ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙𝟜: A origem da dor

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(Imagem da mídia não foi feita por mim, apenas editada para encaixar no capítulo.)


Estava em palco, ensaiando a peça, mas admito que não conseguia me dedicar muito a aquilo. Eu tinha um namorado, uma doença, vários problemas, responsabilidades e uma missão que coloca em jogo a paz do mundo. Sinto falta da época que o Ensino Médio parece amedrontador só com os estudos e apresentações de grupo. O meu estava uma loucura, e esse era só o início.

Apesar de meu pouco foco, eu era espetacular na atuação, simplesmente era uma área que tive de aprender ao longo da vida. Viver naquela família era como viver num teatro.

Fomos, por muito tempo, apenas um palco de mentiras e enganações. E embora a situação ainda não estivesse 100% as claras, eu gostava da evolução.

Respirei fundo assim que a cena acabou e Damian invadiu o ambiente às pressas. Sua capa de aluno imperial balançou como a capa de um rei, e apesar de estar fascinada por sua beleza natural, não pude deixar de notar que seu rosto parecia preocupado. Ele se aproximou de mim e falou:

— O que acha de sairmos hoje?

Sorri, entendendo o que ele queria dizer e disfarçando. Os resultados tinham saído, tinha certeza. Saímos apressados deixando para trás murmurinhos e sussurros, que desapareciam conforme nos afastávamos. Embora todos soubessem que estávamos namorando, uma prova visível de vez em quando sempre chocava.

Fomos até o camarim, e ele trancou a porta, apenas para me dizer o óbvio:

— O doutor pediu para que voltássemos hoje. Seus resultados saíram e ele já tem um diagnóstico. Mas quer falar ao vivo.

Por alguma razão isso me surpreendeu, mas não sei dizer se de forma positiva ou não. Ele tinha um diagnóstico, o que possibilitaria o meu tratamento. Mas isso era perigoso, ele poderia ter descoberto mais do que o adequado.

Respirei fundo. No fim, só estava com medo do que iriam me dizer, do quão longe eu teria de ir para me curar, qual preço eu pagaria e se essa cura sequer existia.

É estranho esse efeito que a paixão tem nas pessoas. De repente, por mais que você esteja farto da vida, sente que ainda há muito o que viver. Uma vontade traiçoeira se ergueu imprevisivelmente no meu coração. De viver muito, ao lado de Damian. De crescer, me formar, entrar em uma faculdade e me casar, ter filhos que dividissem nossas características e vê-lo babando em nossas crianças. Viver e envelhecer ao lado dele.

Mas, e se isso não fosse possível? A consulta poderia ser para me avisar que minha morte estava agendada, e que viria mais rápida do que com meus pais.

Sentia tanto medo.

Quase como se lesse meus pensamentos, coisa que ele não fazia, Damian reagiu.

Segurou minhas mãos e colou nossas testas. Fechou os olhos e eu fiz o mesmo. Ele sussurrou, como uma confissão baixa que eu deveria lembrar:

— Não se esqueça que eu sou seu e estarei ao seu lado independente do que aconteça. Não importa o que vamos descobrir. Vamos criar nosso caminho as claras, ok?

Concordei, me sentindo mal de repente por esconder tanta coisa dele. Damian queria conhecer meu passado, mas tudo o que eu estava oferecendo era mentiras e omissões. Mas tentei me convencer novamente de que esse era o certo a se fazer. Estava protegendo ele e a mim mesma. Eu não duvidaria de que os cientistas que me enfurnaram naquele lugar ainda estarem atrás de mim. A perseguição poderia não estar na ativa, mas não queria arriscar acordar velhos rancores.

Respirei fundo e juntei meus caquinhos de coragem, perdidos no âmago de meu corpo entorpecido. Sorri e segurei forte sua mão.

-- Me ajude a terminar esse ensaio e vamos.

In my Mind -- Anya X DamianOnde histórias criam vida. Descubra agora