de longe, fazendo Rafaella gargalhar graciosamente antes de correr em busca do remédio que prometera à Gizelly.

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Não aguento essa Gizelly!

Por hoje é só!

Tive um imprevisto e não deu pra postar mais cedo.

Até a próxima...

Em um piscar de Olhos (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora