the other Rachel

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Baumann

— Hm eu não acho que seja uma boa ideia. Toma isso daqui.

Sequer tenho tempo de raciocinar antes que o pacote de bala Fini seja tomado e substituído por uma barrinha nutritiva e uma garrafa de água.

Respiro fundo e encaro a água e o cereal em minhas mãos, ainda parada no meio da cozinha, passo a língua no interior da bochecha, me controlando ao máximo para não enfiar aquelas duas coisas bem no meio da...

— Rachel? Rachel!

Me viro para Elara ao perceber que ela estava falando comigo.

— Você está meio distraída hoje, não acha? — ela soltou uma risadinha, ignorando completamente todos os acontecimentos de hoje mais cedo.

Ela é especialista nisso.

— Não. — digo sem ao menos tentar parecer simpática.

— Isso não é importante, mas sabe que que é? — ela passou a unha do indicador na borda da ilha de mármore no centro da cozinha, saindo de onde estava e vindo para perto de mim.

Vai começar. Socorro Deus.

— Não sei não, mas tenho certeza que você irá me contar. — reviro os olhos jogando a barrinha nutritiva na ilha e abrindo a porra da garrafa de água, bebendo um longo gole logo em seguida.

Elara não conseguiu disfarçar muito bem a careta que fez diante a minha fala, mas ela é uma atriz digna de Hollywood, então é claro que deu um jeito de consertar sua expressão facial o mais rápido possível.

— O Partridge estava bem junto da Tames hoje, não?

— Aham, e?

— E? Bom, eu pensei que vocês tinham algo.

— Eu e a Tames? Ah sim, por pouco, mas infelizmente nada poderá acontecer já que aparentemente compartilhamos o mesmo sangue. Sorte a dela por ter conseguido se livrar dessa família problemática. — sussurei a última parte, aproveitando seu momento de choque para pegar de volta o pacote de balas de sua mão e subir para o meu quarto.

A Rachel Baumann de meses atrás provavelmente não teria feito isso, desobedecer Elara em relação à minha alimentação, jamais, em hipótese alguma.

Mas eu acho que já passou da hora de deixar de ser uma idiota manipulável. Já me deixei ser a marionete de Elara por tempo demais, e por mais que pensar em despertar a ira dessa mulher me assuste, a ideia de passar o resto da vida apenas fazendo suas vontades e ignorando o que realmente quero, me assusta ainda mais.

Querido diário mental;

O ponto alto de hoje, foi quando eu ignorei a opinião da minha mãe e comi o que eu realmente queria!

𖧷

Gosto de voltar a episódios da minha vida que já aconteceram, exatamente como se eu vivesse em um seriado norte americano. Costumo fazer isso com o que tenho, obviamente e infelizmente, não tenho o controle de voltar ao passado, mas tenho um celular e um cérebro.

Quando não estou relendo conversas que já aconteceram pelo celular, tento usar minha memória ao máximo para me lembrar de acontecimentos que de fato vivenciei.

É uma forma de ver minha evolução como pessoa, minhas mudanças de personalidade - a Rachel que é uma marionete e a Rachel que é ela mesma.

No entanto, existe uma pessoa em específico em que evito o máximo possível não reviver esses momentos, memórias, episódios da série "rachel's manipulative life".

Louis Partridge é essa pessoa.

Não consigo, ou melhor, não gosto das nossas memórias como um todo. Porque todas são da Rachel que não sou eu, e eu tenho nojo dessa Rachel, eu sinto repulsa dessa versão de mim mesma.

Acho que a única vez em que fui eu mesma, a versão da Rachel Baumann que eu gosto, com Louis, foi quando o ajudei com o pedido de desculpas/namoro para Tames.

Todas as outras, incluindo e principalmente à de quando namoramos por um curto período de tempo, são falsas. São falsas porque não são memórias que eu criei, são memórias onde a outra Rachel usava uma pessoa por seu status social.

