Capítulo Quinze

3.6K 299 1K
                                    

Quando Remus Lupin tinha cinco anos, um monstro invadiu seu quarto e o mordeu. Parece ridículo, não é? Alguma história inventada para assustar as crianças. Remus não tem certeza se acreditaria se não tivesse acontecido com ele. Mas está lá do seu lado, entre as costelas e os quadris, a marca inconfundível dos dentes. A pele branca e enrugada, a mais feia, ele pensa, de todas as suas cicatrizes.

Eu não acho que elas sejam feias, Sirius disse a ele uma vez, no terceiro ano. Eu as acho lindas.

A coisa irritante sobre Sirius Black – bem, uma das muitas – é que ele pode simplesmente dizer coisas assim. Sem pensar. Sem se importar. Tudo em Sirius é descuidado – seu cabelo, seu jeito de voar, suas palavras. Sirius age como se nada importasse. Deveria ser chato – detestável – mas na verdade, é viciante. Remus sente que nunca se cansa disso. Como se ele estivesse faminto por ele o tempo todo.

Ele se preocupa que não sejam hormônios.

Que seja o lobo.

Que um dia ele vai perder o controle e comer Sirius inteiro.

Quando Remus Lupin tinha cinco anos, um monstro invadiu seu quarto e o mordeu. Foi culpa de seu pai. Seu pai que odeia lobisomens. Que os quer mortos. Acabou com um filho como um. Vamos falar sobre a disfunção familiar.

Às vezes Remus deseja que isso tivesse acontecido mais tarde – que ele pudesse ter tido mais tempo com seus pais antes que tudo que eles vissem quando olhassem para ele fosse tragédia. Ele acha que seria mais fácil ficar zangado com eles. Mas não é. Principalmente ele só machuca eles. Eles são boas pessoas, provavelmente teriam sido bons pais. Se as coisas tivessem sido diferentes.

Ele sabe que eles tentaram por um tempo, ter outro filho. Ele supõe que é outra coisa com a qual deveria estar com raiva. Mas ele só acha que é uma pena que não tenha dado certo. Eles mereciam uma reviravolta.

Quando Remus Lupin tinha cinco anos, um monstro invadiu seu quarto e o mordeu. Foi a pior dor que ele já sentiu em sua vida - isto é, até que ele se transformou pela primeira vez. Trancado no porão. Sem janelas. Sem luz. Pisos de pedra e paredes de pedra. Seu pai havia envernizado a porta com acônito. Toda vez que Remus a tocava, sua pele queimava, mesmo quando ele não era um lobo. É um truque que seu pai usou mais algumas vezes — em seu escritório, no quarto. Precauções. No caso de Remus sair em alguma lua cheia. Caso ele venha pegá-los à noite.

A maioria das crianças pede aos pais que verifiquem se há monstros debaixo de suas camas. Ou em seus armários. Mas graças a Fenrir Greyback, Lyall e Hope Lupin nunca tiveram que checar. O monstro tinha já tinha vindo e ido embora, e Remus nunca pensou que qualquer outro iria visitá-lo. Porque ele não era mais um garotinho. Na verdade. Não depois disso. Ele era um lobo. Tão assustador quanto qualquer outro monstro que aparece durante a noite.


"Ok," Lily diz enquanto ela cai abruptamente no banco em frente a ele, fazendo Remus pular. Os livros que estavam em suas mãos se espalham na frente dela. "O que está acontecendo?"

Ele olha para ela por um momento antes de voltar sua atenção para o livro à sua frente. Ele terminou todo o dever de casa, agora está apenas revisando para seus NOMs...de novo.

"Olá para você também," diz ele sem levantar os olhos.

"Remus."

"Lily."

Ele pode praticamente ouvir a carranca em sua voz. "Sirius está fora do time de Quadribol, Frank está morando em seu dormitório, e vocês quatro estão evitando uns aos outros como se fossem uma maldita praga."

"Nós não estamos," Remus diz, sentindo-se particularmente defensivo sobre esse último ponto. Porque, a verdade é que ele tem evitado James e Peter, mas ele odeia estar fazendo isso, e odeia ainda mais que as pessoas tenham notado. Especialmente Lily.

ChoicesOnde histórias criam vida. Descubra agora