ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙𝟝: Menu promocional: Hoje servimos lágrimas

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Eu pretendia só chegar em casa explicando que eu estava lentamente morrendo, mas achei que seria trivial demais. Então outra ideia me ocorreu.

-- Mamãe, amanhã posso trazer Damian e Becky para o jantar? Não se preocupe com a comida, eu mesma posso preparar.

Minha mãe estranhou a pergunta repentina, mas não me negou, apenas questionou.

-- Por que isso tão de repente filha?

Soltei um muxoxo, mas respondi com verdade.

-- Apenas tenho que contar algo importante, e não acho que deveria ser atoa.

Os olhos de Yor brilharam como os de uma criança olhando para um sorvete, e depois ela colocou a mão na boca como se algo a preocupasse ou lhe parecesse estranho. Em seus pensamentos apenas escutava uma bagunça vergonhosa.

*Meu deus! Um anúncio importante num jantar que reúne os mais íntimos? Que pena que Yuri está tão ocupado essa semana. Parece ser algo grande... espera, algo grande? Será que ela vai anunciar um casamento?! Não, não, não, ela só tem dezesseis, não faria isso. E aquele garotinho parecia tão descente, não acho que ele vai fazer algo assim... Vou ter que matá-lo? Não Yor, deixe disso, você não é mais uma assassina, esqueceu? Mas posso abrir uma exceção...*

Antes que ela enlouquecesse e tentasse matar meu namorado por um casamento que não existe eu resolvi agir.

-- Não se preocupe, mãe. Está ligado à minha saúde, não a qualquer outra coisa-

Nem consegui terminar de falar que ela já estava afundando em pensamentos infundados.

*Não é casamento, mas está ligado a saúde? Não me diga que é..! Ela está grávida? Mas ela não faria isso. Ela só tem 16, é responsável e nunca nem mostrou inclinação para isso. Se esse for o caso vou definitivamente matar aquele garoto. Mas aí condenaria a Anya a vida de mãe solteira. Não, não posso!*

Ela estava sacudindo a cabeça violentamente como se querendo se livrar desses pensamentos e eu admito que também gostaria de me livrar do que vi. Meu Deus, mãe! Eu não faria isso sem estar casada, muito menos com dezesseis anos! Eu cogitei inventar alguma desculpa para tirá-la desse estado, mas a observando bem tudo o que eu conseguiria é piorar a situação. Deixei para lá. Vou apenas cuidar para que ela não mate o Desmond errado até o jantar.

Ela por fim permitiu e eu sabia que com a permissão dela, ela mesmo conseguiria convencer meu pai. Então fui tomar meu banho e esperar meu pai chegar em casa.

Entrei no quarto e tirei toda a roupa, entrando no banho de água quente e com pressão. Ela batia em minha nuca e escorria pelas costas e todo corpo. Fechei os olhos e aproveitei a sensação. Normalmente tiraria esse momento para organizar meus pensamentos e planejar as coisas. Mas eu já sabia o que teria que dizer amanhã. Precisaria jogar verdades enterradas na mesa, e preferia nem pensar muito para não tirar minha coragem.

Então resolvi pensar em nada. Apenas esvaziar a cabeça e me deixar levar pela sensação gostosa da água em meu corpo. Tudo bem, esse banho poderia encarecer um pouco a conta de água, mas não é como se eu fosse acabar com a água do mundo por isso. Me conscientizar só ajuda no financeiro pessoal, já que mais de 72% da água gasta do mundo está ligada à agricultura/pecuária.

Depois de alguns momentos resolvi finalizar o banho e tratei de me ensaboar. O perfume do sabonete feito pelo tio Yuri era inegavelmente bom, mas nunca superaria que um homem importante da polícia secreta como ele tinha como hobby fazer sabonetes artesanais.

O mundo não é tão previsível afinal. Terminei o banho e me arrumei. No fim acabou ficando um pouco tarde, então resolvemos não jantar hoje, apenas comer um sanduiche com suco de uva. Desde que nós três comêssemos juntos era o bastante para mim.

In my Mind -- Anya X DamianOnde histórias criam vida. Descubra agora