14- Ilusão montada

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Um garotinho de cabelos escuros estava sentado no jardim de casa lendo um livro. O livro era repleto de imagens, muitas frases. Era sobre pós vida. Bem estranho para um jovenzinho de quinze anos ler?? sim, quem sabe. Porém, após a perda de seu amigo Kita, Sakusa lia aquilo com frequência, talvez em uma forma de tentar se consolar e convencer que o amigo parou num lugar melhor.  Era isso que passava por sua cabeça algumas noites antes de dormir. 

Sem amigos, nada de novos amigos, mal falava com os dois que já tinha, mal ficava com eles, não precisava mudar o que tinha. Estava bom, estava sendo suficiente para ter controle e o que queria já teria perdido. Os seus pais observavam Kiyoomi ler algumas tardes e pensavam que era o momento de luto do filho, um momento quem sabe muito longo...mas cada um tem sua forma de lidar com a morte, não tem? sim, cada um tem. Sakusa não chorava, ele não falava sobre, se isolava e agia como se o dia fosse como qualquer outro e fim. Era uma criança ainda, o que precisava?

—Querido, Komori e Suna o convidaram para passar o fim de semana num acampamento, não quer ir? vai ter varias outras crianças da sua idade lá, tem jogos, vai ser divertido. Quem sabe pode ter novos amigos.

Shin chegava com jeitinho ao lado do filho, se sentando de joelhos no chão para ficar um pouquinho na altura do filho que não desgrudou os olhos do livro, negando ao convite  com a cabeça. Ao canto, bem na entrada daquela sala, encostada na parede, sua mãe estava observando tudo com receio de falar, seu marido a olhou com uma expressão infeliz de quem tinha falhado, a esposa murmurou para ele não ser fraco e insistir um pouco mais. Shin respirou fundo, voltando a olhar o filho.

— Gosta de ler como o seu pai, entendo, mas leitura agora não é tão divertido quanto seus amigos, não acha? Pense, pode fazer tantas coisas legais lá. Komori e Rintaro estão com saudades, sabia? 

— Eles não precisam de mim, podem aproveitar o tempo que tem entre si agora e depois nos resolvemos.— Sakusa continuava olhando aquele livro.

—Filho, você precisa reagir de alguma forma, sua mãe e eu estamos assustados. Você entende?Estamos aqui para aguentar contigo o que for ruim ou bom, se precisar chorar estamos para te dar nosso colo, para dar nosso apoio... mas precisamos que você fale.

O castanho tirou o livro das mãos do filho e Sakusa o olhou nos olhos. Aqueles olhos preocupados...Sakusa acorda.

O rapaz estava passando do seu horario de dormir para esperar os pais chegarem do trabalho. Eles sempre chegavam tarde da noite e Sakusa já tinha ido dormir pelo menos duas horas ou três antes disso. Queria conversar com eles enquanto sabia o que dizer e tinha coragem, então decidiu esperar, mas não contava em cair no sono e ter o sonho de algo que na verdade era uma lembrança doce de sua infância. Bom, sendo bem sincero, não lembrava tão bem de como seus pais ficaram preocupados. Na realidade, aquela não foi a unica vez ou a última, mas...É que Sakusa não lembrava de quase nada de sua infância.

Ele olhou em volta e notou que não estava sozinho naquele sofá, bem ao seu lado Miya estava dormindo, agarrado a um saquinho de rosquinhas povilhadas que aparentemente o plastico da embalagem foi aberto com muita violência daqueles dentinhos. Era a forma dele de se virar quando Sakusa não estava disponivel. Olhou em volta mais uma vez quando ouviu um som baixo de vento, o que era estranho já que se estivesse ventando muito, seria do lado de fora e não...claro, uma janela aberta. Kiyoomi se levantou sem acordar o gato e foi até a janela da sala, fechando e então pensando: Quando foi que eu abri isso? 

Olhou pela sala com mais detalhes, ele sabia que não abriu a janela, podia ter acordado agora, mas não estava louco. Saiu andando olhando pelo chão para quem sabe ter uma surpresa e foi quando lembrou daquele...corvo. Kiyoomi saiu correndo da sala para ir até seu quarto, o local estava da mesma forma que deixou, mas não confiava e por isso foi até a gaveta onde guardava o diário, destrancando com a chave que estava em seu bolso. Estava lá.

Sete Vidas - SakuatsuOnde histórias criam vida. Descubra agora