I never knew, but i was walking the lineCome go with me, I said I have no time
And don't you pretend we didn't talk on the phone
Dona Remy estava muda ao telefone, e isso era um mau sinal.
- Vai tia, fala alguma coisa, nem que seja para me xingar.
- Você está fazendo a pior coisa a se fazer, menina. Onde já se viu? Ficar de conversa com o moço deste jeito! Isso não vai dar certo para você, não tem como dar...
No fundo, Carmen sabia que a tia estava coberta de razão. Sabia que, mais hora, ou menos hora, os outros empregados da casa saberiam dos lanches noturnos e, aquilo que era um burburinho - o fato dela ser a empregada que dormia dentro da casa - ia virar um baita rumor, e para virar um boato e do boato algo pior, era fácil.
E aí, já era emprego. Afinal, ela era a parte mais frágil e que facilmente arrebentaria.
No entanto, o que mais surpreendia Carmen quando ela se pegava pensando neste fatídico dia é que o que mais fazia seu coração doer não era pensar em perder o emprego em si, mas pensar em não vê-lo mais, não estar ali para preparar-lhe o horrendo sanduíche e ouvir suas ideias malucas para o rancho e pensamentos profundos... A ideia de perder a companhia de Michael já começava a doer-lhe na alma.
- Tia, a senhora está coberta de razão, mas eu não pedi para estar ali, naquele posto. Também não estou fazendo nada errado... Além do mais...
- Além do mais, você está bem gostando. Não é difícil gostar dele. - concluiu a tia, pouco antes de desligar o telefone.
Michael estava ansioso para entregar seu presente e conhecer a simpática senhora que tomava conta de seu quarto. Tinha conseguido chegar mais cedo das reuniões daquele dia, tinha passado na casa da mãe, pegado o presente e mais algumas caixas e estava determinado a agradecer os cuidados, afinal, ela era paga apenas para limpar seu quarto, mas seus pequenos mimos - os docinhos escondidos, os bilhetinhos de motivação, o perfume de lavanda nas roupas - o fazia ter uma sensação de ser realmente amado, ainda que por uma pessoa que só estivesse ali fazendo muito, muito bem o seu trabalho, mas ainda assim ele admirava isso.
Subiu as escadas a passos largos. Eram 17h horas e esperava realmente encontrá-la lá. Ele não a conhecia, mas tinha uma visão construída dela em sua mente... Uma avó... Uma mãe...
Passou quase correndo por Jorge, que o recepcionou na porta.
- Olá senhor Michael! Chegou cedo! Creio que seu quarto ainda esteja sendo preparado. - disse o mordomo, com ares de preocupação, mas Michael não parou para ouvi-lo.
- Ah! Ótimo, não tem problema! Qual o nome da senhora que toma conta do quarto Jorge? Quero falar com ela já tem uns dias... - disse o rapaz, tudo isso sem parar nem um minuto.
Jorge seguia em seu encalço.
- Há algum problema, senhor? Algo que não está do seu agrado? Posso realocar a pessoa que está cuidando dos seus aposentos...
- Não! - disse Michael, parando pela primeira vez, agora quase na porta do quarto - Eu estou adorando o trabalho dela! Quero presenteá-la. Onde ela está?
Ao dizer isso, entrou abruptamente pelo quarto, quase matando de susto a "senhorinha" que terminava de colocar o último pacote de balas de goma embaixo do travesseiro antes de sair.
- Senhor Jackson! Chegou cedo! - disse Carmen, quase com vergonha, como se estivesse sendo pega fazendo algo que não devia.
Michael olhou em volta, sem entender muito bem. Parecia continuar procurando a "senhorinha".
- Ahãm... - pigarreou o mordomo - Senhor Michael, é a senhorita Vila Real que tem tomado conta de seu quarto desde o primeiro dia. Algo que o senhor gostaria de ajustar? - disse Jorge, com uma pitada de orgulho na voz.
Tanto orgulho que não notou que os dois jovens se olhavam com um sorriso tímido e doce ao mesmo tempo.
- Não Jorge. Não tenho absolutamente nada a ajustar. Carmen é perfeita. Digo... O trabalho dela é perfeito.
- Muito obrigada senhor Jackson... Fico feliz que esteja gostando.
Alguns segundos de silêncio encheram o ar. Ninguém sabia parecer o que fazer. Foi Jorge, claro, quem quebrou o momento.
- Bom, Carmen, já terminou aqui? Acho que pode ajudar a Eleonor com os quartos lá de cima...
- Não. - interrompeu Michael. - Digo, eu trouxe outras caixas e, se Carmen puder me ajudar a ajustar as coisas aqui, eu agradeceria. Pode ser? - Perguntou, direcionando sua última fala diretamente para Carmen, que parecia meio perdida, entre quem obedecer... Mas não era preciso pensar muito.
- Claro, senhor Jackson.
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Michael Jackson - Improvável
FanfictionSerá que uma pequena mudança, uma única decisão diferente, de um único personagem da narrativa da vida poderia ter feito os rumos de uma história mudar completamente? Carmen, assim como tantos brasileiros, fugiu da vida escassa do lado Sul da Améri...