ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 𝟭𝟵: 𝔭𝔯𝔞𝔱𝔬 𝔭𝔯𝔦𝔫𝔠𝔦𝔭𝔞𝔩

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Loid, como espião, havia sido treinado para muitas coisas. Atuação, interrogatório, impassibilidade, apatia, objetificação, e é claro, espionagem. Mas havia habilidades secundárias que pouco usava, mas que conhecia bem, como mitridatismo, pilotar um helicóptero, e um tanque de guerra, e entre outras coisas estava a tortura; mais útil do que se permitia admitir.

Nunca tinha feito testes práticos em campo, pois sua lábia sempre foi suficiente.

Então achava essa uma primeira vez razoável.

Apesar de ter ajeitado tudo de forma rápida, se sentia bem-preparado. Então se pôs a caminhar.

As lágrimas de Loid misturavam-se a chuva que caía feroz e insistente. As ruas estavam vazias, em contraste de sua mente: estava faiscante em ódio. Em busca do causador de tudo aquilo. O culpado pela morte de seus filhos e de tantos de seus companheiros. O homem que fez sua mulher sofrer por tempo demais.

Esfregou os olhos na manga da camisa, enxugando qualquer resquício acusador de lágrimas. Seu foco agora devia estar direcionado a uma única coisa: fazer o que deveria ter feito há muito tempo. Ajeitou a mochila nos ombros, era do tamanho certo, mas escorregava constantemente. Irritante, mas logo seria descartada.

Sentiu as pernas fraquejando um pouco, e a vontade de chorar lhe veio como uma onda incontrolável. Teve de parar no meio da calçada, agachar e respirar fundo incontáveis vezes até que tivesse poder sobre seu corpo novamente. Ele já havia perdido tanta gente: família, amigos, colegas, subordinados e patrões. Tanto sangue sujava suas mãos que a mancha jamais sairia.

Ele mesmo perdeu totalmente a esperança várias vezes.

Quis se juntar em morte aos que tanto amou.

E ainda sim...

Nada jamais doera como isso.

Perder filhos que ele nunca viu, abraçou e cuidou foi um golpe mais forte do que qualquer outro.

Porque às vezes não é necessário ver para amar.

Quis entregar-se de verdade dessa vez. Quis acabar com toda dor.

Mas ele ainda tinha elas.

Ele tinha uma família para cuidar e proteger, e por ela ele se ergueria quantas vezes fosse necessário.

Levantou-se, então, do chão. Respirou fundo uma última vez e voltou a andar rumo ao seu propósito inicial. Por fim, quando já estava perto o bastante, preparou a pistola com silenciador e a posicionou ao lado do rosto. Mesmo o governo manipulador de Ostânia não tinha câmeras naquela parte da cidade. Não seria pego.

Chegou em frente ao galpão abandonado. Sabia que tinha uma estufa atrás, onde o lojista passava seus preciosos momentos sabáticos manutenindo as plantações.

Sabia que estaria sozinho e que não havia ninguém perto o suficiente para socorrê-lo.

Então não pensou duas vezes quando, com força, arrombou as portas do lugar, mirou e atirou na perna do homem.

O lojista gritou, mas não tinha expectadores para seu show. Desequilibrou-se e quando estava para reagir levou o segundo tiro. Seu braço agora estava sujo de terra fértil e sangue. O ambiente cheirava a ferro e peônias.

Quando viu que estava para levar o terceiro tiro, ele gritou pedindo clemência, e o cenho de Loid se franziu. Esse homem havia matado seus filhos e infernizado sua mulher e agora pedia clemência? Estava pedindo para morrer.

Porém, até mesmo Loid se sentiu obrigado a parar quando escutou o homem gritando:

-- Espere um pouco! Não quer nem mesmo saber por que recomendei o chá?

In my Mind -- Anya X DamianOnde histórias criam vida. Descubra agora