In my Mind -- Anya X Damian

lua azul

Oi oi galera! Esse capítulo não se passa necessariamente na ordem cronológica da história, mas é oficial e bem legal, interferindo diretamente na vida da protagonista de nossa fanfic. Sem mais enrolação, vamos lá!

Ouvi histórias sobre a Lua quando era pequena. Sobre sua magia e seus efeitos.

A lua cheia, rica e majestosa, em seu brilho febril, sempre teve efeito sobre a Terra. Especialmente a lua azul, tão sagrada quanto rara, como uma divindade tocando todos aqueles abençoados com um dom. Ela os guiava, para um futuro intangível, distante.

Ela permitia que as cartomantes, os beberrões enlouquecidos, visionários e videntes ver dois possíveis futuros, que aconteceriam dentro de 10 anos. Os guiava e demonstrava seu futuro particular. Mas havia um preço:

Energia.

Para os jovens e fortes, era fácil lidar com a queda de vitalidade, mas para o resto...

E eu estava sentada no chão da sala, estudando o assunto de biologia e acariciando Bond quando aconteceu. A Lua brilhou em seu auge, e sem que eu entendesse a razão, Bond começou a latir. Latiu como um louco, e demorou até que eu compreendesse a situação e começasse a ver sua mente.

E então a cena apareceu como um vislumbre, que remoeu meu âmago e me deu um nó na garganta tão forte que pensei ter perdido a capacidade de falar.

Vi um cenário nauseante. Entulhos de restos de prédios e corpos. Estirados, frios e moribundos. Uma fumaça podre tomava a cidade e as poucas pessoas que restavam gritavam em clamores miseráveis. Vi uma garotinha choramingando, encolhida ao lado do corpo da mãe. Vi também um rapaz chorando por sua esposa. Uma mulher desesperada pelo filho que nascia em meio ao caos, sem apoio.

Eu meio aos entulhos notei corpos que viraram meu mundo de cabeça para baixo. Meu pai, mãe e irmãos. Perdi o fôlego ao perceber que isso era o futuro. Ofeguei e pus a mão na boca. E então vi meu próprio corpo, fresco, o brilho sendo perdido enquanto Damian me contemplava, ajoelhado e em prantos.

Senti vontade de chorar com ele.

Então, quando eu estava para perder as esperanças, a imagem tremeu, instável. E pouco a pouco foi ficando branca, como um filme que estourava. Então vi, ainda tremeluzindo, uma segunda visão.

Nela havia clima de paz.

Pude voltar a respirar novamente à medida que a visão se aproximava de um foco específico. Um neném no colo de sua mãe. Não pude ver quem o segurava, apenas ele aconchegado nela, com seus cabelos rosas e ralos. Rosa como os meus.

O bebê fez um barulho dengoso, como se estivesse pedindo por atenção e quis rir com a fofura. Mas então, ele se virou em minha direção, como se me enxergasse ali. Mas isso não me espantou, e sim o rosto da criança. Rosado e delicado, com as bochechas gordinhas e os olhos amarelos. Amarelos como âmbar, amarelos como citrino, amarelos como os de Damian.

E então despertei na realidade. A visão tinha acabado. Não tive muito tempo para raciocinar, pois logo depois eu notei Bond ofegante. Ele respirava pesadamente e com dificuldade, e eu temi. Ele era um cachorro idoso, e não aparecia em nenhuma das visões.

Ele guinchou de dor, e eu gritei por meus pais. Eles apareceram na sala em meu socorro e notaram o que acontecia. Colocamos o animal no carro e fomos a um hospital veterinário ainda de pijamas. Corremos e levamos umas três multas no caminho, mas estávamos lutando contra o tempo.

Porém, quando chegamos ao local, era tarde demais. Pude ver Bond, que ainda se contorcia de dor, relaxando aos poucos, como se o sofrimento tivesse terminado. Como se fosse fim da linha. Ele lambeu minha mão e descansou sua cabeça em meu colo. Depois não se mexeu mais.

Eu não parei de chorar em nenhum momento no caminho para casa. Oficiais da WISE chegaram para levar o corpo para ser cremado como prova dos experimentos já feitos em meu cachorro.

Deitei na cama e tentei pensar em nada, inclusive nas visões que eu havia visto.

Uma delas iria acontecer.