Capítulo 8

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I never knew, but i was walking the line

Come go with me, I said I have no time

And don't you pretend we didn't talk on the phone


Dona Remy estava muda ao telefone, e isso era um mau sinal.

- Vai tia, fala alguma coisa, nem que seja para me xingar.

- Você está fazendo a pior coisa a se fazer, menina. Onde já se viu? Ficar de conversa com o moço deste jeito! Isso não vai dar certo para você, não tem como dar...

No fundo, Carmen sabia que a tia estava coberta de razão. Sabia que, mais hora, ou menos hora, os outros empregados da casa saberiam dos lanches noturnos e, aquilo que era um burburinho - o fato dela ser a empregada que dormia dentro da casa - ia virar um baita rumor, e para virar um boato e do boato algo pior, era fácil.

E aí, já era emprego. Afinal, ela era a parte mais frágil e que facilmente arrebentaria.

No entanto, o que mais surpreendia Carmen quando ela se pegava pensando neste fatídico dia é que o que mais fazia seu coração doer não era pensar em perder o emprego em si, mas pensar em não vê-lo mais, não estar ali para preparar-lhe o horrendo sanduíche e ouvir suas ideias malucas para o rancho e pensamentos profundos... A ideia de perder a companhia de Michael já começava a doer-lhe na alma.

- Tia, a senhora está coberta de razão, mas eu não pedi para estar ali, naquele posto. Também não estou fazendo nada errado... Além do mais...

- Além do mais, você está bem gostando. Não é difícil gostar dele. - concluiu a tia, pouco antes de desligar o telefone.

Michael estava ansioso para entregar seu presente e conhecer a simpática senhora que tomava conta de seu quarto. Tinha conseguido chegar mais cedo das reuniões daquele dia, tinha passado na casa da mãe, pegado o presente e mais algumas caixas e estava determinado a agradecer os cuidados, afinal, ela era paga apenas para limpar seu quarto, mas seus pequenos mimos - os docinhos escondidos, os bilhetinhos de motivação, o perfume de lavanda nas roupas - o fazia ter uma sensação de ser realmente amado, ainda que por uma pessoa que só estivesse ali fazendo muito, muito bem o seu trabalho, mas ainda assim ele admirava isso.

Subiu as escadas a passos largos. Eram 17h horas e esperava realmente encontrá-la lá. Ele não a conhecia, mas tinha uma visão construída dela em sua mente... Uma avó... Uma mãe...

Passou quase correndo por Jorge, que o recepcionou na porta.

- Olá senhor Michael! Chegou cedo! Creio que seu quarto ainda esteja sendo preparado. - disse o mordomo, com ares de preocupação, mas Michael não parou para ouvi-lo.

- Ah! Ótimo, não tem problema! Qual o nome da senhora que toma conta do quarto Jorge? Quero falar com ela já tem uns dias... - disse o rapaz, tudo isso sem parar nem um minuto.

Jorge seguia em seu encalço.

- Há algum problema, senhor? Algo que não está do seu agrado? Posso realocar a pessoa que está cuidando dos seus aposentos...

- Não! - disse Michael, parando pela primeira vez, agora quase na porta do quarto - Eu estou adorando o trabalho dela! Quero presenteá-la. Onde ela está?

Ao dizer isso, entrou abruptamente pelo quarto, quase matando de susto a "senhorinha" que terminava de colocar o último pacote de balas de goma embaixo do travesseiro antes de sair.

- Senhor Jackson! Chegou cedo! - disse Carmen, quase com vergonha, como se estivesse sendo pega fazendo algo que não devia.

Michael olhou em volta, sem entender muito bem. Parecia continuar procurando a "senhorinha".

- Ahãm... - pigarreou o mordomo - Senhor Michael, é a senhorita Vila Real que tem tomado conta de seu quarto desde o primeiro dia. Algo que o senhor gostaria de ajustar? - disse Jorge, com uma pitada de orgulho na voz.

Tanto orgulho que não notou que os dois jovens se olhavam com um sorriso tímido e doce ao mesmo tempo.

- Não Jorge. Não tenho absolutamente nada a ajustar. Carmen é perfeita. Digo... O trabalho dela é perfeito.

- Muito obrigada senhor Jackson... Fico feliz que esteja gostando.

Alguns segundos de silêncio encheram o ar. Ninguém sabia parecer o que fazer. Foi Jorge, claro, quem quebrou o momento.

- Bom, Carmen, já terminou aqui? Acho que pode ajudar a Eleonor com os quartos lá de cima...

- Não. - interrompeu Michael. - Digo, eu trouxe outras caixas e, se Carmen puder me ajudar a ajustar as coisas aqui, eu agradeceria. Pode ser? - Perguntou, direcionando sua última fala diretamente para Carmen, que parecia meio perdida, entre quem obedecer... Mas não era preciso pensar muito.

- Claro, senhor Jackson.

Michael Jackson - ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora