Capítulo 5

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Ooh my honey
You got me workin' day and night
Ooh my sugar
You got me workin' day and night

   Foram mais de quatro semanas desde o encontro de Carmen com Bill e a conversa de Michael e Janet no lago. A reforma ainda não estava completa, mas a ansiedade do rapaz, e a paciência com todas as discussões em Hayvenhurst, tinham chegado ao limite. Ele iria se mudar. Diante disso, a equipe de funcionários do rancho, batizado de Neverland, havia sido convocada: todos deveriam estar, de mala e cuia, no dia seguinte, prontos para o trabalho.

Carmen era uma das mais jovens da equipe de cerca de 30 pessoas chamadas naquele momento. Na casa principal eram 15, isso sem contar o pessoal da segurança. Todos pareciam animados e o clima era tranquilo. Logo pela manhã todos deixaram as malas em frente a casa, fizeram um tour inicial, tiveram um café de boas vindas e foram apresentados aos seus quartos, bem confortáveis, diga-se de passagem: era um alojamento que ficava praticamente ao lado da casa principal. No entanto, Jorge, o chefe dos empregados pediu que não desfizessem as malas, pois alguns seriam designados para os aposentos de empregados do interior da casa principal, e essa informação já gerou uma certa tensão.

- Provavelmente os mais experientes... - especulavam uns.

- Ou só gente treinada em segurança... - diziam outros.

Jorge pediu que todos se reunissem na enorme sala de estar e começou a passar algumas coordenadas... Entre algumas chatices previsíveis, de "vocês todos são extremamente bem qualificados e recomendados", e outras questões óbvias como "a confidencialidade é ponto chave em nosso trabalho'', vieram pontos interessantes:

- A ideia de Neverland não é ser apenas uma casa para o senhor Jackson. Ele quer que aqui seja um local para receber crianças de orfanatos, hospitais, abrigos... Então não será incomum recebermos muitos visitantes e termos excursões neste local. Não esperem uma casa comum. O senhor Jackson não é mais um ricaço como os outros para quem vocês trabalharam. - explicava Jorge, de modo muito claro.

Após alguns burburinhos, o mordomo começou com a parte prática, que é a que todos queriam de fato ouvir:

- Pessoal, a divisão de setores foi decidida pensando no  histórico de trabalho de vocês e no que cada um mostrou de potencialidade na entrevista e nos testes, ok? Nada é definitivo, e claro que algumas coisas podem ser trocadas ou mantidas conforme pedidos do senhor Jackson.

Jorge foi escalando as pessoas. Ele tinha algumas fichas nas mãos e ia chamando cada um e entregando este papeis, nos quais tinha a indicação do setor que a pessoa trabalharia, as orientações e procedimentos, horários e demais informações, além do local do alojamento. Alguns saíam mais felizes, outros meio insatisfeitos, outros aliviados. Quando Jorge escalou uma senhora meio gordinha para o andar térreo da casa principal, ela protestou:

- Oh não! Me deixe ficar com a parte de cima senhor Jorge! Eu sou camareira há muitos anos! Nada contra você menina - disse olhando para Carmen - mas acho que isso precisa ser feito por alguém experiente.

Carmen, assim como todos, já tinha feito o tour pela casa. Havia apenas um quarto no térreo. Na parte de cima eram mais... Nossa, muitos quartos, todos enormes. A moça já não se lembrava quantas suítes. Sem contar a demais salas que se tornariam outros ambientes no futuro...

Por que raios essa mulher queria ficar com a parte de cima?

Jorge estreitou os olhos e Carmem podia apostar que ele não gostou do que a senhora gordinha disse, por isso, se surpreendeu quando acatou o pedido da mulher, que se chamava Eleonor.

- Ok Eleonor. Pode ficar com os quartos de cima... Carmen, você cuida do quarto do térreo, só o quarto. É o quarto do senhor Jackson. Só você entra nele, tanto para limpeza, arrumação, levar refeições quando necessário, e tudo mais. Cuidará inclusive da arrumação do closet, da organização das roupas, enfim, de toda essa parte. Seu quarto será o aposento interno de empregada, fica do lado oposto da casa. Tem um interfone para que ele te chame se precisar. Depois combinaremos as questões de lavanderia e horários de refeições que podem ser bem específicos.

Queixos caíram... Mas Carmen não conseguiu deixar de sorrir, ainda que discretamente.

Depois que todos foram se dispersando, muitos a olhando com uma certa inveja, ela presumia, Jorge a chamou em particular:

_ Carmen, aqui estão as chaves. São três cópias: uma minha, uma sua e uma dele. Só nós três temos. Eu e você só entramos quando ele não está, para arrumação, ou quando somos solicitados. Eu deixaria Eleonor nisso pela experiência dela, mas pela atitude dela e conhecendo o senhor Jackson, acho que não se dariam bem. Você também tem experiência neste tipo de trabalho e sua tia trabalhou com ele, então creio que você possa dar conta. Vá entrando lá e se familiarizando com o espaço. Já aviso: está uma bagunça.

Ao entrar no quarto e fechar a porta atrás de si, Carmen ainda não tinha muita ideia do que fazer.

O quarto em si não lhe parecia grande coisa... Quer dizer, ele só era isso mesmo: grande. Tinha dois andares e muitas caixas, várias roupas espalhadas, roupas de cama, almofadas e muitos objetos que não pareciam ter nenhum sentido, nem juntos e nem separados... As orientações de Jorge para ela foram específicas e claras:

- Agora aquele quarto é incumbência sua. Azar da Eleonor, ou sorte... Depende... Está um caos! Não abra as caixas, mas o que está fora, tente ajeitar, coloque nos armários, ajuste na mobília. Faça o possível para estar apresentável. Ele virá hoje a noite ou amanhã, ainda não sabemos.

Agora ela estava ali, às 9h da manhã, presa dentro do quarto de Michael Jackson, com um monte de tralha dele, e sem ele para lhe dizer o que era tralha de fato ou não.

Michael Jackson - ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora