Eduardo: 2 anos e 8 meses atrás.
Entro na casa dos meus pais e vou até a sala de mãos dadas com Cecília. Eles estão sentados no sofá conversando enquanto Amanda mexe em seu celular. Ela nunca desgruda daquele aparelho.
- Eduardo meu filho, que surpresa. Faz tanto tempo que não vem que achei quentinha me esquecido. - minha mãe diz ao me ver e se levanta. - como vai Cecília? - ela a cumprimenta gentilmente e em seguida nos convida a sentar.
- tio. - Amanda ao ouvir meu nome larga do aparelho e abre um enorme sorriso. Ela vem para o meu lado e me dá um abraço.
Solto meus dedos dos de Cecília e retribuo o carinho que recebo de Amanda.
- como você está? Tem se comportado? - pergunto passando as mãos por seu cabelo, a cada dia ela tem parecido mais e mais com a mãe.
- sim, aprendi a falar francês. - ela diz sorrindo e eu sou pego de surpresa.
- assim do nada? - pergunto desconfiado.
- sim, eu sei falar fluente. - ela fala e eu sorrio.
- então fala algo para a gente ver, aposto que está mentindo. - Cecília diz com um sorriso meigo e entendo que está brincando com ela, mas Amanda parece não gostar.
- por que? Você é burra e não vai entender, aposto que vai dizer que eu inventei. - ela diz olhando brava para Cecília.
- Amanda! - eu chamo sua atenção e agora seu olhar bravo se direciona para mim. - viemos conversar e você já começa a caçar briga.
- eu não comecei nada, por que você sempre defende ela? Ela me chama de mentirosa e você não diz nada, eu chamo ela de burra e saio como errada. - ela fala batendo os pés no chão.
- ela não quis dizer isso, estava brincando com você. - defendo Cecília, mesmo não estando nervoso, minha voz se altera um pouco o que deixa Amanda nervosa.
- você é muito ingênuo! - ela grita e sai batendo o pé, subindo as escadas e levando consigo o seu aparelho.
- Amanda! Amanda! - eu chamo por ela, mas sou apenas ignorado.
- Eduardo, deixe ela. Amanda já chegou em sua fase rebelde. - minha mãe fala e eu respiro fundo.
- eu só queria ter uma reunião em família amigável. viemos dar uma notícia boa e isso acontece. - falo e na mesma hora vejo o rosto de minha mãe brilhar.
- notícia boa? Aí meu deus... Será?... Aí meu deus! Um bebê? Eu vou ter mais um neto? É isso Eduardo? - ela pergunta eufórica e vejo meu pai apurar os ouvidos na conversa que ele nem prestava atenção.
Sinto um aperto no peito ao ver minha mãe perguntar isso toda feliz, faz eu querer ainda mais dar essa notícia algum dia para ela. Mas não será possível, a não ser que algum dia um sentimento materno se aflore em Cecília.
- não senhora, mas viemos avisar que vamos marcar a data do casamento. Já queremos organizar todas as coisas. - Cecília diz sorrindo e vejo um pouco do brilho de minha mãe se apagar.
Sei por que ela ficou feliz pela hipótese de um bebê, depois da morte de minha irmã, ela só não desmoronou por conta de Amanda que lembrava minha irmã e ainda lembra. um bebê vai reviver essas memórias que ela tanto ama.
- isso é maravilhoso querida. - ela diz nos felicitando com um abraço.
Agora meu pai se aproxima depois de ouvir toda a conversa e sorri para mim, me abraçando.
- que tal uma bebida no escritório? Somente nos dois? - ele me convida e eu aceito.
Deixo minha mãe e Cecília na sala, onde ambas já falam do casamento e acompanho meu pai. Entramos em seu escritório, enquanto me sento em uma das poltronas confortáveis ele nos serve o whisky em seu orgulho, copos de cristal.
Me trazendo um, ele caminha e para na minha frente e me olha dar o primeiro gole para só então fazer o mesmo. Ele se senta no sofá de frente a mim e fica me olhando, sem dizer nada e começo a achar isso estranho.
