ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙𝟘: Encontro de "faz de conta"

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Meu pai passou meia-hora de birra, reclamando que eu era muito nova para isso, que era um absurdo ele não me chamar pessoalmente, e que ele não era bom o bastante para mim. No fim, acabou cedendo, como eu sabia que o faria, afinal, é pela missão. Pelo menos ele acha isso.

Quinta de manhã havia chegado, e eu estava esperando Damian me buscar. Consegui fazer meu pai prometer que não nos seguiria. O que foi especialmente difícil. Mas por fim, ele o fez, colocando uma escuta em meu casaco. Eu nunca notaria, se não tivesse lido em seus pensamentos.

Quebrei ela assim que saí de casa.

Damian veio com um carro mais simples, e seu chofer. Ficamos em silêncio boa parte do trajeto, constrangidos e ansiosos. O carro seguiu por alguns momentos, até que paramos num prédio, espelhado e de tantos andares que eu não era capaz de contar.

Entramos, e paramos na recepção.

-- Tenho uma consulta marcada com o dr. Kraven no nome de Anya Forger, com acompanhante Damian Desmond. – Começou o Damian, me apresentando.

O moço olhou para mim de cima a baixo, e eu me encolhi, chegando para trás de Damian e dizendo baixinho.

-- Damian, esse cara deixa Anya desconfortável.

Ele assentiu e se virou para o homem, adiantando.

-- Onde posso encontrá-lo? A consulta está marcada para às 9:00, e são 8:59.

O senhor nos deu rápidas instruções de como chegar, e as seguimos. Batemos a porta, e ele pediu para que entrássemos. Não era um escritório extraordinário, uma mesa e três cadeiras, uma maca, um aparato para medir peso e altura, além de alguns quadros na parede.

Sentei em uma cadeira e Damian em outra, ficando de frente para o homem. Um senhor de idade, com barba rala e cabelos mais ainda, igualmente brancos, desgastados pelo tempo. Seus óculos eram de prata, perceptivelmente. Ele devia ser rico.

Ele nos olhou de cima a baixo, e seus pensamentos foram bem impertinentes.

*Dois adolescentes vindo juntos ao médico... Provavelmente não se preveniram e acham que a menina está grávida. Tão jovens... Pelo menos formam um par bonitinho*

Corei, sem conseguir impedir. Damian não entendeu minha reação, mas eu não poderia lhe explicar. Maldito velhinho.

-- Bem, vocês devem ser Anya e Damian, correto? – Assentimos e ele prosseguiu. – Ok, Anya, como a consulta é sua, vou começar com algumas perguntas básicas. O que você sente?

*Nesse momento, ansiedade e vergonha profunda, mas você provavelmente não quer saber isso, então...* pensei.

-- Eu sinto dores. Tenho crises em que meu corpo todo dói, dói tanto que fica difícil respirar. As vezes fico tonta, a vertigem me faz querer vomitar.

Ele olhou para mim de cima a baixo, como se eu houvesse quebrado sua expectativa de resposta. Ele anotou algo em sua caderneta, e prosseguiu.

— Onde a dor começa? Digo, pelo peito, cabeça, coluna...

— Pela cabeça. — Falei sem pestanejar — A dor sempre começa pela cabeça.

— Entendi. — Ele disse — Seus pais apresentam sintomas semelhantes, ou algum familiar próximo?

— ... — Fiz silêncio, em dúvida se deveria explicar. Damian parecia ter percebido, pois segurou minha mão por debaixo da mesa e sussurrou ao meu ouvido: "seja honesta". Respirei fundo e comecei:

-- Sou adotada, meus pais biológicos também sofriam de intensas dores.

-- E o que aconteceu com eles? – questionou.

In my Mind -- Anya X DamianOnde histórias criam vida. Descubra agora