Capítulo Quarenta e Cinco

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PARTE I: EUPHEMIA

Março, 1960

Oh, não.

Não.

Euphemia já esteve aqui antes. Esteve aqui muitas vezes.

"Não, meu doce, não, por favor," ela sussurra, a mão colocada protetoramente sobre seu estômago enquanto outra dor percorre seu corpo.

Ela está perdendo seu bebê.

Ela está perdendo seu bebê de novo.

Mesmo em sua cabeça, esse pensamento soa como um soluço.

Fazendo uma careta, ela se levanta, sentindo algo molhado em suas coxas – sangue. É sempre sangue.

"Mimi!" ela grita o mais alto que pode, cambaleando até a lareira e agarrando o manto. Há uma rachadura no ar e o elfo doméstico aparece ao lado dela, olhando para cima com grande preocupação.

"Você pode ir ao escritório do Sr. Potter, por favor," ela diz com dificuldade. "Diga a ele—diga a ele—" seus olhos se fecham brevemente. "Que eu vou ao St. Mungus. Ele vai saber o que aconteceu," eles já passaram por isso o bastante.

O elfo doméstico assente. "A senhora tem certeza de que não quer que Mimi vá com ela?"

Ela oferece ao elfo um sorriso tenso. "Eu vou ficar bem, mas obrigada."

O elfo acena com a cabeça antes que haja outro estalo e ele desapareça. Depois de algumas respirações difíceis, Euphemia joga um pouco de pó de Flu no fogo e passa. Ela está com muita dor para aparatar.

Euphemia Potter sempre sonhou em ser mãe. Ela quer uma dúzia de filhos, quer uma casa cheia de caos, com sons de pezinhos batendo no chão e pequenas vozes rindo e mãozinhas se metendo em encrencas. Ela fez listas das coisas que quer mostrar aos filhos, os lugares que ela quer levá-los e as coisas importantes que ela quer que eles saibam. Ela está tão pronta para isso. Há anos. Décadas.

Nunca lhe ocorreu que seria tão difícil.

Que seu corpo era um lugar onde nada podia crescer.

Os abortos parecem intermináveis. Cada perda deixando ela e Fleamont um pouco menos esperançosos. Eles tentaram de tudo – todas as poções e feitiços e amuletos – nada parece capaz de lhes dar um filho. Mas desta vez. Desta vez realmente tinha sido diferente. Ela nunca tinha carregado um bebê por tanto tempo antes.

Quando ela chega ao St. Mungo's, ela é conduzida a uma sala privada. Medibruxos executam seus diagnósticos e prometem a ela que a Curandeira estará com ela logo antes de deixá-la sozinha. Euphemia está sentada na cama, os braços embalando seu estômago de baleia enquanto ela tenta não chorar. Em vez disso, ela fecha os olhos, respira fundo e faz uma lista de todas as coisas em sua vida que a fazem feliz. Ela tenta se lembrar que este momento não vai durar para sempre e essa dor vai desaparecer eventualmente, mesmo que isso pareça impossível agora.

"Eu te amo tanto," ela sussurra. "Mesmo que esse seja todo o tempo que temos juntos, quero que você saiba que eu não te amo menos," sua voz treme levemente, mas ela se conforta com o conhecimento de que ninguém está por perto para ouvir.

Alguns minutos depois, a porta se abre e Euphemia olha para cima para ver seu marido exausto entrando no quarto. Cabelos castanhos esvoaçantes — estão mais compridos do que nunca, bem além das orelhas e a caminho dos ombros. Isso o faz parecer jovem.

"Desculpe," ele se derrama, vindo para o lado dela e beijando o topo de sua cabeça enquanto ele envolve seu braço ao redor dela. "Vim assim que pude."

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