- o que foi? - pergunto.
- tem certeza sobre o casamento? - ele pergunta me pegando de surpresa.
- eu amo Cecília, é claro que eu tenho certeza. - digo.
- então o que está te incomodando? Eu vi como ficou quando sua mãe perguntou do bebê, o que houve? - ele pergunta e me lembro que ele sempre foi observador. Muito.
- não é nada demais. - digo, mesmo sendo para mim.
- Eduardo, não minta para mim. Estamos falando sobre seu futuro, casamento e possíveis filhos. - ele diz e eu respiro fundo.
- sem filhos, Cecília não quer. - digo dando mais um gole em minha bebida.
- esse é o problema então. - ele fala constatando o fato. - já conversaram sobre isso?
- sim, e ela disse não para todas as opções que eu apresentei. Sem filhos em nenhuma circunstância.
- e você quer muito ter filhos, da pra ver sua cara de decepção Eduardo. É bem óbvia. - meu pai fala e sinto um tom de crítica, mas não sei sobre o que.
- acha que eu estou exagerando?
- isso depende. - ele fala olhando o próprio corpo. - você a ama ou só acha que ama? - ele me pergunta e eu o olho confuso.
- como assim? - é claro que eu amo Cecília, de onde ele tirou isso?
- tem muita diferença entre as duas, mas ao mesmo tempo são iguais. Se você acha que a ama, então você a ama. Acreditar nisso faz seu sentimento ser verdadeiro ou quase. Faz você ser romântico, você diz coisas bonitas, da presentes mas por ser esse tipo de amor você quase sempre precisa ficar pondo em palavras os seus sentimentos. Agora um amor de verdade é igual a esse, mas tem uma diferença, é bom por em palavras aquilo que você sente, mas o seu parceiro vai saber disso só de olhar em seus olhos. É aquele que vai te entender e ficar do seu lado. É aquele que quando você estiver angustiado, de imediato ele vai perceber. Quando você ficar doente ele vai cuidar de você. Agora o que eu quero saber? Qual o seu tipo de amor? É aquele que você acha que a ama, que faz de tudo ao seu alcance para não perder-la e coloca seus maiores desejos de lado para que se adeque aos dela e tem medo de que ela vá embora ou é aquela amor tranquilo, sem muitas turbulências, com conexões, onde os dois lados cedem para que nenhum deixe de ter aquilo o que quer. Sem um ou outro estar por cima do relacionamento, mas sim lado a lado. Qual desses é o seu?
- pai, do jeito que você fala parece que está querendo me dar um sermão. - digo me remexendo na poltrona.
- pensar assim faz com que saibamos a resposta. Não estou lhe dando um sermão ou qualquer outra coisa, tive essa mesma conversa com sua irmã. - ele diz e logo penso nela no meu lugar.
- e o que ela te disse? - pergunto e ele sorri.
- é a sua irmã, se eu te disser você vai ter pesadelos por dias ou vai perder o sono como eu. - ele diz rindo. - mas de uma coisa sabemos, ela não hesita e não fez isso quando me respondeu prontamente. Ela não se casou com o pai da Amanda apenas por que engravidou, não foi uma irresponsabilidade. Temos dinheiro, poderíamos muito bem ter cuidado das duas.
- eles se amavam e isso é óbvio. - falo me lembrando do casal encrenca.
- sim, pense um pouco sobre o que eu te falei Eduardo. Se não achar a resposta até o seu casamento, talvez você não esteja pronto ainda. - ele diz colocando a mão em meu ombro e terminando sua bebida. - as vezes, não é questão de abrir mão por conta de aceitar a decisão do parceiro. As vezes você também tem que lutar um pouco por aquilo que você quer, não pode ser só você a desistir de tudo e ceder o tempo todo.
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currículum
RomansaMalia é uma mulher que tenta acertar sua vida apos sofrer as consequencias por atos que não foram seus. Sem poder sequer ver a filha por mais que poucas horas por mes, ela tenta ganhar a guarda da pequena de volta. Mas é em uma busca por emprego que...