drawings

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woodwork

Eu posso viver com isso, eu estou bem.
Eu não posso viver com isso, eu não estou nada bem.

Meu travesseiro parece a porra de uma poça d'água e parece que todo o esforço que meus amigos fizeram para me ajudar mais cedo, fora em vão.

São duas da manhã e tudo o que consigo fazer é chorar e pensar no babaca do Louis, o que não ajuda em nada. Eu preciso estar de pé e recomposta às seis da manhã e isso não vai acontecer se eu continuar a chorar igual uma filha da puta, isso só irá fazer meu rosto ficar mais inchado. E acredite em mim quando eu digo que isso não é possível, pois o mesmo parece ter sido ferroado por um enxame de abelhas.

E como se não pudesse piorar, eu sonhei com Louis, um sonho patético e sem sentido que, em outras circunstâncias, eu arriscaria dizer que na verdade, foi uma lembrança, mas isso não faria o menor sentido.

A pior parte de estar certa em uma discussão e sofrer com isso, é que você sequer pode resolver a situação com um pedido de desculpas, porque isso não depende de você.

Ok, isso já está ficando insuportável e dolorido, e acima de tudo, já posso sentir as lágrimas voltando. Preciso ocupar minha mente com outra coisa.

Passo meu olhar pelo quarto que ainda está com as luzes acesas, analisando cada mínimo detalhe em busca de algo para fazer. Mas aqui não tem nada. O lugar em que realmente pode ter algo interessante é o porão, e apesar de ele ser mais como uma segunda casa, e não aqueles lugares assustadores de filmes, eu tenho medo de ir até lá. Na realidade, mais preguiça do que medo.

Respiro fundo antes de colocar os pés no chão frio, mesmo que isso seria um ótimo motivo para ter minha mãe gritando comigo se ela me visse assim, é uma ótima distração.

Me sentindo uma espiã daquele filme da Barbie, me esgueiro até a cozinha na ponta dos pés, parando na geladeira para roubar um pote de sorvete de doce de leite com flocos. Já destampo o pote aqui mesmo e pego uma colher para descer comendo.

Caminho até a escada que leva ao porão, distraída com meu sorvete, pensando que esse é um ótimo cenário para um filme de terror: uma garota deprimida por um idiota que sequer era seu namorado, descendo para o porão sozinha depois de não conseguir dormir.

Faço uma nota mental para não assistir mais filmes tão frequentemente.

Assim que chego ao fim da escada, evito olhar para os lados antes de apertar o interruptor, pois sei o quanto meu cérebro gosta de me enganar no escuro.

Assim que as lâmpadas ganham vida, o amplo cômodo com paredes pintadas em tons claros se destaca. Dou uma leve analisada para garantir que nenhuma Annabelle ou Pennywise está a espreita e caminho até o sofá da sala de lazer, me jogando lá e dando mais atenção ao sorvete do que em realmente procurar algo para fazer.

Distraidamente, meus olhos acabam parando em um caixa com meu nome escrito, e só isso já é o suficiente para me fazer largar o sorvete e ir até ela.

Me ajoelho ao lado da caixa que sequer está lacrada, começo a abri-la, me deparando com brinquedos e pelúcias antigas, se estivesse de tmp, poderia até chorar por isso.

No meio de bonecas Barbie, Pollys e Lego, eu encontrei algo que eu nem lembrava da existência: meus diários de infância. Eles começaram quando eu era bem, bem pequena, mesmo que fossem só desenhos aleatórios, mas começaram pra valer quando a terapeuta falou que essa era uma técnica muito usada com crianças, pois os traumas e as áreas que precisavam ser trabalhadas ficariam mais evidentes em desenhos e anotações do meu dia a dia.

❛𝗻𝗼𝘁 𝘁𝗵𝗶𝗻𝗸𝗶𝗻' 𝗯𝗼𝘂𝘁 𝘆𝗼𝘂❜Onde histórias criam vida. Descubra agora