❛𝗻𝗼𝘁 𝘁𝗵𝗶𝗻𝗸𝗶𝗻' 𝗯𝗼𝘂𝘁 𝘆𝗼𝘂❜

miss Tames

eu sempre deixo claro na introdução das minhas histórias que independente do conteúdo, eu nunca coloco avisos de possíveis gatilhos, entretanto, esse capítulo está um pouco mais delicado e aconselho que, caso se sinta desconfortável, não continue a ler.

𖧷

Acordo com vozes altas vindo da cozinha.

Me remexo na cama com sono demais para conseguir assimilar o que está acontecendo.

Esfrego meus olhinhos com as mãos e lentamente me acomodo para sentar-me na cama ao perceber que as vozes não irão abaixar.

Antes que me esqueça, olho para os lençóis bagunçados e pego o senhor Orelhas, abraçando a pelúcia cor de rosa enquanto pulo da cama, batendo os pés descalços no piso frio.

Não perco tempo olhando na direção da cama dos meus pais, as vozes muito altas na cozinha deixam claro que já não estão dormindo no mesmo cômodo que eu há algum tempo.

Com passos curtos e silenciosos, caminho devagar tentando encontrá-los.

— Ivan, eu não vou ficar em casa cuidando dessa criança! Eu sou jovem e mereço aproveitar a minha vida, e isso não inclui passar vinte e quatro horas por dia aturando uma criança birrenta e insuportável.

Paro no meio do corredor quando um barulho alto, de algo se chocando contra o chão, segue a voz de mamãe.

— Eu não dou a mínima! Eu não mandei você engravidar.

— Eu tentei abortar e você impediu!

Franzo o cenho tentando entender sobre o que estão discutindo e caminho até o batente da porta, me escondendo ali atrás e abraçando o senhor Orelhas mais forte quando vejo mamãe e papai na cozinha, estilhaços de algo transparente cobrindo todo o chão.

Papai solta uma risada alta.

— Você iria morrer se fizesse aquela porra em casa!

— Se ela houvesse morrido comigo, garanto que teria valido a pena.

Um silêncio desconfortável e repentino preenche o ambiente. Levo alguns segundos para perceber o peso de olhares cortantes sobre mim.

— O que está fazendo acordada? — papai é o primeiro a perguntar. Sua voz não demonstra raiva, mas também não parece feliz em me ver.

Diferente de mamãe, que acaba de revirar os olhos e me dar as costas, ele as vezes faz um esforço para não deixar claro o quanto minha presença os encomoda.

— Hm, eu ouvi alguns barulhos, papai. — digo baixinho encarando sua expressão dura.

Mamãe se vira com tudo na nossa direção. Seu rosto tão vermelho que parece prestes a pegar fogo.