ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟚 : Surpresa e sem sorte

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Eu sei perfeitamente que havia dito que nada iria me abalar, mas convenhamos que ninguém botou muita fé nisso.

E cá estava eu, em pânico ao professor anunciar que teríamos uma prova surpresa, que os dois primeiros lugares seriam premiados com Stelas. Eu precisava de uma, apenas uma, para me tornar estudante imperial, mas na situação em que eu estava era mais provável ganhar um Tonitrus por ter a pior nota.

Mas talvez eu esteja judiando um pouco de minha própria imagem. Não sou a mesma burra que já fui, mas estou longe de ser uma prodígio. Tenho notas boas, conquistadas através de muito sangue, suor e lágrimas.

E telepatia.

O ponto é que se eu passasse um mês estudando até tinha chance, mas assim, de repente, e justo em dia de lua nova é uma sacanagem sem tamanho.

Antes que eu me desse conta eles começaram a entregar as provas, e eu queria chorar copiosamente. Devia estar com uma cara bem miserável, pois Becky me abraçou e desejou boa sorte.

O nervosismo só aumentava, enquanto o inspetor Matheu ainda não chegava em minha mesa. Senti uma mão em meu ombro, e achando que era a morte me chamando para seu lado, resolvi aceitar de braços abertos. Porém, ao me virar, qual não foi minha surpresa ao encontrar o metido?

Ele apenas disse, de forma polida e rápida:

-- Se acalme, nanica, você é esperta, mas não raciocina quando tá' nervosa. Ok?

Abri minha boca planejando responder algo à altura, mas acabei apenas falando um "obrigada", baixo e envergonhado, incapaz de entender exatamente o que havia se passado e porque meu coração acelerou tão de repente.

A prova logo chegou até mim e eu respirei fundo tentando manter a calma. Ele estava certo, afinal. Lembrei de todos os meus estudos e esforço. Eu não abriria mão de minha missão. Pelo bem do papa, do meu país e até de meu próprio orgulho eu iria lutar!

Não iria me desesperar.

💭°°//

Me desesperei.

Mas foi só no finalzinho. Consegui focar boa parte do tempo, mas teve um momento em que nem o olhar de cuidado de Damian foi suficiente para me fazer concentrar.

Espere, no que foi que acabei de pensar?!

Balancei a cabeça, tentando me concentrar no que Becky tentava me explicar, sobre não saber se devia continuar atacando o casamento de meus pais, agora que ele estava consumado com meu futuro irmãozinho ou irmãzinha.

Quando me dei conta ela já estava teorizando a respeito do sexo do bebê, jurando de pé junto que iria ser uma menina bonita como o pai e forte como a mãe.

Sorri em silêncio, mesmo após uma prova cansativa e complicada, sonhar com o futuro novo integrante da família  trazia uma sensação inacreditável de tão boa a minha boca do estômago.

Escutei o toque para sair e levantei junto com Becky para ir embora. Quando estava a caminho me dei conta que havia deixado meu lenço na sala, e resolvi ir lá buscar. Me despedi rapidamente de Becky e não perdi tempo, correndo e torcendo para não terem fechado a sala.

Abri a porta já comemorando, e travei assim que vi que não estava sozinha na sala.

Damian estava lá, segurando meu lenço e me olhando como se houvesse sido pego entre pensamentos muito constrangedores.

Pela primeira vez naquele dia agradeci por ser lua nova.

Ele estendeu o lenço em minha direção e eu dei um passo para pegá-lo.

-- Acho que isso é seu. – ele disse, constrangido, entregando-me o objeto.

Um silêncio tão pesado e tão frágil caiu sobre a sala que nenhum de nós ousou quebrá-lo. Temíamos nos machucar ao fazer isso. Engoli em seco e decidi que deveria ter a iniciativa dessa vez, não somente pela missão, e também para agradecê-lo.

-- Ei, metido, eu só queria agradecer, por hoje mais cedo. Se você não tivesse dito aquilo, eu provavelmente estaria em pânico até agora.

Ele ficou vermelho como um pimentão, e pondo as mãos nos bolsos reclamou:

-- É, você com certeza não conseguiria sem mim. Nenhuma novidade.

Percebi que ele queria me provocar e tudo o que consegui fazer foi um sorriso e dar de ombros. Ele ficou mais vermelho ainda. Vermelho mesmo, tanto, que fiquei preocupada de estar passando mal.

Aproximei meu rosto do seu e colando nossas testas disse:

-- Que esquisito... Achei que fosse febre, mas a temperatura está normal. Você está bem?

Ele arregalou os olhos e se afastou rapidamente pondo a mão no peito. Parecia ter perdido o folego, o que provava para mim que ele não estava bem. Não consegui me aproximar de novo. Ele pôs uma mão em frente ao corpo como se quisesse se proteger e exclamou:

-- Não repita isso menina! Não faz bem para o meu coração.

Não entendi o que havia acontecido, então apenas acenei com a cabeça e saí da sala, para voltar para casa e dar espaço ao metido, que parecia que ia infartar.

💭°°//

-- Mamãe, papai, cheguei! – Anunciei na entrada, arrancando meus sapatos apressada.

Não obtive resposta, e já fechei minha guarda, temendo estar na cena  de um crime, onde vilões ainda poderiam estar a solta. Entrei sorrateiramente casa adentro, abrindo frestas de cada cômodo.

Abri a porta do quarto dos meus pais para espiar lá dentro, mas tudo o que encontrei foi Yor sentada, com as mãos no ventre, acariciando uma barriga quase imperceptível. Loid estava deitado em suas pernas, e ele conversava com o bebê sobre os grandes planos que tinha: nomes, modelos para um quarto, se seria um menino ou menina...

Fechei a porta devagarzinho torcendo para não ser notada.

Porém, a porta rangeu, me denunciando. Dei uma risada sem graça, desconcertada de ter estragado o momento. Todavia, diferentemente de como eu imaginei que seria a reação, eles me chamaram para junto, para formar planos para nossa família.

Eu sorri, meu coração se aquecendo, e todas as minhas preocupações desaparecendo como num passe de mágica. Família...

Sim, aquela era minha família.

In my Mind -- Anya X DamianOnde histórias criam vida. Descubra agora