E isso é algo desprezível, principalmente porque eu nunca sequer gostei de Louis em uma forma romântica, nunca me senti verdadeiramente atraída por ele.

Ele é um garoto lindo, mais do que lindo, não tenho como negar isso. Mas não faz o meu tipo.

As vezes, quando o peso da culpa parece prestes a me sufocar, gosto de pensar que ele também me usou durante o nosso curto e desastroso relacionamento.

Louis não gostava de mim, exatamente como eu não gostava dele, foi apenas aquela pressão idiota que meninos adolescentes recebem para terem alguma coisa com alguma garota ao invés de ficar solteiro.

Isso era óbvio e quase transparente pela forma como nos tratávamos, a forma como nos beijaáamos e a forma com que tentamos nos fazer acreditar que aquilo era real e tentamos nos peg... Ok.

Eca. É nojento pensar nisso, porra! Ele é o namorado da Tames, é horrível pensar nisso.

Meu momento de reflexão jogada na cama enquanto encaro o teto branco com o lustre no meio é interrompido por uma batida na porta.

Uma batida extremamente baixa e leve, devo acrescentar.

Abro a porta com um sorriso discreto sobre os lábios já imaginando quem seja.

— O que é que você quer dessa vez? — finjo tédio ao revirar os olhos e encarar as minhas unhas, usando o canto dos olhos para encarar meu irmãozinho rindo da brincadeira.

Entrando na brincadeira, Ryan arruma a postura e tenta engrossar a voz, o que só o deixa ainda mais fofo.

— Eu gostaria... Não. Eu exijo! Que você assista Enrolados comigo e me deixe enrolado no cobertor da sua cama igualzinho um burrito enquanto você faz a pipoca!

Reviro os olhos de uma forma engraçada já que Ryan não perde tempo em rir, e aproveito sua distração para agarrar suas pernas e jogá-lo por cima do meu ombro igual a um saco de batatas.

— Nãoooo!

Ignoro seus gritos e corro com ele para dentro do meu quarto, rindo verdadeiramente enquanto ele se agita sobre meu ombro.

Sou imensamente grata a Ryan por me proporcionar esses momentos de felicidade genuína, espero conseguir fazer o mesmo por ele.

— Rachel! Eu vou te morder!

— Morde então ué, tá esperando o quê?

Antes que ele aproveite a oportunidade de usar aqueles dentinhos afiados para machucar a minha pele, o jogo no meio das almofadas sobre o colchão macio da minha cama.

Rio do seu gritinho assustado quando seu corpo se choca contra o colchão e desvio quando ele joga uma almofada com o intuito de me acertar.

— Se você me machucar com uma almofada, quem vai te enrolar no cobertor igual a um burrito e quem vai fazer a sua pipoca? O que você faria sem mim, ein?  — pergunto dramaticamente ao pular na cama ao seu lado.

Ryan para por alguns segundos, olhando pensativo para o teto como se imaginasse uma realidade paralela onde eu não exista.

Após alguns segundos, seu rostinho vai lentamente mudando para uma expressão mais suave e insegura. Quando me dou conta, Ryan já está engatinhando na minha direção igual a um bebê e pulando sobre mim em uma espécie de abraço sufocante, onde suas perninhas se enrolam na minha cintura e seus braços circulam meu pescoço.

— Nada, Rachel, eu não faria nada sem você, porque se você não estivesse aqui, eu também não estaria. Eu não seria nada.

𖧷

lina;

mt obrigada pelos 100K de leituras, sou mt grata por toda a felicidade que vcs me proporcionam, e sinto mt por não estar mais tão motivada a escrever e deixar vcs esperando 💝

❛𝗻𝗼𝘁 𝘁𝗵𝗶𝗻𝗸𝗶𝗻' 𝗯𝗼𝘂𝘁 𝘆𝗼𝘂❜Onde histórias criam vida. Descubra agora