ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠𝟟: Cortes de navalha que não sangram

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Acordei, sem entender muito bem como havia acabado na cama. Toquei minha cabeça, ela incomodava, mas nada realmente espantoso, pegaria um remédio e isso logo se resolveria. Me arrumei ainda sonolenta e letárgica, tentando lembrar dos acontecimentos do dia anterior.

Eu era estudante imperial.

Essa informação pipocou do nada, me pegando despreparada.

EU ERA ESTUDANTE IMPERIAL!!!

Dei pulinhos e deslizei pelos corredores com uma dancinha vitoriosa. De repente, lembrei que esta não havia sido a única dança desses dias. Ontem eu também dancei:

Com Damian...

Travei, lembrando de tudo o que ocorrera.

Da mão na cintura, da preocupação, seus olhos brilhando, seu cheiro, da dança. Minhas memórias acabam aí, pois depois tudo se resume a ele. Acho que havia me concentrado demais ontem.

Senti meu coração acelerar, e agarrei meus cabelos. Onde que eu estava com a cabeça para me sentir assim? Isso era para ser uma missão, somente uma maldita e simples missão. O futuro do mundo dependia do estado do meu coração, que agora me parecia muito tolo.

Deixei a arrumação de lado e corri para o banheiro para tomar um banho, gelado de preferência. Tentei pensar em outras coisas.  Em breve começaria o trabalho de teatro, que valia um terço da nota de redação e português. Mesmo que minhas notas tenham melhorado consideravelmente, não posso me dar ao luxo de vacilar.

Tudo o que eu tinha que fazer era ir para o som e iluminação, assim, não faria quase nada e ganharia a nota total do mesmo jeito. Sorri maliciosa, esse era o plano perfeito.

Corri para a mesa de café e lá estava minha mãe. Meu pai já havia saído, e ela se encontrava sentada e matutando. Me concentrei para ler seus pensamentos.

*Droga, eu preciso fazer um ultrassom em breve. Queria saber o sexo do bebê, arrumar o enxoval...*(*)

Sorri internamente, ocultando o meu conhecimento sobre o que ela pensava. É claro, podia não ser um exeplo de delicadeza, mas era uma mãe exemplar.

Beijei sua testa, a despertando do transe, e me sentei à mesa. Peguei o chocolate quente e um pão, não podia me enrolar muito. Quando dei a primeira mordida, minha mãe perguntou:

-- Filha, aquele seu amiguinho de ontem, que você dançou, é seu namoradinho?

O pão entalou em minha garganta, e eu bati em meu peito para tentar respirar. Tomei um gole do chocolate para descer, sentindo o líquido queimando minha garganta enquanto descia.

-- Não, mãe. Ele é só meu amigo.

O olhar de Yor pareceu decepcionado, como se esperasse mais, e explicou-se:

-- É que vocês se olhavam de um jeito tão bonitinho, pareciam um casal. Eu nunca tive ninguém antes do seu pai, mas lembro de umas colegas minhas, elas agiam desse jeito. Viviam me contando as fofocas. – Ela pensou um pouco e continuou – Lembro que a Camile, da minha sala, gostava de um tal de Matheu. Ela falava de seu coração, que acelerava sem nenhuma razão, sua respiração que ficava toda esquisita. Pensava nele, e seus olhos verdes folha. Antes não entendia, mas agora consigo compreender: Loid me deixa assim também.

Ela riu, como se não se imaginasse na atual situação. Mas eu estava paralisada demais para risadas. Engoli em seco, tentando evitar pensar sobre o que aquilo significava.

Olhei para o relógio na parede. Estava atrasada. Me despedi de minha mãe, sem mais explicações, e corri para conseguir alcançar o ônibus escolar.

In my Mind -- Anya X DamianOnde histórias criam vida. Descubra agora